sexta-feira, 30 de junho de 2017

Foge puto,
sê livre!
Sigo acreditando na humanidade
embora a veja despedaçada por aí,
pagando para viver.

Fora a desgraça filosófica
e a carga ancestral desta raça,
já que a ela pareço pertencer
quero a toda a força fazer-me pertencer
a ela,
fazer ela merecer existir comigo
e eu com ela.

Humanidade, ser humano,
ser que vive com inteligência,
vivendo dela se matar em angústia
e frustracção e distracção
porque a energia vital da vida está distorcida.

Corro eu a ela, vida minha, vida dos homens
que pisavam o chão e caçavam o que comiam,
homens e mulheres que viviam longe de vigilância
e tanta podridão atenta aos actos da vida séria.

Nasceste para morrer e tudo o que te passa pelo caminho
é intruso à vida absoluta que sentes bem dentro.

Oh, ignorância plena desta vida que me frustra,
ignorância de não conseguir gritar - a plenos pulmões -
pó caralho tudo o que é intruso à minha visão! 

Direito a ser louco num mundo de loucos,
direito a manifestar absoluta ausência de lar
quando tanto de meu mundo não reconhece humanidade
onde pisa agora.

Quero andar pela rua como vagabundo,
conhecer em cada sorriso mudo um mundo,
em cada olhar uma certeza de um lugar de esperança,
crença, aceitação e raça
que além de descriminar afirma pertença
a algo maior e mais belo
do que o que por aí vejo se rastejar
com autoridade perversa.

Ovelhas mansas que se vestem em peles de lobo,
eu sou lobo guardando-me nu no quentinho da lã de ovelha.

Sabem lá os gritos que já uivei só,
nas montanhas de ninguém,
consciência límpida de ver o céu
como alguém há milénios o viu
como mistério e certeza de algo maior que o "eu"!

Essa consciência é o que mantém o espírito
a se coincidir com o humano,
sem o espírito o humano é bem pior
que o animal,
acredita.

Vejo-os por aí, sem rumo
- sendo eu um, mais que um hoje em dia...

Mas ainda, ainda
mantenho uma certa loucura
que me permite saber que estou perdido,
que estou não seguindo meu ritmo,
minha dança, meu império,
minha solidão e meu amor.

Resta-me sempre essa loucura,
essa vontade de perder tudo que antes ganhei.
Porque sei, sei que sei algo bem maior
do que o que pode ser identificado como meu.

Sei aquilo que não existe,
sei aquilo que existe só e absolutamente em mim.

E por tão absolutamente isto ser
sei "isto" existir em todos nós.

Oiço Canto da Meditação
de mais uma iluminada deste mundo
e por isso e nisto
persisto em querer acreditar
nesta espécie a que afinal pertenço:
humano, humanidade, ser humano.

Tanto do que falta a esta espécie hoje em dia...

(Não há artista que dê sua vida pelo ideal de existir
essa raça em força neste mundo novamente...


alegria,
há outro dia!

nasce da morte a vida nova)


segunda-feira, 26 de junho de 2017

Há um dado momento onde existir pesa.
E pesa quando disso se tem noção e lucidez
suficiente para esmagar a sensação.
Então, a saída está sempre na reconstrução.
Seja reconstrução do eu ou do ambiente,
situação ou companhia.
Há que manter a lucidez longe desta vida
pois demais lucidez esmaga a vida.
E lúcido que sou, tudo me angustia um pouco
se me estou centrado na origem das coisas.
Para me alegrar tenho de me enganar constantemente,
tenho de usar uma máscara que sei não ser
e ver reacções alheias que lembram,
efectivamente, o que se guarda em mim
e em todos nós por detrás da máscara.
Sem máscara a vida ou é divina
ou absolutamente angustiante.
Alguma lucidez faz falta,
pois sem lucidez não se faz caminho próprio
afinal.
Mas tremenda lucidez que me veio de criança,
nascimento, família também,
essa tem de estar longe,
fugir dela diariamente
é, em parte, o meu objectivo de vida.
Sempre vi a vida como uma seta,
como um tiro lançado no escuro
que me guia sempre em frente,
ileso de problemas reais
e superficiais a esta grande visão minha.
Viver à porrada em frente tem sido
o que me guarda tranquilo cá dentro,
sempre imaginando o futuro
com realizações do passado.
Vida essa que se quer conseguida
vem de muito pensamento, tempo e espaço,
tranquilidade para contigo mesmo.
Se não vives em paz contigo
estás fudido.
E se é um espaço, um ambiente,
uma circunstância que te assim mantém
então disso te tens de largar
e buscar novo espaço onde te ser
apenas tu, só e vazio.
Vivo o meu dia-a-dia como uma repetição,
não estou aberto à novidade nem a nenhum
boémio serão.
Tento mas não consigo.
Quando me farto de um sítio
e o que ele desperta em mim
a única solução é sair,
fugir para um novo sítio conhecer
e me ensinar a ser novo ser.
A arte de viver é ser nómada de pensamento,
nómada de saber ir ao passado e passear
por lá, pelas viagens, amigos, amores,
tristezas, alegrias e dissabores.
Se estás sedentário tanto de espaço físico
como de espaço mental
então és uma bomba sempre prestes a explodir.
Não há saída a isto senão a minha saída
de jogo deste sítio.
Sei disto há bastante tempo...
Tenho sido fantasma,
sei que no futuro não vou lembrar esta fase,
vai estar toda ela dentro de uma nuvem de
ausência minha.
E eu não gosto de estar ausente desta minha vida...
Se estou a sofrer mas a criar, a partir disso, saída,
muito bem
mas se sofro e não crio, nem recebo, nem aprendo,
nem ensino, nem partilho,
oh que se foda a vida e este repetido jogo de pagar para existir!
Acho que a vida me deve algo,
me deve minha existência cristalina ao lado dela,
dentro dela.
Mas sei perfeitamente que estar quieto à espera disto
é ridículo e idiota e inconsequente.
Sei que tenho de ir, buscar a descoberta de meu sentir.
Sentir algo novo a cada momento
e com isto reagrupar meus pensamentos de passado
para gerar futuro em condições, coerente.
Por agora vou ficando,
preso às burocracias e ao dinheiro
e aos potenciais ajudantes de um futuro
material mais capaz.
No entanto, sei que não sou de momento nada,
até me surpreende as pessoas me verem
e responderem.
Fantasma.
Assim sou quando me canso de viver...
(mas morrer não vale a pena pois sempre sei
existir muita vida além de mim e de tudo isto que aqui
sinto). 

terça-feira, 20 de junho de 2017

A poesia despreza as dificuldades da vida real, física.

A poesia encontra o seu consolo na destruição
dos limites pessoais.

Vai ao existente do existencial conhecer,
finalmente,
algo.

Esse algo é a poesia.

Se a poesia sempre me foi vida,
hoje me não é
porque procuro outra saída.

Mas sei que me és minha
e sei que sou teu.

Além vida física que me canso
sei que existe esse irreal mais que real
teu.

Então, és deveras a minha única deusa.

Deusa que dá e tira vida,
deusa invejosa e ciumenta
que me mete todo torto
se não me sirvo a ti
só.

São tempos de espera.
São tempos de procura material.

São tempos de teu longe perto
espiritual.

Minha mãe, filha e amante,
coisa eterna do canto de crer
mais que querer.

Eu sei que sou isso...

Mas agora tento algo outro
mais perto desta civilização
que sempre quis reduzir a cinzas
tendo meu leito somente em ti. 

Esperas-me?

Sei que sim.

Pois dei, dou e darei
minha vida por ti.

Poesia minha que me canta aos céus
terra e nela nem voo mas ando
como santo de lado algum
senão imaginação.

Algo outro,
outra algo,
o descarrilamento do humano
que conhece
finalmente o real
que é sonhar acordado.

Nado o sonho
com as preces
deste mundo
que me consola vivo
e perdido.

Achei-te
e disso nunca me perco!

sábado, 17 de junho de 2017

essência - é real o que existe atrás dos meus olhos

mundo - é real o que existe à frente dos meus olhos

humano - é real o que liga a essência ao mundo



Trindade.




terça-feira, 13 de junho de 2017

Quando começa, começa devagar
e toda a vida se encontra consigo mesma.

A morte é inventada para encontrar a vida
na palma da mão, no centro da cabeça,
em forma de alma o espírito caminha.

E, de repente, a chama chama a si a vida esquecida,
lembrando sempre e nunca,
fazendo fantasia destes laços materiais.

Encontro o chão a levantar-se,
a correr-me a vida à chegada dela,
ao caminho perdido por esquecimento
e angústia.

A vida nova assemelha-se a nada
e tudo o que pensas ser
é uma máscara incógnita.

Lembrar o sangue que te dá vida
poder, também, te inventar sereno
e capaz de criar mais que demais viver.

E nos bastidores disto tudo
vive um homem perdido
no seu casulo,
chorando sua queda
por insulto a si mesmo,
por trevas inventar quando a vida falha,
só um pouquinho...

Nos bastidores um
que se julgou deus em dias
e se verga agora a menor que formiga
- pois as exigências de deus são maiores
que a própria sombra da vida.

Inventar cortesias à alma,
inventar fuga e esquecer tudo isto,
reconhecer presente nu e novo
e saber dele fazer coisas mil.

Ser quem se é em ideia
e sentimento,
emoção e vontade.

Ser mais que um,
ser quem se não reconhece
nem sequer em si mesmo material
mas no mundo infinito da consciência
que nem sequer concebe barreiras e "nãos".

A vida diz sim,
a vida diz sim meu amigo.

quarta-feira, 7 de junho de 2017

Every day is a new day,
for if it's not you're not living
you're dying.

Say grace to life in its each moment
for if not you're living in an idea
and not in life itself.

Create this meditation
and be wealthy in body,
mind and soul.

Life is one
and time is undone
if you're not in the center of it.

Believe.

Beliving.

quinta-feira, 1 de junho de 2017

Não há maior alegria do que uma pessoa saber quem é,
quem é verdadeiramente, dentro de seus sonhos e passados,
desejos e vontades futuras e presentes.

Não há maior conforto do que um se saber um perfeitamente,
sem precisar de se refugiar em algo ou alguém,
sem medo de perder o que já é tão sinceramente.

Saber ser quem se é, é afinal, também, a coisa mais rara
mas coincidentemente mais preciosa e alta.

Andar por esta vida sabendo isto e só,
podendo dormir em paz à noite
e viver o dia com a merecida calma,
ah, que coisa linda!

As exigências deste mundo não tocam esta sabedoria
que vive simplesmente de ser reconhecida a cada momento
e em paz, viver tranquilo com esta coisa de gostar de si
por não se saber ser de outra forma.

Viver contigo é então a coisa mais linda,
o verdadeiro amor, verdadeiro carinho
e compreensão.

Renegar a isto
e esperar do exterior reconhecimento
é estares perdido na árvore do tempo...

Cada um com seu sol, lua e universo,
buraco negro de conhecimento misterioso
e dúvidas, questões e medos por compreender sozinho;
largado à vida primeiro
e depois em pânico
ver o que a vida começa,
verdadeiramente, a te dar,
o que te pertence e à vida também.

Há que reconhecer o tempo...

Há que viver em paz com esta coisa do Eu.

Há que ser sinceramente teu.

(os outros que se fodam!
e venham depois quando esse teu Eu tiver lugar
para eles)

Quem precisa deste universo
quando tem o seu?
Não há caminho que não seja perdido...

Encontrado disto o deixa de ser.

Então consciência a cima de tudo deves tu ter.

Aconteceu que perdi a viúva de meu sonho
e com sede de viver,
corri até me por ela desaparecer,
sendo fantasma hoje,
não conheço sabor além a amargura do tempo.

Mas sabendo disto
o dilúvio é só canção de embalo
que abala as frentes marítimas
de meus sonhos
e os descobre precipícios
de loucura criadora.

Mente a vida à semente
que se vai,
a caminho da morte,
te a esquece verdade.

Na chama do rochedo pintado
pela mão daquele que caçava nas planícies
eu medito minha ausência de ser,
reconhecendo tão mais ser
nesse mundo antigo e que ficou
para mim e toda a actualidade.

Presente colhido em fruta madura
que chama a vida a vir dançar consigo nua.

Vida essa que não magoa,
magoa o fugir ou fingimento dela,
tristeza fria essa...

À noite ver as estrelas
e lembrar elas guardarem segredos
que te tão mais conhecem do que tu mesmo.

Aprender com elas é desígnio dos deuses,
aprender com elas é saberes ser humano,
seres tu, saberes da vida crescer
até à derradeira libertação:
morte.

Saber disto e não ter medo disto
nem de nada senão das nuvens
que escondem o sol, o céu.

Amanhã amanheço a noite de meu descanso
e acordo o dia novo que me não conhece
mas lembra a toda a hora ser filho da vida
e vida ser mãe eterna.