sexta-feira, 31 de julho de 2015

De vez em quando
minha criança me acorda,
bem de madrugada,
e me faz chorar.

Quando isto acontece
sinto uma absoluta felicidade
misturada com enorme tristeza.

(Vivo em perfeita harmonia cá dentro
- o que, na verdade, representa acesa natural guerra.)

Minha criança vem-me lembrar nascimento pessoal
e confronta meu tempo de corpo, e experiência,
com uma espécie de amorosa tirania.

Nesse confronto
sinto a absoluta razão da vida,
o grito do amor
rebentar a disciplina do dia-a-dia.

Perfeita sinceridade,
é tão bela que apetece morrer
- só por a sentir
assim sozinho e como que tranquilo.

Sim, porque aprendi demais cedo
porventura a amar-me cá dentro.

Sei isso ser o grande segredo desta vida
e não deixo coisa ou ninguém
me desviar do caminho segredo cedo descoberto.

Assim quando isto acontece
volto ao equilíbrio.

Volto a lembrar que não só há
as exigências do mundo
mas (talvez) somente
esta absolutíssima tristeza e alegria
que me faz chorar criança minha
ao dia do presente
como um bebé;
como um pai
que se leva a si mesmo
pela vida a fora.

Sempre junto a ele
e a sua criança,
o meu amor.

domingo, 19 de julho de 2015

Por vezes não me creio vivo.
É qualquer coisa de sentir que estou sempre antes do além que presencio só por baixo do cabelo.
Meus sonhos e desejos correm alto quando cá em baixo, onde meus pés pisam, não me sinto em pleno.
...porque eu faço por me sentir em pleno a qualquer momento
- seja em vida real, seja em pensamento metafísico.
Mas, de vez em quando, a vida não me acontece.
E aí meu imediato impulso é mandar tudo pó caralho e fugir para as sombras e odores da solidão assombrosa de conseguir o paraíso ao renegar à vida - essa do corpo.
Um pouco como aquele filósofo dizia que o inferno são os outros...
Identifico-me um pouco com isso.
Mas identificando-me logo me desinteresso e o que quero asseguir é afinal o outro novamente.
Portanto, complicado ser alguém - complicado ser eu.
Ou não, deveras que não, sendo que todos nós temos estas merdas...
É o que se chama ter razão e saber tê-la sem lhe dar razão.
A escrita está meio longe agora.
O trabalho pesa-me a aura mística e a dinâmica mental.
Fundos económicos tento arrecadar.
(já arrecadei - creio - demais os outros...)

É isso: não estou no ponto.

Regras a cima do que se sente
e descobrir novamente
o que dentro do embrulho se esconde:
Surpresa.

Assim, deixai de ser velho ó corvo!
Voa as asas ao azul do céu
e deixa a manhã descobrir-te a cor
do que sonhas por dentro, por mais que negro,
ser afinal louvor.


terça-feira, 7 de julho de 2015

Cai noite, cai.

Cai que tudo cai contigo.

Assim me durmo em umbigo
de não saber e na mesma
acordar de manhã e ver
e ver - sentir também.

Quem vai e volta desta vida?

No sentir sinto pena de perder
mas na verdade pode aparecer
e vir e ser, de novo, novamente.

Acerto contas à vida
- que sempre Ela minha grande Deusa a prestar.

Sei pouco da vida
hoje que a vivo
sem preconceito,
sem medo.

Acordar do ponto de chegada
e ver partida.

Senti-la sem me a deixar sentir
 - que aí me perco meu amigo.

Um dia chega para mim.
Durmo e acordo e vejo o que trará o dia novo.

É uma maneira de viver a vida.

É um não sei quê de ser cobarde
mas sendo-o, afirmativamente,
tem qualquer coisa de heróico
- diz a posterioridade...

Careço de carinhos que tive.

Alcanço os carinhos de não saber.

Vou lá e vejo ou vem lá e vê...

São caminhos da vida
e eu a ela nunca nego premissas.

Ela escolhe.
Eu confio.