Enquanto eu estive em Paraty, no Brasil, este ano,
cruzei olhares com um homem de cabelo rapado a zero.
Um homem alto e concentrado, um pouco desesperado talvez.
Era empregado de mesa num dos bares mais populares da praça de Paraty,
aqueles que fecham mais tarde que mais turistas chama e mais caro é
- portanto não pus nunca lá os pés...
Bom, um dia fui a uma loja de internet para saber de meus afins digitais
e lá estava ele a dois computadores de mim.
Enquanto ele falava um português absolutamente de Portugal
eu exclamei para mim mesmo: "Então é isso, ele é português!"
Bom, ao que ouvi da conversa, o homem estava num certo desespero
por não ter dinheiro nem para continuar no Brasil nem para voltar
para Portugal. Falava com a mãe e família quase por arrasto,
numa de "tirem-me daqui" mas a família, a mãe, pareciam distantes
e sem-forças para ajudar, nem posses provavelmente para o tentar.
Ainda troquei mais uns quantos olhares com ele pelas ruas e zonas
de Paraty - sendo que tive lá praticamente um mês.
Nunca nos falámos. Em parte porque, estando no Brasil, eu não queria saber de Portugal,
nem de portugueses. Não falámos porque aquele desespero é coisa individual.
Não falámos porque eu não tive, na verdade, nenhum interesse em falar.
Achei apenas graça a sermos dos poucos - quem sabe únicos - portugueses
ali perdidos no antigo porto de riqueza de ouro e escravos para a pátria-Mãe.
A razão de todo este texto é que há dias cruzei cara e olhos com este alto senhor
aqui em Portugal, na Avenida Almirante Reis, já ao pé do Martim Moniz.
Parece que afinal conseguiu voltar são e salvo.
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