terça-feira, 30 de dezembro de 2014

A flora bruma preta agora
que do nervosismo nasce
centenas de mosquitos hirtos,
mendigando medos que não têm dedos
mas só olhos que vêem,
vêem e nada dizem.

Que na antecipação
sofre o anterior à máscara
e de máscara não mascára mais sua máscara:
vê-se perdido de estar afinal tão certo,
tão certo de estar a viver.

Viver não é certeza ó animal!

Que animal é o que és tu
e sê-lo em cortesia civilizacional
é de uma elegância tal
que todo o mundo jubila
de tua alienação.

Ri de quem te ria
pois assistem a tua mágoa
- de não saber -
quando o que eles queriam era ser,
ser assim,
assim como tu te estás a não ver.

Qual de medos avançados
não dança loura e crua a verdade
de sem saber descobrir o que há de ser.

Pois sendo se não repara
e só a hora do embate, partida despedida,
logra a cara dessa alma
vivida.

Mas ter está para ser
como É afinal.
E o que É,
de tão raro ser,
fica para ser por esquecer
e perder - lembrar a perda com orgulho
e segredo de individualidade bruta
mas não acariciada por vida outra.

(Falo em metástases para o "outro" entender.)

Fica escuro quando a luz nova está por perto a vir
e recorre o vendaval da vida ser absolutamente imprevisível.

Deixa o medo ser quem é
que o tempo mostra à vida
o que nele se esconde demais.

Só brisa...

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Olhando pela janela
vejo o horizonte
- ele maior que eu.

Como desde pequeno
queria ser grande
resolvi um dia
tentar lá fora
deixando a imaginação
dentro de casa.

O frio e calor maiores
mas, cedida a tentação,
sentir o vento acaba por sê-lo
afinal.

Vi que o horizonte
não era longe mas perto.
Perto de por onde caminhava
ao encontro dele.

Vi que o horizonte
que antes achava grande
não era assim,
tinha o tamanho devido à caminhada.

Cada passo o mostrava,
não mais nem menos
mas diferente
- sempre.

Compreendi finalmente
que não há grande nem pequeno
mas somente aqui e ali.

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Se estás sempre a evitar problemas
acabas por te tornar um.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Tido de tudo para não ter
e parecendo
o calmo me assiste em ser.

Dormindo vivo o encontro que queria
e acordado me desvio dele encontrando antes o que cria
só.

Falo sorrisos e palhaçadas
e tudo me retribui atenção e festa
mas não sabem não que meu serão
é calmo, sóbrio e sobretudo silencioso.

É estranho...
Não era assim.
Não era assim com ela,
por exemplo.
Mas onde está ela?
Não sei.
Há outra?
Talvez.

Bem, num domingo estranho,
de encanto misterioso,
morro um pouco de inteligência
pois minha saúde vê-se naufragada
por arrepios e entupimentos nasais
e coisas do género.

São coisas que duram
e são coisas que acontecem
quando demais há a lidar
- enfraquece este sistema "solar"
chamado eu.

De que falo?..
Não tenho do que falar,
é isso.

Mudança a vida
e o não parar.
Inconstância perdida neste lar
de mudar de lar.

Mais caro e mais longe
mas mais quente e sossegado,
mais "bem passado"?

Pode ser.
 

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

The minute I fall I think so not
cause the hurt flows to knowledge if you let.
Bind the eyes with the wind
and fly must
for the heavy land is not to trust more.
Looking back through past and future
present unbalanced by total freedom,
no life can manage reason.
So the calm of your spirit it's all
that can bear life within you.
All eyes and imagination,
all prospects of entertainment
disconnected from responsibility and webs.
Full ignited heart but no head to show
and aim target.
No one knows
but it grows in everyone.
Together we are in this solitude
being that the new light to be shed in the world of our feet.

Behold sadness to blow forgiveness.

  

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Quando pelo lado ando,
e não tenho onde pousar meu voo,
a rua é o meu chão, serão e tela.

É onde esboço minha solidão e convívio
como se de ninho fosse o mundo.

Quando cansado,
lá durmo na cama paga
mas não é ela a do repouso da alma.

A alma sempre lá fora!

Oh noite,
toda tu,
não interessa o dia da semana,
para mim és sempre sexta-feira!

O dia tem demais atenção
e essa não deixa entrar a inspiração.

É com cuidado
que lembramos o que vem do passado
para o futuro.

E é de manhã que dança a chama do voo
- ainda mais quando dormindo.

Não, não é domingo
mas quase;
é segunda
o que é estranho
pois não houve uma primeira.

Gosto de me esconder.

É uma chatice,
é uma espécie de viver.

Vêm de lá,
lá do longe,
pessoas com notícias e outras
mas eu só sei daqui.

Sou de hábito,
resisto a toda a mudança
mas logo que ela em mim dança
amanso-a em água terna.

Do baixo colho o alto
e quando no alto
o baixo parece-me o maior dos céus.

Vou devagar para a cama.
Queria a rua mas não a há
quem comigo a der.

Que o sono me guarde sonhos
para o que der e vier.
I want the sun to shine on me
like a crazy misfit of technology.
esses olhos de horizonte espalhando-me por aí...

domingo, 14 de dezembro de 2014

Qual de vontade absoluta me loucura a imaginação em domingo de ressaca
meio que bruta.
E no tropeçar mesquinho de não ter onde ir,
nem quem escutar,
caírem-me na mesa da esplanada
personagens dúbias de minha estada
neste dia, nessa noite.
São aquelas personagens
que o álcool me conhece
e, ainda antes do pensamento,
o fenomenal convívio e a abertura ao desconhecido.
Cova da Moura é onde ele vive
(vivia em Oeiras quando o conheci)
- e com certeza o amigo que vinha com ele.
Conhecemo-nos no comboio,
linha de Cascais,
quando ainda vivia eu por lados silenciosos
e demais espaçosos.
"Tavas com o telemóvel a tocar som
enquanto dormias ferrado
e fui eu que te acordei à quarta tentativa
avisando-te de libertina conduta
e vulnerabilidade ao furto alheio".
Não me disse assim claramente
mas estou inspirado de mente,
ao que me deixo procriar absurda linguagem
e interpretação.
Boa gente certamente.
Mas interrompeu-me o serão de solidão,
o copo de cerveja e a leitura
- possível futura escrita ou desenho.
Senti-lhe a tensão
e um misto de conforto e desconforto
entre o seu sentar à minha frente
e a minha continuada leitura do que afinal me interessava ali.
Sou de sociabilidade
mas há-lhe momentos e ocasiões.
De resto gosto
- e gosto muito -
de me desaparecer por aí sozinho,
sentar ou andar sem destino
senão o talvez me perder em pensamento
outro, fora do da minha realidade "certa".

Mas o que queria dizer é que com aquela tensão,
aquela interrupção,
a inspiração se foi
e assim invés de escrever o que da mente vi
escrevo-te a ti.

(Nada se perde tudo se transforma.) 
 
"O menino é o pai do homem."

Machado de Assis

(li numa entrevista esta belíssima frase mencionada)

sábado, 13 de dezembro de 2014

Curioso como é o que se não quer
que nos faz, distraídamente, tropeçar no
que se realmente quer.

Curioso como tudo o que conheço
desconheço de livre vontade
por, simplesmente, não me querer apegar.

Curioso como assim que me sei
logo desapareço reinventado por alguém,
situação ou acontecimento.

O amanhã guarda supresas
e o ontem mais ainda
- viver de refazê-las é o segredo
para um futuro completo:
amigo da vida,
companheiro da morte.

Como uma puta virgem,
como um mendigo milionário.

Conseguir o absurdo impossível
pela gentileza e elegância da inteligência.

Dou a mão só porque quero ver o que além está
e o que esse além fará de mim é filho
e é assim.

Saber a vida é não viver.

Saber viver a vida é saber não saber.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Qual a Luz a brilhar há mais Tempo?


Viver com cinco pessoas num apartamento é duro.
Sendo uma um paneleiro que não se cala de manhã à noite
e a única rapariga ter voz de desenho animado.
Depois há um alemão, que também vive em Berlim,
que passa despercebido, um trintão espanhol professor de universidade
- também paneleiro, creio; e um outro que nunca vejo.

Fico surpreendido com a capacidade de falar desta espécie.
Falam sucessivamente catorze horas por dia ou mais.
(principalmente o paneleiro e a do desenho animado)
Será que têm espaço na mente para a contemplação?

Detesto ficar com desprezo à humanidade
- esse já me foi ninho e hoje tenho asas para voar
para longe de sítios "fechados".

Mas se meu quarto não dá para a rua
mas para um paralelepípedo de janelas
e um céu de uns míseros metros quadrados de azul,
fico prostrado a ouvir seres não reconhecidos no meu universo delicado.

Há que mudar de quarto portanto,
mais uma vez...

domingo, 7 de dezembro de 2014

Por mais dentro que piso a vida
mais humilde fico.

A simpatia toca-me mais
mas mais serenamente que antes
- antes chegava a doer -
hoje mesmo que doa um pouco
é sempre um prazer.

Caminho as ruas como um astronauta
medieval, somando e subtraindo contas
que não têm qualquer razão mas sorriem-me
na mente.

Meio pequeno imagino o grande
- aquele que deixa até de ter dimensão -
e tudo que olho e me olha é presente,
continuação.

Quanto mais deixo esta vida me torcer
e mexer, cá dentro, mais me sinto um sucinto
estudante dela.

Há que ser um velho
para trazer a criança
a correr cá para a rua da vida
única.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Não sei que noite dentro me lembra aquela
mas dia corre e sou dela,
novamente.

Vem de frente, comigo a ir de costas,
e não colhe quem pudesse, colho eu sem querer.

Quem olha sempre sorri
e espantalho aceso que colhi
não ri por mim
- rio por dentro.

Não de mais ser cristalino, puro.
O tempo é quem manda
e quem sou é ele que dita.

Veio um erro ter comigo.

Não o soube,
julguei fantasmas meus
mas eram e são reais.

Sou de mente que mente tanto
que o perigo não acciona demais o racional.

(Ou não.)

Colhe a flor do jardim
para a morrer na calçada,
enquanto anda e olha,
enquanto vive a vida com distância.

Tudo é maresia,
tudo parece mentira
quando o certo estava
tão certo...

Mas os dias passam,
as noites pesam ou voam
e os outros continuam sua jornada.

Vem comigo
ou vai contigo
e levemo-nos junto
o que sabemos.

São mistérios dos demónios sorridentes
e "malandrecos".

Oiço a tosse.
Tosse essa não minha
mas de quem deixou de colher
e se colheu a si mesmo a morte.

Oh, sair daqui.

Pois bem,
que seja ali.

Seja o que deus quiser.

(esse deus que faz de mim
uma ratoeira que já chateia). 
Fogo ao chão,
meu cão de sombra lembra uma noite escura e fria.

E tu, no longe,
és quem eu acredito.

Acredito nunca mais ver
- e por isso creio bem...

Foi ali,
ali ao pé
que me torci o pé.

Morri cedo e acordei,
sem chão onde temer,
sem vista que assistisse vertigens.

É tudo um lago.

E quando o lago seca
vem a chuva
ou há quem abra riacho de um rio.

Tornar-se rio então.

E quando esse for
(e ele vai)
encontrar o mar,
o oceano;
Ser do azul sereno entre terra e o céu
- o lado que colhe tudo afinal.

domingo, 30 de novembro de 2014

Oh decisão, decisão,
não queres decidir por mim?

Manda uma bomba,
uma catástrofe natural,
uma coisa clara e certa
que amanse a mudança incerta.

Num domingo mudar de quarto,
mudar de casa...

Prefiro amanhã.

Mas amanhã chega deveras
e torna-se hoje
e o hoje é coisa de consequências brutais!
(para o bem, para o mal).

É que é à pressa pa!

O inquilino do lado é venenoso
e o ambiente se perdeu:
deixei de ter o meu
e o vazio.

Quero do outro
mas e se o outro me colhe mal?

Leva olhares frios para se soltar de mim?
Oh pois, com certeza,
a defesa natural da sociabilidade forçada.

Oh, decisões, decisões,
o que acarretam vós!
(e o que cresce do estar aqui parado
a vos ver sentado, sem a mínima proximidade
- só fantasmas.)

O palerma sou eu, afinal.

Que do lado pode estar outro
e ser o lado meu o em que ser
independente,
crente.

Palavras não espantam realidade.
Escrever existe para quem não mete o pé à frente
e observa o que lhe cai na vida como criança com demais vista.

Portanto, escrever não
para tomar decisão.

É do vento a vida,
e se me a isto custou
há desvio e provável encontro outro
que nem espera tinha porque não prevista.

Saio porque tem de ser,
fico porque ainda acredito
(que o venenoso se esvai)?

Ah, mas há quem seja dono do dinheiro do ninho
onde dormir, esquecer e querer e crer.

Há que satisfazer as colunas que nos sustêm.

Ser sensato, adulto, inteligente e elegante.

Assim se faz a vida.


Em Lisboa sou só mais um
que luta a vida a viver a perda que está no ar
que sorri, cheia de afecto, para nós que andamos as ruas
(e nos deitamos tarde embriagados).

Oh, que não queria fazer isto!

Mas a vida não é só nossa,
há os outros e os outros são
- precisamente nestes casos -
parte de nós.

Mudam-nos a vida
e só o eu pode levar isso para terras de cima
e não ficar amargurado pela paragem e estadia em terras baixas.

Ah, mas o que digo eu!

É domingo porra!

Mexe-te mas é
ó cabeça sem pé!

Intendente


quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Fica do canto ao canto,
cidade roubada do espaço
de conforto que já não é.

Resta a mudança,
esse grito de esperança
que parece de amor
porque faz gaguejar,
tropeçar e tremer.

Oh mudança!

Que te fujo mas me mostras,
sendo a mostra a coisa que se não quer mostrar não hoje em dia.

Fica o inevitável,
a força de saber mudar
quando tem que ser
e escutar pouco ou nada
o que não tem nada a dizer.

Vejo que os outros são ilusões de óptica.

Quanto mais próximos de ti querem
mais furados de si são e estão.

Então eu quero aquele, aquela,
aqueles que me não querem por falta sua
mas vontade só.

Aqueles que conseguem perceber
que não há nada a fazer
senão estar bem com o outro
para estar bem consigo mesmo.

Não por fuga,
não por medo,
não para divertir
(e esquecer)
o tempo.


Tou farto de sangue-sugas!

Infelizmente há-os mais que os de só
compreenderem-se bem.

Aqueles
que sabem que do nada se vê tudo
e têm a destreza e coragem de o confrontar.

Não há certezas nesta vida amigo.

Hoje podes estar-te a sentir um rei
e amanhã cair-te um mendigo às mãos,
aos pés
e te veres nele reflectido - tu nítido.


Cheio de ilusões e de ser levado por elas
por simpatia, agradar em demasia.

E eu?

Coisa de espaço em sintonia com tempo,
coisa de futuro, presente, passado.

O Eu.

Coisa que avança com pés de experiência
- se atento, se atento...


Desabafo de ter de estar em sítio,
ganhando o ganho de poder independência,
casa - decência?
(Pois claro, porque não?)

Não gosto que me puxem.
Puxem-se a si mesmos.

Eu me puxo tanto
que não vejo como tenho de puxar os outros.

Assim não me puxes a mim.
Quero só perto quem saiba de si.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

O tamanho azar que a vida te presta
é muitas vezes um teste para a maior sorte
- sendo a sorte uma iniciativa de consciência própria,
isto é, a sorte requer que um pé nosso avance por vontade individual.

O azar é estar parado e deixar ver o que de inicio já cega a continuação.

A parede que surge a meio do caminho
pode ser a ponte que te leva às alturas do teu destino.

Portas são portas e janelas têm vista e tudo mais
mas paredes, portões e cercas
- essas determinam quem tu és.

Se as deixas ser
as serás...

Se as olhas com respeito tanto
que as renegas,
és um Homem de consciência certa,
um menino de força vital - ainda.

Nem fugir:
é a escolha que determina o ir.

domingo, 23 de novembro de 2014

De Paraty até ao aeroporto do Rio de Janeiro foram 3 autocarros e um táxi.

Os autocarros, dizia o motorista, eram de empresa duvidosa - feita de dinheiro
em detrimento de pessoa(s).

Três os necessários para fazer uma viagem de menos de 300km...
Coisa de empresa mal gerida que não sabe dar o carinho que a máquina
precisa para funcionar (a máquina também "existe").

Bom, mas não é isso que quero falar.
É do táxi. 
Melhor dizendo, do taxista.
"Fé em deus" - ele me disse,
quando lhe disse que tinha voo para daqui a 2 horas.

Um trânsito danado estava - hora de ponta no Rio
e eu perdido no meio.

Ora, esse "fé em deus" fez sentido.

Há algo na coisa de dizer "deus" e acreditar nela
que faz com que ele, de alguma forma, passe a existir.

Não que ele não existisse antes
mas "ali" ele aparece na face consciente do nosso cérebro individual.

"Fé em Deus" - é das coisas mais básicas
e mais intrínsecas que há ou pode haver.

Eu aprendi com aquele taxista,
com essa frase que ele me disse,
e me fez resignar em: fé em deus.

Seja lá ele quem for, há coisas que estão além
e bom disso nos lembrar a vida e nós mesmos
- acontecimentos.

Eu precisei daquilo.
E aquilo, naquele momento,
fez-me apanhar o voo de retorno a Lisboa, Portugal.

Será que sem "fé em deus" eu apanhava o mesmo voo?
Ora, com certeza...
Mas a paz de espírito talvez não a mesma.

Portanto, bom que deus exista.
Nem que seja numa frase que se entenda sem pensar - até.

(porque, na verdade, deus é vida e consciência)

Aleluia.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Viver a correr.
Correr para viver.

Tanta coisa aflige
mas medo medo só um
e dele nasce pouco ou nenhum.

Qualquer medo que nasce
não cresce não
se o coração tiver razão.

Sempre a sina da esperança,
colheita que dança,
horizonte que espanta.

Sou de calma e paz celular.

O meu espaço,
um só e fora dele o mundo.

Triste e rápido
leva-me o paraíso,
de tão longe a festa,
escondo meu suplicio.

Vem até cá.

Lembra-me que existes.
Que eu, ao que parece,
quero não existir.
The And

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

The only thing that a poet can do is be.
Ontem no pingo doce do largo do chão de loureiro
dei um encontrão no presidente da Câmara de Lisboa,
senhor António Costa.
Não foi de propósito, foi sem querer:
quando viro a cara para pedir desculpa,
à pessoa em questão,
vejo-lhe a cara e oiço também um "peço desculpa".
 É educado o homem...

(quem sabe futuro primeiro ministro de Portugal)
Enquanto eu estive em Paraty, no Brasil, este ano,
cruzei olhares com um homem de cabelo rapado a zero.
Um homem alto e concentrado, um pouco desesperado talvez.
Era empregado de mesa num dos bares mais populares da praça de Paraty,
aqueles que fecham mais tarde que mais turistas chama e mais caro é
- portanto não pus nunca lá os pés...
Bom, um dia fui a uma loja de internet para saber de meus afins digitais
e lá estava ele a dois computadores de mim.
Enquanto ele falava um português absolutamente de Portugal
eu exclamei para mim mesmo: "Então é isso, ele é português!"
Bom, ao que ouvi da conversa, o homem estava num certo desespero
por não ter dinheiro nem para continuar no Brasil nem para voltar
para Portugal. Falava com a mãe e família quase por arrasto,
numa de "tirem-me daqui" mas a família, a mãe, pareciam distantes
e sem-forças para ajudar, nem posses provavelmente para o tentar.
Ainda troquei mais uns quantos olhares com ele pelas ruas e zonas
de Paraty - sendo que tive lá praticamente um mês.

Nunca nos falámos. Em parte porque, estando no Brasil, eu não queria saber de Portugal,
nem de portugueses. Não falámos porque aquele desespero é coisa individual.
Não falámos porque eu não tive, na verdade, nenhum interesse em falar.
Achei apenas graça a sermos dos poucos - quem sabe únicos - portugueses
ali perdidos no antigo porto de riqueza de ouro e escravos para a pátria-Mãe.

A razão de todo este texto é que há dias cruzei cara e olhos com este alto senhor
aqui em Portugal, na Avenida Almirante Reis, já ao pé do Martim Moniz.

Parece que afinal conseguiu voltar são e salvo.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Quando a madrugada é amiga
o sonho não é formiga
mas vida.

E quando se tropeça
não dói
antes se aprende.

Aprende-se não
a não tropeçar
mas a viver
com o que fez o tropeçar
ser agora nós.

Então de tristeza jorra
poesia e luz alheia,
de tempo riqueza bruta
e de coração certeza inconcreta.

Foi do lar que vim.
Sou do tempo daqui.
Irei para onde me levar.

São de vestes nus,
são de além
- ao que os conhecer tem.

Tenho.
Por pouco não descobri o que queria...
Queria tanto com tão pouco
que o tudo me quis - ainda.
Da descoberta nasceu algo
e desse algo vejo a vida.
De olhos almas
e de reacções fantasias íntimas.
Mas por pouco não descobria.
Descobriria tanto?

sábado, 15 de novembro de 2014

Mulher, tens algo de meu.
Esse teu olhar guarda mistérios que eu sei
- deixa-me os descobrir-te!

Essa dança que balança
depois de meu olhar no teu,
assertivo.

É que fomos feitos para estar.
Oh, apenas estar e conversar.

Que mundo este
em que me tinjo de negro
para continuar
- continuar sem ti.

Atropela-me.
Oh sim, atropela-me
que eu perdi o comboio já há muito!

Do teu farei um carrossel
de luz e cor que rode noite dentro,
para sempre.

Gosto desse teu olhar atrevido.

Fazes do mundo uma coisa superficial:
sem ti deixa pura e simplesmente de existir.

Dói-me o céu,
trás-me à terra com teu ventre dengoso
que faz nascer coisas.
 
Há raparigas com demais energia.
Têm para conter o que outras têm para dar,
ou seja, zero.
Há miúdas que só querem viver,
outras que as deixem em paz.
Diga-se de passagem,
que as duas tarefas são de iguais esforços...

Sempre mais quis que me deixassem em paz
do que viver.

Viver viver é como uma chatice
para mentes conclusivas, analíticas.

Não que eu o seja,
sei-o não ser assim
- já fui.

Agora, dadas as circunstancias
- e, porque não, o mundo? -
sou deveras da preservação. 

Pois demais destruição
ocorre já sem mim
- quero observá-la de longe.

Não na base do conforto
mas da adaptação imediata
e voluntária - com calma
dada a distância.

Quando me conforto
amanhã me canso
e só amanso já com qualquer desafio.
(Quanto mais minúsculo e ridículo melhor.)

Sou de água diz a astrologia.
 

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Matching with the point
go under,
go high above
- control.

Need of hold.

Because the arms linger
without him,
because the eyes no longer bright.

All light a memory of beauty.
Something of the pass.
No longer tender.

The night falls like
white angels fallen from the sky.

Day is his fault.

A shiny sun lives in
since the days began.

No need for poetry:
Life Is.
Por de palavras
maravilhas se formam
e não têm culpa nem ideia
apenas jorrem como plantas daninhas
maravilhosas.

Ao lado encostado,
cansado ao ponto de o deixar estar,
olho quem assola o chão
e feliz contemplo tudo
sem qualquer razão.

Voo então
por esse precipício de
perder corpo
em alturas tantas
que desconhecem o aqui
estando o além tão mais próximo sim.

Depois,
algo ou alguém me chama
e então,
descansado de tanto ar e altura,
caio perfeito em plena razão
de saber estar, observar, olhar e respeitar.

É um voo diário,
nocturno e natural.


Para saber daqui há que conhecer o além
para saber do além há que absolutamente
respeitar o daqui.

É ele que na verdade manda...

Se de chuva fosse o tempo
e tu o vento
eu seria somente calor.

Transpiraria até evaporar
para que com tempo
fosse chuva
para que tu,
vento,
me levasses para outro lugar.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Oh amigo a espera é o ganho.
Pois tudo conseguido até lá é já meta.

Vida feita em sonho,
vivida plenamente,
na escada assim da vida
sobe-se sempre.

Sorri de quem tem meta fora de si
pois essa, já por demais sonhada,
não prestará serviço à vida aqui enquadrada.

domingo, 2 de novembro de 2014

Por de manhã começo a sonhar coisa de outro lado.
Viro a cara a isto
ao que o sonho
se renuncia a seguir
seguindo-me a mim.
De mão com ele
pareço não sentir
pena da solidão
mas quando me elevo à pretensão
logo cai o véu
e vejo plateia nua, vazia.
Aí solidão, mais que possível,
mas lembro rápida, e sensatamente,
que "isto" coisas de uma alma leve,
sensível ao ponto de levitar.
Então pesos e pregos assisto em ter,
manter.
Soltando aos poucos o dever,
deixo-me levar por quem me colhe
e colho eu
- sendo feliz com simplicidade,
humilde idade de ainda estar a crescer.
Cresce o velho à criança que julgou ser,
deveria ter sido.
Ao encontro
recordo desencontro
- o que falhou nele para me agora não desencontrar.
Que grande medo é esse
o de apenas "estar".

Olá.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014



Oh, ultima jornada de verão
num dia mais que belo.

É lua agora e aviões
a passarem por cima da cabeça
como se fosse nada.

A tecnologia recorda
e eu recordo com ela
o antes dela.

Era bonito...

Mais simples,
quem sabe, mais ingénuo.

O cristo ali,
a ponte ao lado,
a sirene atrás de mim.

Fica noite tão rápido...

Daqui a nada faço anos
e são anos de "verdade":
27 turnos.

Visto a camisola do Outono e vou por aí.

Quem me chamar
já não aceno,
antes dou um passou-bem, um beijinho.

Tentar a coisa,
percebes?


segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Vejo a vida chamar
aqueles que me perto
estão longe.

Vejo a vida dizer coisas
sem entardecer caminho outro
que horizontou tais precipícios catastróficos...


Parece que só mesmo a vida.

É, só mesmo a vida.

Pois, por mais que se queira saber
- para não perder - quem mete o pé
é quem sente, e mais do que saber,
vive a vida.

E a arte é tão enganadora...
(Não é não!)

Schhhh, cala-te!


Sabe lá da vida
o que de imaginação colhe direcções.

Só uma há.
Aquela que de individuo se torna una
com o todo de ele se expressar e ser.

Sofrer?

Que delícia!

Sem sofrimento jamais há decisão
ou contemplação
- regozijo dos Deuses sentida
por esta pobre pessoa.

Mais do que saber
há tocar, chamar, sentir,
envergonhar o de nós antes
que o depois é que é amanhã.

Fora os passos
a decisão que faz de passos
idiomas, ritmo e cantigas de amigo.

Pois viver rege-se humilde,
cuidadoso,
como que sensual.

Tempo do descobrimento
enaltece passado quente
em chamas de nenhum prazer
- e no entanto Tanto o haver!

É olhar ao lado e ver com outros olhos.

É ter perspectiva
sem mais demais perspectivas.

É andar.

Ai, tão somente andar!
Hoje sentei-me ao lado de um gordo
no miradouro.
O gordo, no miradouro,
só tinha mãos e olhos
para o touchscreen do seu smartphone.
Tossiu ao primeiro bafo
de cigarro que expirei.
E pensei:
que será mais saudável;
olhar e ver o que o miradouro
a oferecer,
com um cigarro na mão direita
e cerveja na mão esquerda
ou ser pesado e fechado
na sua inteligência tecnológica
(não necessariamente sua porventura)
desprezando o que acontece,
a vista e a vida.
 Cheguei à conclusão
que quase são a mesma coisa
porque, tendo vontade de escrever,
logo peguei no telemóvel
para o transcrever.
 Clássico ou moderno
a tecnologia é outra
mas o fim o mesmo?
 Pode ser...
Prefiro não guardar ressentimento
à sentida dispersão dos nossos tempos. 

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Pela estrada enxada dentro,
dentro do coração incha
matando razão,
enlouquecendo a emoção
- qualquer delas uma -
a um estridente grito de libertação.

Chato pensamento
que sem libertar
torna-se tormento,
viver o saciar desse funil
que sempre dá menos que o que recebe.

Estar por ter de
e ouvir cantar quem se não.
Falar, ouvir e mexer
só porque tem que ser.

Dado trabalho de formiguinha
que não chora nem queixa,
assiste sua dor
até com um certo humor.

Porque esse há-o sempre
- mostra a tese do silêncio
que reflecte inteligência.

Um dia por dia
e que a maresia salte sol e sal,
chamando à razão o coração. 

quinta-feira, 23 de outubro de 2014




Um buraco chão
que cai a perna minha 
que segura caminho.

Oh dela
me cair
agora que travo destino.
Me perde ela ritmo.

Ter de nadar em terra que descobri pensar.

Falar de quê
quando só me surge imaginar?

Foi de tão longe 
que soube daqui 
e agora me vou,
tenho de ir.

Caminho me chama,
e avança, 
e se não vou 
deixo de ser, sou.

Sou quem do vento vim.
Assim me sinto
e o dos outros não sei,
nem sei se sabem eles também.

Parentesis chato
o acordar num charco e não no mar.

Oceano com tanto,
tanto lugar onde furtar terra,
palmeira sombra e luar.

Sol seca.

Que venha a chuva que chora
- nisto dando vida.

Nasce um menino,
uma mulher.

Colhe a flor que caiu 
com mais alma vaguear.

Extensa.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Autoridade é tudo para quem sofre dela.

E autoridade é saber dela.

Sabendo-a se pode ser dono dela.

E ser dono dela é ser rei e mendigo
com a paz de quem de inteligência reconheceu deus.

domingo, 19 de outubro de 2014


Doce dia que deus cria.

Doce dia ao ar quente
que cheira, espalha alegria.

Dá vontade de espalhar asas
e dar à vida o que ela induz.

Maresia de Verão em Outono precário.

O tempo muda e muda o tempo,
escolhe o espaço do começo e continua,
mais que crente, praticante.

Nasce daí a coisa que faz
deste dia um dia doce,
quente e, como que, alado
por sinal.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

There's something so sad
about people who try to find
their own safety in smiles of supposed liberty.

Really is a sad view
to find in those smiles fear
- so much fear and desolation -
rather than liberty and commotion.

Had my share of community living
and, must admit, it wasn't the greatest of that kind of living...
But, living "in" shouldn't mean living "out"
- out of society like there was another ground.

Such a sadness I feel in those that are trying
to go beyond fear...

It's like they're searching for themselves,
not finding, so they throw up on you their search,
for you to find.

That's nice maybe when you, yourself, are also into finding...

I found, my dear friend,
and ok I am in being alone, in that so.

Cause I found I'm not alone...
All the world people know about this.

And it is your little graveyard of talking peace and liberty
that seems to me to be so little and sad and lonely.

People that are running away from something of their own,
not from the world. Grow hair and dreadlocks,
and piercings and tattoos, and think they've found a way
to not so feel alone...

Well, for me you are the most alone people in the world!

Know why?

Because you need those things to change the way
society thinks of you - consequently the way you think about yourself.

Need a bath and a bed of yours,
your body and dreams only
to caress your fears and feelings.

Then you'll know that you are on your own
and all of us with you.

Same journey,
same home,
same destination.

Isn't that greater?

(Greater than appearing to be different
rather than being the same
with different ways?)

Thinking...

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

De salto alto pergunto o chão
e se me ele explode
será que tenho razão?

Bato à porta da velha vesga
e recebe-me uma alentejana donzela.

Perdido, corro o canto ao apaixono
mas isto longe dela - te lembro.

Coisas do coração ser feito de ar
e a razão de betão frio
que une ideais sem os deveras fecundar.

Somos todos Homens, Mulheres.
Todos parte dum Todo coitado
que nos olha ressentido
por tal desprezo feito vida.

Na sirene da ambulância
vejo o sistema funcionar.

Há quem trabalhe
e bom disso nos lembrar.

Coisa frita que é estar aqui a pensar,
melhor dizendo, escrever
- porque pensar, pensar
me mói mais dele o medo.

Aquele medo sem razão,
insuficiente esperança e nenhuma tesão.

Será o medo masculino ou feminino?
Aí pousa a questão.

São dos outros um
e o de mim se perde por aqui,
em paredes mansas
de quem não canta mas
escreve como vestinhas a Ela desse.

É tudo Ela
e Ele que se dane!

Homem nasceu para construir,
a Mulher persevera o que não cair.
e porque não dizê-lo:

O Feminismo é Machista.

O quê?

Bom, talvez não
mas
fica bem escrito
e como ideia
dá que pensar.

(Ó Mulher sabes o que quero dizer!)

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Na rua expando pela internet
que me falta ela em casa
dado o dinheiro - em falta - que me a permite desfrutar.

Tempo a tempo
largo as asas,
outras os pés
e no chão ou céu
caio como um raio
de ter de nascer.

Coisas a fazer,
coisas a fazer...

Há tempo a ver.

Coisas do quotidiano,
coisas de ter trabalho e querer outro.
Ter quarto e querer outro.

Coisa de nem tudo depender
de quem aqui sente.

Coisas a prever...

Internet faz falta em casa.
Mas não faz falta na rua,
digo eu.

Deve haver limites a coisa tão infinita.

Deve haver sim
porque o de estar aí
requer calor e saber,
arriscar para conhecer.

Vou ali e já volto.

sábado, 11 de outubro de 2014

Gosto do Outono.

Dá espaço à vida
 - vida essa que tenho dentro de mim.

O Verão é soltar
que, demais sentir, viver é uma extrema necessidade.

Mas esta, de tão efervescente,
não soletra as cores de meu ser.

Outono, mais calmo:
mais de contemplar,
agir só se bem sentida vontade de dar.

Correm as vestes,
casaco e meias,
botas para a chuva talvez.

Mais quente esse frio afinal.
Nasce o quente de nós,
coisa mais quente que o quente do sol actual.

É ter sol cá dentro.

Coisa que não ilumina mas descansa a atenção,
descontrai o afecto a ser coerente e não fugidio.

Certo é viver momento como final.

Então sim, gosto do Outono
como há tempos gostava do Verão.

Mas passando, há outro.
E tão bom que é um novo
- de sempre -
ao tempo ser o tesouro de quem nos guarda em silêncio...

Amanhã, Ontem e Hoje
são coisas de agora,
são coisas de sempre.

Falo ser do momento.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Pela paisagem tu agora
de cheio ao sítio
parte a pluma da coerência
especifica.

Fica tudo fora então.
E no fora me não encontro não...

Há, ou haverá, encontro fora disto que sinto?

Só tempo para me responder.

Sempre aceso
demais apagada vertigem;
colhe-me outra alma que assista voo
ou estadia,
ninho maresia.

Volto logo
seja hoje ou amanhã.

O raio me corta a garganta
e sou só silêncio que grita em chamas.

Naquilo de saber
prolongo saborear de nada passado em mente
mas, na verdade, na frente,
frente de mim te mantens.

Há que ser assim.
Que ser assim ao tempo de ser sim.

Curiosas passagens
e contrapontos e contratempos
que inauguram o teu e meu tempo.

Qual de ligação progredir?

Há tantas...

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Oh, o céu nublado me encontra fechado em casa
vendo filme, espreitando a vida pelo canto
deixando crescer tempo
espremer o sentimento.

Depois da comida
há uma, duas cervejas de rua
e cheio, vazio (o que interessa?)
há amanhã e afins de fim que não há ainda aqui.

Porventura me desleixo
acredito no fecho e não na abertura
mas voz que me sai atrai e retrai;
lembra o outro, lembra-o de mim
que esqueci (sim?).

Momentos agora
dia de folga
e a esperança em algo
que de delicado mete angústia no molho.

Não assim choro
pois demais habituado acordo ao lado do que sinto
interpretando(-o).

E entram-me olhos pelos olhos,
afectos feito raios pelo coração a dentro,
como se tudo, de alguma forma, importante,
ridiculamente visceral.

Não ter o que fazer...
Só pode ser.

Ontem havia caminho sem dele saber;
era só fim, fazendo meio.
Hoje o fim sou eu e o meio me há de querer,
e quer e quer...

Gaivota no meio dos pombos,
gato a olhar.
O cego os ouve
só.

Há mar.

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Dela a pele. Pele a minha que nela cede.
Cela a mais de espaço carinhoso.
E come o chão e tudo ar, voar esperança - tocar.
Falar doido para descansar,
penetrar fundo para amar.
Feita de pele, és feita de pele.
Eu de osso. Feito para me roer.
Rói-me tu se quiseres.
Eu fico.

sábado, 4 de outubro de 2014

Palavras ao canto de desaparecer pelas ideias aparecer.
Conter para manter depois crescer.
Foi dali ao lado que me ocorreu sentado
descobrir consensos outros que não lembrem daqui.
Assim fugir sem tanto de ir
porque ir implica coisas e o descobrir vontade só.

A rua salta.



É a Avenida Almirante Reis!

É o ver Chineses, Russos, Indianos, Angolanos,
Japoneses, Ucranianos, Nepaleses, Brasileiros,
Moçambicanos, Paquistaneses, Guineenses
e demais gentes juntos no mesmo saco,
mesma rua!

É andar na avenida da cidade, que me viu nascer,
e sentir-me estrangeiro.

Olha vou à Índia e já volto!
...comprei um caril decente para o jantar.

É andar pela rua e não me cansar de Portugalidade doentia,
mesquinha e tão modesta, humilde e pequena...

É a crise!

Não, não é a crise.

Na minha rua não há crise,
há mundo!

E o mundo sabe de si.

Com escola em simpatia, tolerância e distância
se faz um novo mundo
- no mundo da gente portuguesa.

Ah, e não é tão bom?

"Lá fora", fora desta rua e zona,
a coisa vai andando,
vai passando.

Aqui a coisa anda afinal!

Vai devagarinho, com muitos carros a parar
na avenida, obstruindo o transito habitual
mas:
sempre dá para passar.

Carlos Cândido dos Reis 
é o nome do tal Reis
que era Almirante
e agora uma Avenida
- da qual aqui expressamente falo.

Parece que era rebelde...
E assim também é e será a sua Avenida
em fresca memória de sua partida.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

If you can't stop you can move,
if you can move you can't stop.

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Não faço a mínima ideia de quem sou
mas se tu me disseres eu vou.
Might the wind find the body on my skin.
Relate to those the thought of the finding.
Not the stone but the bird yelling.
Air and sun may be the ones not to complain.
About the pain I gain wisdom and so it remains the same.
Smiling like a young baby with dark, natural beard.
So called night when not sleeping awakes the morning I forgot.
So it goes, shall go till it falls: another to carry all.
Beginning is old, continuing is maturing, feeling and doing.
Get together with the no one and build the world for all.
Meet the new with the old and realize this song.

domingo, 28 de setembro de 2014

Por de baixo do laço solto da camisa
me dança a cama de eu a ela.

E na pequena saída
me lanço de alto cheiro,
tresandar a sexo!

Fogo à alma e choro de criança na esquina,
cantigas de amigo na avenida!

Mexem-me as pernas
o som das escadas dela,
saltos altos e mais.

Parafusos na cabeça
e tremenda a doença da carência
construir catedrais em honra de sei lá quem!

São urros e porrada,
suor e sangue na calçada.

Cavalos se agitam os homens
e as mulheres assistem
descansadas o cigarro na boca,
olhos de lua meia.

"Faz favor não sair daqui menino" -
faz favor que sim.

Dei o braço à Oliveira
e deixei o abraço por dar a quem venha.

São lados jogados ao centro
e chãos de céu que havistam mar.

São palavras que tenho para cantar,
saber ouvir -
discernimento do Ir!

Corre as pegadas da sombra
que acha as achas de luz,
fogueira de outrora,
sol de amanhã - por agora.

Mexe-te filho pai
que a mãe abre-se!

sábado, 27 de setembro de 2014

A grande "Arte" serve para desviar a atenção de quem a cria.
A pequena "arte" serve para chamar atenção a quem a recria.

(ideia momentânea)

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Need the same of everything to
get beneath and feel the unfeelingly heart.

Details know more...

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

É incrível o nervoso que fico com a mudança.
Prestes a me desafiar numa ida ao cinema
e todo o meu corpo se mexe em discordância plena.
Nem vou pelo filme - pois nenhum de qualidade sensata -
mas pelo desafio óbvio que me dilacera a tão querida estabilidade.
Gasto ao cão das sombras, alargo-me. E "largado" me socorre o mundo?
Não creio, socorro-me eu também. Ver de estado além, enquanto aqui perdido
no desígnio de ser eu e pronto. Mas a mais quero dos outros, ser dos outros,
ser outros e no final apenas um, vida singular que grite plural.
Bom, há que ir, mesmo - e principalmente - à mais ridícula coisa que nos mete medo.
Não vou ao cinema há tanto!
Vou hoje porque é promoção coincidente ao meu dia de folga então.
Não sou rico!
Paga parte a minha operadora de telemóvel que me rouba enquanto pode.
Mas isso detalhes...
Vou ao cinema e já volto!

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Li há bocado um escritor Sul-Africano
- Breyten Breytenbach - dizendo que
os "turistas matam tudo". Disse ainda que lhe
era difícil compreender que os turistas,
além de serem turistas, eram também
pessoas normais.

Vem a propósito ler tal coisa vinda de quem não eu
pois há uns dias que pensei em escrever sobre esse fenómeno
um tanto macabro: o do turismo actual.

Lisboa está coberta de turistas,
são mais eles que vivem a cidade
que os seus trabalhadores
que mais assistem aos sorrisos deles.

Como uma nuvem de água que molha
e vai embora, secando as águas com sua rápida ausência.

Espevitam a economia e o empreendedorismo
mas estes vindos de fora, vindos de quem não é daqui (ainda).

São almas que não conhecem nem reconhecem espaços
nem maneiras, tudo lhes é igual porque tudo é diferente
ao que lhes é nativo - lá na terra deles.

De maneira nenhuma condeno o turismo por si só
mas o excesso dele; não tendo como o combater
com questões culturais daqui, gente daqui
que trabalha a cidade, vive-a diariamente.

Ser de Lisboa também longe está de significar ser Português
já que este espaço de terra é habitado há milénios por mil e um povos
e hoje mistura, tão bem, faces, cores e línguas de todos os continentes do mundo.

É do turista que se fala.
Ainda mais do turismo.

Lisboa e Portugal estão perfeitamente em baixo,
plenitude de desesperança colectiva e extensiva.

Tudo que resiste aqui, fica por aqui.
Sem voz e sem saída,
ganha calos e dores,
medos e pavores,
angústias desconhecidas
porque não vindas ao propósito
de Lisboa estar em festa.
É das cidades mais Fascinantes do mundo
para visitar em 2014!...

Quem usa e faz funcionar a cidade?
O trabalhador.

O turista é apenas quem compra,
quem apesar de tudo abre possibilidade
à abertura de empresas que afinal se centram
e concentram - apenas - nele, no turista.

O turismo é uma invenção,
viajar não.

Quando uma cidade se foca no turista
perde o olho ao seu comum cidadão.

Com o turismo e essas belas publicidades
- perfeitamente artificiais e perversas mesmo -
que ele fomenta, a roda de baixo
- do cidadão trabalhador - vai andando
como que para o turista, para o turismo.

Não é forma de gerir uma cidade,
um país, uma cultura...

A sincera revolta ou reivindicação de direitos
é obstruída pelo sorriso fácil e despreocupado
de quem visita o que não sabe
e sabendo esquecerá rapidamente.

Falo com velhos de Alfama, Santos e Alcântara
e todos me falam do "Antigamente".

Claro que esta conversa surge sempre
mas não parece tão mal esse tempo
em que os bairros todos de Lisboa
estavam vivos e cheios com gente daqui
e acolá a viver junto, na mesma rua,
mesmo prédio.

Até eu, estando longe,
deixei-me seduzir por essa publicidade,
alucinatória, do turismo da cidade de Lisboa.

E aqui estou.

E a verdade é que gosto disto,
gosto disto porque conheço isto
e sei que há tanto ainda por conhecer aqui.

domingo, 21 de setembro de 2014












As he walks the broom washes dust to the side
and the dog sits and gives his eyes to him.

He's disturbed about life.
Nothing too much,
he's like that,
always in that confused area.

Cigarette on the lips,
next a beer on the Indian shop
and time to withdraw some feelings,
peace maybe.

Calls a friend
but working,
has to be for tomorrow.

Lost on solitude
life seems and feels immense
but it's just feelings flying
and no touching can be or be felt.

Looking at the sea, the sky,
massive clouds and brutal sounds
of lightnings at afternoon
- make him feel alive.

A bicycle ride
by the river Tejo,
seeing with new same eyes
the Expo 98 "afterwards".

Nice place,
modern and spacious.