terça-feira, 29 de novembro de 2016

Não sou amigo de mim mesmo,
descubro isso agora.
Se não trabalho o suficiente mato-me por dentro.
Não há maior inimigo que eu mesmo.
Saboto-me constantemente.
E se não me prezo ao desafio incessante
a vida torna-se uma calmaria pantanosa,
cheia de um cheiro mau e mosquitos que picam.
Não sou um bom amigo se me falho.
Dentro deste antro só sobrevive o mais forte.
Tudo o que não persiste deve morrer e
fortificar o que resiste a querer crescer.
A ordem da vida é essa, afinal.
Dentro dessa disciplina essencial
existe finalmente a harmonia.
Sou extremo em tudo.
Vou ao limite de tudo.
Depois continuo.

(é por isso que me não é fácil partilhar a vida)
Preciso andar por aí perdido à noite.
Preciso mostrar a mim que a noite é amiga
e guarda segredos que o dia não conhece
nem reconhece.
Preciso andar aí, sozinho e perdido,
feito vagabundo moderno.
Preciso conhecer a vida
e deixar-me levá-la por onde meus pés
caminham.
Preciso conhecer a vida no seu elemento material.
Eu sou todo febre de chatices e dor de viver.
A única coisa que me descansa é saber
que amanhã há mais uma noite,
mais uma caminhada,
mais uma descoberta de ir
sem esperar nada.
Como posso eu ser como os outros
com suas vidas simples e calmas?
Se não tenho chatices reais na vida
as invento.
A impossibilidade de estar satisfeito
e me deixar estar,
acreditando em mim agora
e não me tendo sempre de refazer e reinventar.
A arte me guarda existência, não há dúvida.
Ela quer-me normal mas sabe lá
o que se passa no sobrenatural de minha mente!
Tenho um menino cá dentro que pensa saber da vida.
Tá-me sempre a dizer coisas
e não compreende o trabalho nem a frustração.
Meu papel por aqui parece ser
vê-lo por aí,
andar, correr e se mexer
enquanto quem não o vê
anda infeliz e pesado.
Alquimia da vida.
Tão brilhante é ela por vezes
que pareço ter de inventar a magia negra
de tudo ser uma mitologia grande.
Há vida e morte.
Calma com tudo o resto
que passa...
Deus é grande
e tu pequeno.
Acorda-te a isso e deixa-te levar.
O norte não é uma teoria
nem a morte uma ideia.
Teu corpo se revelará ossos
e tu espírito
um dia.
Destruo-o o mundo ou por ele sou destruído.

É simples.

(não resistir a isso apenas)

A vida é minha amante
e a morte meu feroz inimigo,
que levo bem dentro do peito
e lanço a quem me não tem jeito.

Congratulo o que me passa pelo olhar.

domingo, 27 de novembro de 2016

Nunca Medo

Nunca medo.

Sente o que sentes até ao fim para ir e voltar
e se evaporar pela existência de teres dois pés e caminhares.

Nunca medo.

Nunca medo e principalmente na face do maior medo
deixá-lo ser tu por um momento absolutamente
para se depois ir e evaporar e tu,
exactamente tu,
existente puro e cru,
nascido novamente.

Nunca reprimir ou conter na mente
mas deixar ir e vir absolutamente.

Que a coisa mais bela que há
é ver que depois de tanto pesadelo
o pesadelo ser, afinal, o reprimir, resistir
e conter o medo.

Não dar importância ao medo,
deixá-lo passar e perder-se por falta de atenção.

O universo conhece o medo?

O universo sempre se expande...

E o maior medo é o medo do medo!

Medo é superficial
à única real razão dele:
a morte.

Conhece-te o fim
e começa-te sim.

sábado, 26 de novembro de 2016

Quando acordar verei o que tenho a dar.
Quando serenar saberei o que disto absorvi
e não soube ter mas sei sorver aos poucos pela arte
e escrita, vida e pensamento, imaginação.
Tudo movimento, tudo vai e vem.
Quando acordar eu saberei o que sofri
e se sofri bem.
Quando acordar recordarei o sofrimento
de agora com alegria e conhecimento.
Quando acordar eu me direi desperto
e feliz de enleio este me desdobrarei
em novas rotas de descobrimento.
Porque "assim" sempre sou nau à deriva,
não sabendo o porquê e me deixando levar
- às últimas consequências já desconfortáveis.
Quando acordar eu serei outro
e serei sim, finalmente, o que não reconheço ser agora.
Quando acordar,
quando acordar.
Acordarei?
É sempre esse o meu medo!
Acordar é preciso e saber o que se é.
Isso ou viver intensamente sem interrogação além,
só o imediato estar e parecer.
Mas há sempre algo que fica na cabeça a remoer.
O meu demónio não aprecia incoerência
e se a deixo estar, mesmo que sofrendo o remoer,
é só uma questão de tempo até ele, o demónio, me ganhar.
A arte não ama os covardes, dizia já Vinicius.
E é tão verdade...
E vivo a cima de tudo para a arte,
esse mistério absoluto que sabe além de tudo
e goza a vida mortal como um deus imortal,
infernal.
Saber os limites da vida,
os limites físicos da vida
- que afinal são os únicos limites da vida.
Na mente não há limites mas barreiras
e degraus.
No conhecimento existe o universo
e esse reconhece o incógnito com a tranquilidade
de o saber poder criar.
É bom que se tenha estrutura para tal conhecimento...
Normalmente, diria ser necessário um bom coração.
Pois é a intuição dele que faz o cérebro compreender a
razão e ditá-la em arte aos outros.
Só digo disparates...
Vou para a cama seguir um sonho
que tarda a chegar.
Acorda, acorda meu filho
que a vida vem a nascer,
cada dia, a cada noite.
Elabora-te nisso,
ciclo eterno e infinito
e esquece teu pesar.
Afinal, o que é a vida se não uma invenção?

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

A escuridão guarda a luz.
Guardando-a vai mostrando
o caminho a quem caminha cá fora.
Sejas tu como que um anjo da morte
olhando a vida brilhante pois contrasta
com a escuridão que aprecias e sentes.
Escuridão é o meu amor,
o meu centro, o meu calor.
Na escuridão encontro eu conforto
e compreensão, ausência de pressa
e pressão.
É como um pai, uma figura de autoridade
que me lembra o meu tamanho e faz de mim
um veículo mais que um ser parado.
Inventei-me como veículo de descoberta
há muitos anos.
A vida mais não é que a plataforma
desta minha compreensão da escuridão.
Como se nem tivesse vivo
obedeço à ordem que sonho e sinto
neste meu cantinho.
Sou pensamento.
Pensamentos que me chegam
neste meu canto.
Deixai-me o canto escuro
que dele conheço e faço vida.
Porque tudo o que se faz com arte
tem de se fazer despreocupadamente
e como que distraidamente.
Se não encontras alegria nesta vida
então distrai-te dela e nem penses nela
mas nesse tal cantinho; aí, no encontro entre os dois
aparece-te a vida, sinais do que deves ou não fazer
e do que és e não és.
Esse diálogo com a vida, a realidade,
o mundo e os outros é uma coisa divina.
Atento ao movimento da vida,
sendo que tudo o que se vê e sente é
representação dela.
Alegria!
Mas uma alegria calma e serena
que nasce da disciplina de nos bastarmos
a tal profecia.
E assim dançar a vida com a calma
dos deuses e a tenacidade do diabo.
Sério sinto ser sabedoria a serenar
este lago denso que se chama Eu.
Preservar a ordem que o mantém intacto
e só.
Bastar-te.
Ser apenas isto e assim tudo e nada.
Serenidade atenta à alma.
Com calma.

terça-feira, 22 de novembro de 2016

E vivo no campo e aqui não chegam as notícias de o mundo lá fora. Aqui oiço passarinhos e vejo as árvores crescer e estações mudar com a calma do tempo. Vivo sozinho com o meu cão e não há quem eu veja durante dias. Perscruto o mundo que vejo e sinto e o além dele deixo estar, sem me estorvar. Por vezes vêm a minha casa jovens confusos com o mundo e consigo mesmo. Normalmente rio-me alto de seus problemas, me parecendo - e lhes digo - serem não problemas mas visões a resolver, isto é, soluções ao final de contas. Mas gosto da companhia desta e outra gente, gosto que me visitem e gosto da conversa, só me chateia as coisas que oiço do mundo lá fora, por vezes fico triste, abatido, por outras fico irritado e com vontade de ir lá ao mundo gritar. Mas sei que não vale de nada. Sento-me então na cadeira que balança e fumo o meu cachimbo. Ao fim de tarde tomo um whisky a congratular o sol por mais um dia ido. Não tenho chatices aqui e como sou velho sou feliz. 

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Miradouro do Morro de Campolide












Fabuloso Miradouro para Monsanto.
Passei lá noutro dia e hoje fui efectivamente investigar 
e isto foi uma parte do que vi.


Castelo


a Natureza sempre Cresce


Panteão


Street Eye


Lumiar


Coisas da cabeça que o coração sente e mistura tudo numa encruzilhada de travessas e calçadas onde subir e descer constantemente é a vida. O risco em frente se for sempre, não é risco mas chama acesa de acreditar na vida. Agora, com medo, tudo mas Tudo se torna difícil e como que impossível. É uma coisa feia ter medo, ter medo dos seus próprios pensamentos. Normalmente nisto a morte ajuda a compreender o que de medo é fantasia e que a energia que nos guia é aquela que deve ser seguida. Mas a morte é difícil de achar quando uma pessoa se sente demais viva. Algum descanso da vida... Porque fazer disto tudo uma mania de grandeza se o que se mais sente é pequenez? Pequeno o ser humano anda por aí, sentindo muito, falando pouco e tropeçando nos seus desejos e vontades. É preciso inventar a realidade para que o coração não chegue lá. É um órgão confuso este... Difícil de entender, mais ainda quando o cérebro tem "certezas" opostas. Misturar os dois é o segredo mas tão difícil é. Queria ser ligeiro como um dia consegui. Queria o pragmatismo de trabalhar, observar e sentir sossegado. Agora estou todo largado pela vida e o mundo, me querendo fechar num ninho meu, e mesmo esse está como que amaldiçoado por mim e alguma cobardia mista. A questão é não ter onde investir, não estar integrado, não sentir que a coisa flui sem mim mas comigo também. Aí, os amigos, a família e o passado - consciencializado - ajudam muito. Mas há qualquer coisa que me desiste de viver, uma vontade de sossegar que é tão difícil de assentar. Tenho medo de mim. Há qualquer coisa pré-editada que parece que quer que eu falhe, que não consiga. Acertar e conseguir na vida dói um pouco, como já Vinicius dizia:

"Se a felicidade existe, eu só sou feliz enquanto me queimo e quando a pessoa se queima não é feliz. A própria felicidade é dolorosa." 

domingo, 20 de novembro de 2016

Oh, minha alma quer-se ver livre da realidade humana.
Os pensamentos mirabolantes de uma mente que foi correr à chuva!
O frio, a chuva, a noite e o desporto fazem a loucura tomar conta de mim.
É que de ficar parado fico torto e não sei como lidar com a coisa de ter um lar.
A pressa de fugir, descobrir o desconforto para nele encontrar conforto a persistir.
É que tanto peso e demora, e tristeza e neurose fútil, fazem-me rir e nunca chorar.
Não consigo dizer o que me enlouquece, não consigo disso me partilhar,
só consigo antes tornar isso pensamentos, ideias e movimentos e daí
escolher linguagem e matéria-prima de conversação intelectual e, também, afectuosa.
É um precipício tudo isto, toda a vida, seja assim ou de outra forma.
A vida é uma coisa de loucos que só quem a vive absolutamente sabe
e sabe apreciar e dar graças aos momentos de alegria e destreza espiritual.
Tento a coisa, tento saber o que me faz louco.
Mas não há nada a saber - porque afinal já o sei...
O movimento é necessário para mim,
o desconforto então é essencial.
O medo que tenho à vida é o consolo que me dá a arte.
Enfrentar tudo isto sem ficar maluco.
Ser tudo isto sendo sempre alguma coisa.
O tempo e o espaço e o segredo de ter de avançar sempre
por mais que magoado ou fragilizado pelo mundo e os outros.
Não é coisa para fracos a vida esta.

sábado, 19 de novembro de 2016

La vitesse est la seule armure de mon âme.


(bien en français, non?)

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Olho o rio e lá no longe penso o mar.
Vejo quem se me intercepta na cabeça como uma flecha,
umas boas outras más.
A autoridade, a agressividade, a violência
e o amor - tudo está no mesmo saco.
É pena um gajo se sentir inferior
seja por isto ou aquilo
e pior quando por si criado
porque lembra fantasmas de outro lado:
passado.
O passado é história de fantasia
por onde entreter o presente feliz
e permanente.
Se acordam os demónios do passado
então o presente fica amaldiçoado,
mesmo que com amor.
E pior se houver amor
porque amplifica tudo;
demónios, anjos,
violência e afectos.
O coração sabe lá disto!
Há que o entreter com matemáticas
para que não me faça sofrer...
Mal o passado não resolvido
e uma vergonha imersa em superlativa
imaginação própria do que se é.
Sei tudo isto ser brincadeira e fantasia
mas se se sente, será real?
Parece...
Como acalmar os demónios
que vêm ao de cima com as fragilidades
de crescer e gostar e querer ser isso?
Finalmente tentar ser o que se é.
Mas quem cria
não quer nunca ser,
diga-se a verdade.
Que estagnação absurda ser-se absolutamente,
afinal...
Fingir ser para os outros enquanto se sabe disto
perfeitamente por dentro - aí sim está a alegria de quem cria.
Máscaras de fantasia que felicitam a vida e os outros
de uma certa e tal cobardia do próprio que a cria.

Interlocutor da mente.

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

The lone wolf finds himself in the woods
caressing his wounds from the past fights
he created.
No war ever greater than the ones he's creating.
For some are greater than others
but all are wars to be fought
for him to embrace himself completely
without pity or ambivalence.
Sometimes the wolf is too much alive
and open and doesn't see that the world
and his peoples are torned,
full of self doubt and envy
for such a fellow wolf.
And the wolf being strong
but not wanting to fight
fights himself through darkness
till the light.
It always as been like this.
It always will be like this.
The lone wolf is cautious not
to loose his time in this miserable fights
but in love or not alone, being with someone
on his bed, he looses the boundaries
and thinks his life within
can come precisely and fulfillingly
to the eyes of realities mind:
others.  
For sure that others are hell
as the other great writer wrote
some time ago.
For sure I've been wise
to keep it to myself, my world
of wonders of mine interior shell.
But love and emotions
break the boundaries of this
divine discipline
and make the heart, mind and soul
suffer after the major feelings of encounter
with another, and with yourself aswell.
Got to go back to the roots
lone wolf.
Find new beautiful and unknown boundaries
and limits and go beyond till it hurts.
Because the lone wolf is just happy
when it hurts...

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Enquanto a vida anda por aí e a vejo
tanto há de desconhecido nas entrelinhas,
outras frequências e conhecimentos...
Coisas da qual fui outrora mestre e agora
distraído disso, demoro a encontrar.
A arte do encontro é a maior das artes.
Saber estar é outra,
andar e pensar outra ainda.
Coisas simples.
Estar atento a isto
e não a coisas da cabeça
é o que nos faz sãos.
Atento o passado com discordância constante
mas deixando-me morrer
logo acontece ver, nitidamente,
o importante disso.
Saber morrer é uma arte
que conhece a vida mas
não a acredita por completo.
Nossos superficiais e primitivos cérebros
e coração não sabem da razão da vida existir
e não haver nisto nenhuma solução.
A vida um mistério e assim deve ser
com alegria de criança persistir
em encontrar quem mais dá para descobrir
e explorar.
Concreto pensamento se logo deve matar
pois se não cresce de importância;
e qual importância tem ele que já foi?
É preciso esquecer,
esquecer ainda que se vive e se é
para se ser precisamente isso
a cada momento.
O paradoxo da vida é coisa bem guardada
e só quem sabe sofrer e descer e se perder
se pode disso aperceber
como que concedido pelo grande mistério da vida.
Todos nós procuramos certezas e ideias
e tabus que nos guardem a sanidade mental alcançada
mas basta algo na vida acontecer para se calhar
disto nos perder.
Matando, antes se concede imediatamente vida eterna
e estas ideias, conceitos e certezas.
Deixai a vida fluir meu filho.
Pensas tu ser e parecer
mas mais não és que um fantasma de teus pensamentos.
Deixa-os para trás e conecta com o incógnito.
Aí ele te demonstrará realmente o que tu sentes e precisas.
Deixa-te para trás e avança
que só te encontrará o que tu és realmente.   
A minha grande arte sempre foi a capacidade de morrer.
Não há coisa mais conseguida que uma boa conversa.
O entendimento que se gera na simples conversação
é para mim algo de superior.
Eu falo, o outro fala, argumenta, me convence
e se gera um apreciar mútuo da inteligência e
julgamento de cada cabeça em sintonia tranquila.
Acho que vem de família, do passado e do hábito
de argumentar, refutar e convencer ou ser convencido,
como se de uma luta se tratasse mas sem violência
senão a inteligência - que bem vistas as coisas é a real
eficaz violência que existe nesta vida humana.
Coisas simples como falar contigo ontem, meu amigo,
fazem agradecer te conhecer e viver comigo também.

Sol Cascais


Alcochete





terça-feira, 15 de novembro de 2016

A guerra é a única amiga do artista e criador.
Don't run from pain.
Look her in the eye and walk her through life.
Let her see the light
and caress her while she evaporates to the skies.
E tenho os pés descalços e canso-me de andar pela terra suja que me alegra a alma
e me enche de uma certa calma que é o silêncio do universo.
Vejo os carros e as cidades e sorrio para mim sua infinita pobreza de terem de andar assim,
bem vestidos, com pressa e maneira de falar coerentes.
Nu, invisto num futuro que não abre alas a palermices e descansos de preguiça.
Aqui a tarefa é andar e persistir em acreditar que isso leva a algum lado.
É uma arte marcial que me junta a todos os seres humanos alguma vez existentes
nesta terra e que existirão.
No abismo disto e do que me vai na cabeça
imagino soluções, danças e sorrisos que alegram ninguém mas a mim
e talvez assim o espírito maior que dá e tira vida.

Foi com pena que atravessando a estrada me atropelou tal grande camião
em que o condutor tinha adormecido.
Lá me levaram para o hospital, comigo inconsciente e silencioso.
Acordei passado uns dias.
Ninguém à minha beira e todo cheio de tubos e pip's ao redor.
Tirei aquela merda toda mas rápido uma enfermeira veio-me agarrar
ao que eu resisti e ela gritando chamou uns bruta-montes para me imobilizar.
Bem, estava furioso, precisava de andar!
Sentir as pernas e deixar a mente fluir.
Disseram-me que "não" por gestos - sei lá eu a língua deles!
Fiquei por lá mais umas semanas, com cordões a me segurar todo o corpo
e menos furioso fui-me deixando observar aquilo tudo, imaginando estar a andar.
Quando recuperei, vestiram-me de roupas e meteram-me em pé e como que sorriram
para mim, parecendo dizer que já estava bem, que já podia eu andar.
Lá andei um pouco mas os músculos atrofiados quase me mandaram ao chão,
não fossem, mais uma vez, os bruta-montes me segurar.
Bem, perguntaram-me por casa e eu disse que não tinha.
Familia? Também não.
Trabalho? Não.
Bem, mandaram-me para a rua com um papel que mostrava um número grande
que me disseram, mais uma vez por gestos, que eu tinha de pagar dentro de um mês
senão ia para a prisão. Não percebi nem uma nem a outra coisa mas um carro chegou-se
à minha frente e disse para eu entrar. Lá entrei.
No fim da viagem mostraram-me uma casa, com cama e essas coisas e foram-se embora.
Achei simpático tudo isto mas queria era andar!
Logo que tentei abrir a porta vi que estava trancada.
Achei estranho mas acabei por andar à volta do quarto a noite toda.
De manhã abriu-se a porta e chamaram-me e levaram-me
para um sítio com pedras e disseram-me, por gestos, para pegar nelas
e levá-las para outro sítio.
Eu disse que não e um dos senhores deu-me uma cacetada com toda a força nas costas.
Bom, pensei que tinha mesmo de ser e que pelo menos podia caminhar.
Dias e dias e dias disto, tanto que me habituei.
Já com um sorriso na cara fazia aquilo porque o andar
que o levar as pedras de um lado para o outro concedia
fazia a minha mente imaginar a vida na terra suja, nu e descalço de outrora.
Cada mês me mostravam um papel que parecia dizer que os números grandes,
que vi no outro papel à saída do hospital, iam diminuindo.
Bom, pelo menos isso, pensei.
Meses e meses depois lá me deixaram sair porque o número tinha chegado a zero,
bom a um pouco mais agora.

Deram-me papéis estranhos para a mão
que me disseram,
por gestos, serem valiosos.

Disse tudo bem e fui-me embora.

Lá no fim daquela estrada encontrei
novamente a terra suja e descalcei-me
e despi-me e sorri e corri para a vida.


(exercício de escrita...
era suposto continuar para ele se civilizar, standardizar
e só depois finalmente sair para a terra "suja"
mas a verdade é que me é tão difícil escrever
em prosa ou manter coerência em textos longos
- canso-me rapidamente)

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Se a serpente não é respeitada
a serpente come-se a si mesma.

Respeita a serpente.

Mantém-a sempre a ir em frente
e segue-a,
aumentando o círculo à volta dela
pois a verdade é que sempre
se acaba por comer a si mesma.

Vida e morte.

(não deixes que a morte te coma a vida)

terça-feira, 8 de novembro de 2016

...a inocência meu filho
é o pai de Deus.



Quem na inocência consegue vislumbrar a vida,
o mundo e o tempo, e neles se deslumbrar,
não tem inimigos nem frente
pois que frente há à abertura total e sincera?


meu coração é uma sombra
mas nesta sombra vejo eu luz


dá-me o mau que dele dir-te-ei o bem
e dá-me o bem que dele te evidenciarei o mal que dele vem

Vida um mistério
e no cerne dele pareço ter de ficar, ser
e identificar.

Para mim e, porque não, para os outros...

Pois já que dom tenho de escrever
- e me aquece o entardecer da alma -
tenho que por aí me fazer ser:
seja em escrita seja em físico.

A alma que acredita tem de continuar assim.

A crer e a ditar por palavras ou ar
- sendo o fim de si mesma -
em tom de quem nasceu para dançar
a amargura da vida em sorriso de criança.

nada o que me possa alguma vez matar
senão a morte física deste corpo
que o além dele já vivi mais que demais vidas

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Tão lento está o meu menino...
Tudo o que pensa lhe afecta a alma.
Como se a mente estivesse no trono
e toda sua mentira mentisse e verga-se
o coração e alma à hedionda falácia da vida.
Ah meu querido, estás pequeno, pequenino
tentando fingindo-te homem, como se quer,
e não te deixando ser assim, pequenino
como deveras te estás a sentir...
A questão é outra e é a mesma.
A solidão guarda o portão que te guarda do mundo.
Agora te não guardas porque partilhas a vida com Ela.
A guerra que amas é pacificada.
É bom para muitos e até para ti,
quem sabe, noutro prisma e perspectiva de vida.
Mas tu não sabes subir, não é?
Tu só sabes descer quando sentes que a subida
é uma traição ao que sentes no íntimo.
É uma chatice ser quem sou.
Mas é a única coisa que afinal sou.
Eu.
Quando me tento mudar, vergar e
de alguma forma, no fundo, agradar a alguém
me querido
logo me tropeço em cerimónias que me gastam
aura e sentimento, intelecto movimento da vida.
Quero fugir para a terra do nunca,
quero sentir-me morto novamente para quase tudo
só não para aquilo que teima em me fazer querer estar aqui.
Normalmente é a Mulher, a disciplina e o sentido de que
tudo o que faço, a qualquer momento,
é deveras um reconhecimento
de que há algo maior a mim.
Gosto de crer em deus.
E a única forma de crer num deus real
é fazê-lo existir pelos teus actos do dia-a-dia.
Equilíbrio.
Apenas um equilíbrio,
seja amoroso, económico e social.
O ideal é ter todos em sintonia.
Aí se vê e sente o ideal que se É finalmente.
Claro que o mundo quer estupidez
e rapidez, satisfação pronta e gratificação imediata.
Mas isso, o grande espírito sabe, que rápidamente
também se vai e só fica a chatice de encontrar
novamente razão para a vida.
(Estão estudantes lá fora,
aqueles infelizes que se vestem de negro,
com grandes mantas,
e gritam e gritam
canções e idiotices.
O quanto desprezo esta gente...
Carne para canhão da próxima geração.)
Bom, mas voltando a coisas importantes.
Procuro trabalho e vejo-me enfiado
num casulo gritante de precariedade.
E tudo feliz e tudo, na mesma, querendo
ficar rico.
É uma coisa engraçada este mundo dos humanos.
Simplesmente não aprendem nem querem aprender,
seja com a história, seja com o viver.
Sei disto porque eu próprio tropeço nisso...
O mundo está estranho.
Mas o que me mais dá pena
é eu não estar em sintonia com ele.
Se tivesse talvez o podia ajudar
e me sentir, ao menos, minimamente
pertencente a ele.
Agora estou apenas alienado dele e de mim.

Grita a Puta da Vida a Fora!   
A stand-up comedian is a failed poet.
Nonetheless he is a poet.
A modern poet perhaps.
I miss seeing life come and go and only I standing.