Li há bocado um escritor Sul-Africano
- Breyten Breytenbach - dizendo que
os "turistas matam tudo". Disse ainda que lhe
era difícil compreender que os turistas,
além de serem turistas, eram também
pessoas normais.
Vem a propósito ler tal coisa vinda de quem não eu
pois há uns dias que pensei em escrever sobre esse fenómeno
um tanto macabro: o do turismo actual.
Lisboa está coberta de turistas,
são mais eles que vivem a cidade
que os seus trabalhadores
que mais assistem aos sorrisos deles.
Como uma nuvem de água que molha
e vai embora, secando as águas com sua rápida ausência.
Espevitam a economia e o empreendedorismo
mas estes vindos de fora, vindos de quem não é daqui (ainda).
São almas que não conhecem nem reconhecem espaços
nem maneiras, tudo lhes é igual porque tudo é diferente
ao que lhes é nativo - lá na terra deles.
De maneira nenhuma condeno o turismo por si só
mas o excesso dele; não tendo como o combater
com questões culturais daqui, gente daqui
que trabalha a cidade, vive-a diariamente.
Ser de Lisboa também longe está de significar ser Português
já que este espaço de terra é habitado há milénios por mil e um povos
e hoje mistura, tão bem, faces, cores e línguas de todos os continentes do mundo.
É do turista que se fala.
Ainda mais do turismo.
Lisboa e Portugal estão perfeitamente em baixo,
plenitude de desesperança colectiva e extensiva.
Tudo que resiste aqui, fica por aqui.
Sem voz e sem saída,
ganha calos e dores,
medos e pavores,
angústias desconhecidas
porque não vindas ao propósito
de Lisboa estar em festa.
É das cidades mais Fascinantes do mundo
para visitar em 2014!...
Quem usa e faz funcionar a cidade?
O trabalhador.
O turista é apenas quem compra,
quem apesar de tudo abre possibilidade
à abertura de empresas que afinal se centram
e concentram - apenas - nele, no turista.
O turismo é uma invenção,
viajar não.
Quando uma cidade se foca no turista
perde o olho ao seu comum cidadão.
Com o turismo e essas belas publicidades
- perfeitamente artificiais e perversas mesmo -
que ele fomenta, a roda de baixo
- do cidadão trabalhador - vai andando
como que para o turista, para o turismo.
Não é forma de gerir uma cidade,
um país, uma cultura...
A sincera revolta ou reivindicação de direitos
é obstruída pelo sorriso fácil e despreocupado
de quem visita o que não sabe
e sabendo esquecerá rapidamente.
Falo com velhos de Alfama, Santos e Alcântara
e todos me falam do "Antigamente".
Claro que esta conversa surge sempre
mas não parece tão mal esse tempo
em que os bairros todos de Lisboa
estavam vivos e cheios com gente daqui
e acolá a viver junto, na mesma rua,
mesmo prédio.
Até eu, estando longe,
deixei-me seduzir por essa publicidade,
alucinatória, do turismo da cidade de Lisboa.
E aqui estou.
E a verdade é que gosto disto,
gosto disto porque conheço isto
e sei que há tanto ainda por conhecer aqui.
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