Oh decisão, decisão,
não queres decidir por mim?
Manda uma bomba,
uma catástrofe natural,
uma coisa clara e certa
que amanse a mudança incerta.
Num domingo mudar de quarto,
mudar de casa...
Prefiro amanhã.
Mas amanhã chega deveras
e torna-se hoje
e o hoje é coisa de consequências brutais!
(para o bem, para o mal).
É que é à pressa pa!
O inquilino do lado é venenoso
e o ambiente se perdeu:
deixei de ter o meu
e o vazio.
Quero do outro
mas e se o outro me colhe mal?
Leva olhares frios para se soltar de mim?
Oh pois, com certeza,
a defesa natural da sociabilidade forçada.
Oh, decisões, decisões,
o que acarretam vós!
(e o que cresce do estar aqui parado
a vos ver sentado, sem a mínima proximidade
- só fantasmas.)
O palerma sou eu, afinal.
Que do lado pode estar outro
e ser o lado meu o em que ser
independente,
crente.
Palavras não espantam realidade.
Escrever existe para quem não mete o pé à frente
e observa o que lhe cai na vida como criança com demais vista.
Portanto, escrever não
para tomar decisão.
É do vento a vida,
e se me a isto custou
há desvio e provável encontro outro
que nem espera tinha porque não prevista.
Saio porque tem de ser,
fico porque ainda acredito
(que o venenoso se esvai)?
Ah, mas há quem seja dono do dinheiro do ninho
onde dormir, esquecer e querer e crer.
Há que satisfazer as colunas que nos sustêm.
Ser sensato, adulto, inteligente e elegante.
Assim se faz a vida.
Em Lisboa sou só mais um
que luta a vida a viver a perda que está no ar
que sorri, cheia de afecto, para nós que andamos as ruas
(e nos deitamos tarde embriagados).
Oh, que não queria fazer isto!
Mas a vida não é só nossa,
há os outros e os outros são
- precisamente nestes casos -
parte de nós.
Mudam-nos a vida
e só o eu pode levar isso para terras de cima
e não ficar amargurado pela paragem e estadia em terras baixas.
Ah, mas o que digo eu!
É domingo porra!
Mexe-te mas é
ó cabeça sem pé!
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