segunda-feira, 31 de março de 2014

...fico a pensar se falo bem ou demais centrado naquilo que sei(penso que sei).
Mas afinal, a unica coisa que nos dirige a vida é o pensar que se sabe o que se pensa,
fora isso não há nada, ou há o demais de informação desgastada. Presto-me então
na teia de um fascismo ideológico - de minha só autoria - desviando-me dos conceitos
e pressupostos, como que analógicos, à minha fascina digitalização cerebral. Creio um
erro em termos sociais, creio que um declínio em espécie de desenvolvimento heterogéneo
mas o que há de homogéneo nisso me faz continuar... E adoro quem se preza no meu caminho
e o critica, aprecia com condutividade e despreza veemente. Tudo alimenta nessa cadeira de
vento e fumo que agarra só o que não se move. Mas mover, a dança da vida e nesta estranha
utopia me movo em dúvida e serena precisão de não saber o que colho e colher pronto sem saber.

Noite à chegada
e partida de um domingo
tão igual aos outros:
melancólico.

É tempo de dormir:
coisa de partir
para onde não são
pensamentos mas
movimentos outros
longe dos que pesam ao corpo.

Sol ao do acordar
e até lá
nada a dar
antes receber,
fruto estranho do não aparecer.

   

sábado, 29 de março de 2014

Proponho o não pensamento.
O não pensamento quando a mudança chama
como uma correria de gritos, ideias e surpresas.

O não pensar sim
pois permite o entrar de novas histórias
e acontecimentos,
pessoas e afastamentos.

Pensar pouco
até o não pensar ser gerado
e realizar nova coisa a encontrar.

Há medo, distúrbios
e vertigens
mas rápido se adapta
essa máquina que somos nós todos
individualmente.

Um dia,
uma noite.
Entre, o sono
que guarda sonho a manifestar.

Acordar outro,
e tão certo o mesmo.

sexta-feira, 28 de março de 2014

Stone That Knows How to Fly

Distance learns by days
as the heart grows colder
and hands harmer.

On the high
want to be
forever away,
not to shine by day
but night -
eternal little nights.

The smell insides the fear
and the new and the real
grow taller
as everything else weakens.

Hello little girl,
would you like to pass
the next years with me?

I have nothing to offer
and everything to deserve.

I only know how
to loose your wings
and see you fly.

As I stay on the ground
looking at you,
at the sky,
manifesting my mind.
E no passo te passo um tempo
enquanto cego te procuras encontro nosso.

Só tempo
e no tempo te encontro,
não como és mas como me reages,
fruto de Diógenes e assim.

Depois
caio de sono
de sonho
de mulher;
encontro o que não tem de ti.
Mas se é de a fim, te encontro sim,
te encontro sim...

Amizade:
coisa dura que não tem idade.

Amizade.

De jovem a adulto
e depois velho,
quem sabe...
(Chegaremos a isso?)

Oh noite!
Que nas peripécias
de te não querer
te mais encontro
como deusa que me teima
em aparecer.

Não aparece a outra;
Coisa física,
coisa que possa eu agarrar,
colher, comer,
fecundar...

Nasce de mim sempre a solidão
e não conhece ela outra mão.

Dor que nem dói,
pois familiar sendo
é casa,
ninho onde, ninguém, eu dorme.

Madrugada
soletra-me as cores.
Eu que sou de Lisboa
e aqui é só sabores.

Que os conheça,
nem tanto...
Mas que há que os conhecer,
sem dúvida.

Norte ao fim do rumo.

Estou aqui
e o resto nasce e cresce
sem mim,
na imensidão
do mundo ser sem fim
comigo ou sem. 

Escrevo-me agora
para te encontrar,
oh doce poesia que me conhece
trunfo.

Dorme-me a chegada
que te quero chegar pronto
dentro de uma nova,
limpa
pousada.

quinta-feira, 27 de março de 2014

A cada dia que passa,
mais longe donde vim
mais perto do que ainda não conheci.

Conhecer:
principio perfeito do crescer.

Que custa,
não há dúvida.
Especialmente quando
de nada há em frente
se não a necessidade de o ir.

Cada passo uma revolução.
A única revolução certa
pois a outra plural,
indiscriminada.

É o individuo
que guarda as forças
de cada seu destino.

Um cigarro a mais ou a menos
faz a diferença.

Uma cerveja de final de noite
pode levar ao encontro do grande dia.

Atravessar a estrada
fora da passadeira,
desviando-se dos carros,
para encontrar o outro lado.

Simples e,
no entanto, o mais difícil:
cada passo um desafio.
 

quarta-feira, 26 de março de 2014

For the buildings alive in new strange life
found together by purchasing sun over night:
blue light.

Pull the wings towards her;
baby gets fatter by your moon.

Nice to feel the stars together,
feels like they're not so alone.

So long.

Waves of seas
fill the winnings of a night,
and all that is all, lost.

Morning awakes.

Capivaras no Rio de Janeiro









E Mais Lagoa















Porque hoje fui correr pela primeira vez na lagoa do Rio de Janeiro. 
Abrir os pulmões para eles respirarem o ar importante e deixar também entrar
o outro, tão pouco saudável, mas de tanto viciante como a vida: Tabaco.

terça-feira, 25 de março de 2014



Amor de prima à lua.

Solstício apruma
quem se deita ao sonho
aguardando a conquista,
serenando tempo.

Oh do céu escuro e triste,
sozinho na pedra de sal
não ausculto continuação
doce e meiga
ou forte e aventureira.

Sempre um tão dado conhecido
que embora desconhecida visão,
precisa orientação.

Quem do gerúndio me pega
e leva por caminhos que me deixem levar?

Mete a corda a quem roda lá à frente
e sai da frente distraindo a tua mente
que apenas e só mente.

Em frente.

domingo, 23 de março de 2014

E só de ver ou ouvir quem de amigo é
a dança vai em frente e não se
perde cansada antes de conseguir.

Solidão é um cão sem dono
nem protagonismo.
Come os sonhos por
não falar e se ouvir falar.

Aí os olhos e expressões dos outros
asseguram presente a ser,
sentir.

Até lá tudo que a solidão fala
é coisa vã,
medo de prosseguir,
de ser.

Essa pedra que me habita
precisa de asas
que a esqueçam enquanto voa.
 
Hoje acordei com febre: 38,3 graus. Um cansaço anormal e uma cabeça do dobro do tamanho. Espero que não seja dengue, especialmente dengue hemorrágico. Não é coisa de se ter quando se está em viagem, de férias ou de passagem... Já tomei um paracetamol, o que me fez baixar a febre mas ontem à tarde, como já estava a sentir sintomas, tomei um brufen - efectivamente o que não é aconselhável em casos de dengue, porque tem um ácido que pode irritar o organismo. Bela merda. Se calhar foi esse medicamento de ontem que me pôs assim hoje. E ainda umas cervejinhas entraram depois... Bem, espero que não seja nada de mais, talvez nem dengue, apenas uma febrezita. O problema é que o Fernando vai tocar hoje no Bambina e, como vai tocar sozinho, precisava de companhia e força amiga. Hoje deveria ficar por casa a descansar mas, se calhar, terei de lá ir. A ver. Não há de ser nada, amanhã estarei melhor - certamente.

sábado, 22 de março de 2014

A passear pelas ruas de Botafogo eu me sinto quase já em casa; quase conhecendo o leme
de conforto ténue entre eu e este mundo estranho e diferente. A sociabilidade aqui é
diferente da que estou habituado; e por mais que me pense versátil já o não sou tanto
e me creio velho, bem mais velho do que o que sou, como se tivesse chegado a um fim.
Mas este fim guarda, afinal, um principio - como todo o fim aliás - e nisto eu aguardo
me habituar a este novo estado. Não sou de esforçar um lado, principalmente o meu lado.
Sou de deixar fluir sendo com tudo o que me limita e habita, florescendo então assim - meio
que torto mas sempre indo, subindo (espero eu). Sou deveras cobarde em muita coisa
que não esforço, que não tomo iniciativa, que não deixo me seduzir cá dentro - onde tudo é certo.
Enfim, escrevo porque sim, escrevo, (porque me muito também questiono sobre este estranho
ofício), para lembrar e esquecer a vida outra e esta, e quem sabe das duas fazer uma boa.
Queria só uma e deixar a imaginação para outro, para a arte, para o tanto que já escrevi no
passado. Gostaria de largar esta toda alegoria de pensamento e vida - coisa distante à física.
O gato aqui, a meu lado, não mia, nem quer vestinhas mas gosta de companhia. Em parte,
sou como ele, ou melhor ela, porque é uma ela, uma gata. Entretém-se sozinha e se esforçam
carinho ela arranha. Chama-se Névoa e é um bom nome porque a evidencia como misteriosa.
Coisa que ela é não o sabendo. Que dádiva! Para quê saber-se o que se é? E que pretensão
tremenda pensar-se já ser antes de uma nova oportunidade a ser: presente. Oh mas falo demais.
Pior, escrevo demais! Ainda que falasse... Porque falar a maior arte. Conversar, o maior encontro.
Mas devo admitir que estamos numa era em que a comunicação, por ser em demasia e por ter
como base o capitalismo e a economia, é pobre, pobrinha e cansa mais do que descansa a alma.
Ser simpático aqui não compensa. A simpatia é a moeda de Portugal. Creio que aqui, no Brasil,
é, claramente, a mulher e a sexualidade que ela sempre desperta ao homem, a moeda cultural.
Não é uma má moeda, até porque há belezas aqui que não existem em qualquer outro lado.
O brasileiro falado por uma bela brasileira é sexo auditivo, é sensualidade e sexualidade ao vivo.
Tenho demais dúvidas quanto a vida a tomar. Espero. Mas não sei se devia. Minha vida é, em
grande parte, uma espera. Já vivi muito fora dela mas a espera é-me concubina astral. Tento dela
fugir mas sempre a ela volto. Até uma outra me resgatar deste estado...  
   

sexta-feira, 21 de março de 2014

Aqui fumo tabaco de maço.
Marlboro, por vezes Lucky Strike
- os dois vermelhos,
os dois 6,50 reais;
coisa como 2 euros...

O cigarro divide-se em 3 elementos essenciais:
tabaco, filtro e murtalhas (sedas aqui no Brasil).
O tabaco vai de 14 a 30 reais.
Os filtros vão de 10 a 15 reais.
Sedas são 5 ou mais reais.

Claro que o maço de tabaco de enrolar
dá para uns 60 cigarros mas aqui isso
não compensa. 

Em Portugal fumo
tabaco de enrolar
desde os 16 anos;
porque é bem mais barato
e porque é mais "saudável"
(sem alcatrão e com menos químicos)

Aqui o tabaco de enrolar é incrivelmente
mais caro que o tabaco de maço,
então me rendi a esta outra economia
e agora gosto destes cigarros industriais;  
coisa que nunca apreciei ou pensei vir a apreciar.

Fim.

O que fazer quando o ser
mais está dentro de palavras,
e suas encruzilhadas,
que na vida de estar e ser?

Algum refúgio que não há...

Então ser o não refúgio por completo,
evidenciando-o?

Demais incompreensão
e qualquer sensatez
implica continuação.

...mas é coisa que aparece
e desaparece com igual sensualidade.

Como por uma mulher,
ser possuído pela arte
faz do cérebro um caminho para o nunca,
sempre.

Oh mas que dor de cabeça!

Deixar as noites ser
encantadas pela boémia
e a viagem.

Conhecer e reaparecer
desconhecido,
mais leve.

Sinto um peso que não larga.

Qual dos ofícios me dedicar 
para me disto eu libertar?

Amor,
carinho,
destino:
Mulher.

Sim,
talvez seja

isso.

quarta-feira, 19 de março de 2014

Na espera de ir ficar
dando o eu a receber
o que por aqui sai de ti
sem sequer tu saberes.

Grandes coisas acontecem
pela simples respiração
e indecisões tão naturais
a cada uma dessas decisões fulcrais.

A dúvida,
se é certa a incerta
vida que se escolhe.

E o perder tudo,
retornar ao nada
de não tentar.
Ordem à sorte de não ver
além horizonte
descobrir.

Sentado na cadeira
a escrever
enquanto o sol cai
e a noite vem,
devagar.

O que fazer,
o que fazer?

Quando num sitio
onde se não tem pé
nem referencia
se descobre vivendo
e sendo.

A vida
o maior mistério
e é o tempo
a pedra que a sustenta.

Dormir é o grande refúgio,
o grande descanso de todas
as incoerências desta vida.

Dormir ressuscita o grito do sonho
ou adormece a angústia ou obsessão.

Dormir reconhece o que fica
e deixa o ontem ser passado a ferro
pelas as armas incógnitas do cérebro:
órgão da resolução livre,
sem controlo.

Dormir come os monstros
ou deixa-se ser comido
para se descobrir acordado
sem medo ou dado.  

Assim
quando acordado demais
dorme até não dar mais.

terça-feira, 18 de março de 2014

For there is to be what is left
in the debt of waking alive,
breathing forward another day young.

Exchanging language and feelings
minutes turn into hours and days
fall into nights that gain eternal power
over that routine that lost us in.

Can to find another that knows?

Making the eyes shine
like broken stones...

Forget it.
Never to become again
what remains undone.

So close it finds.
So close it seems,
and yet far, far away.

For it is getting there that lasts more
than a life can take.

Beginning at
and all mumbling being an old moppet of the soul.

Can't control.

When I love
I turn to hate,
distance to behave.

Have another cigarette sir.
What time is it?
 

segunda-feira, 17 de março de 2014

(na lagoa o corcovado)

Por de entender tudo fica
pois de mais só viver.

E viver coisa de outros também,
na dúvida do perder só
ou ganhar com.

Guardo uma pedra preta
que dentro tem luz branca
e calor.

Só pega ela quem também aceita a dor.

Dor que abraça e como que fecha
mas que de sem medo
abraça o mundo com ela.

Em trópicos portugueses
soletro esse português pausado
e o largado de nós de cá
me isola num que não quis ser,
sou.

Então na ascensão de
a lua ser cheia
eu sou com ela
e não durmo.

Deixo o sono aos outros
enquanto a mente fugidia
procura refúgio
num sei lá lugar em que ela crê.

Não creio nela
pois mais de querer
vive a vida cheia.

O longínquo me sempre mora
mas é o perto que dura
e marca a ousadia de viver solto.

Ter que comer e ver
alimentar a alma com a entrega
ao dia e à noite.

Na virada do sol
durmo a lua
querendo a vida nua,
crua.




sábado, 15 de março de 2014

On the beginning of this new life, everything seems away and all that was once centred
is now far from it. Different places were to put and pull perspectives to match intimate satisfaction.
All an alien in this world I feel. In that little place were I was born everything was clear but
kind of dead, living in the past. But going away I recognize that places can't change beings.
Or not immediately. Time is the key to be another or the same in a new haven. Now, to have the
money for that time to pass it's mostly the problem. Money is all around and never enough, like
a cruel and suspicious god that doesn't like you... Work he says, while the publicity and friends,
family and other demands force you to smile and don't think too much about it.

sexta-feira, 14 de março de 2014

Então no passo de ter ficado sozinho invento o momento de está-lo. Estou-o e como lidar com isso, delícia de quem vê sem ser visto, ainda. Claro que a cerveja ajuda e o cigarro carrega a sombra da moeda ter um só lado agora. Não poderei escrever para sempre, nem isso teria valor se a solidão tive-se cor. Observo a noite carioca como lisboeta que sou, como erro vivo de ter tido o que não sou. Além, a possibilidade de tropeçar num imprevisto previsto pela carência de estar sozinho.
E mais tempo passa e habitua o silêncio, de não aparecer e ser visto em tão flagrante anonimato. Perder o quê? Está ganho porque vivo, aqueço a compreensão que não compreendo mas sou compreendido por ela. Afinal minha grande arma sempre foi esta grata solidão, coisa que mói mas só a mim, coisa que morre em silêncio e nasce por fim.
Onde nunca me reconheço é no além de não saber estar a dizer o que sinto, como desperdício de quem não cria mas é criado afinal. Vida não é?  
A ver se vê o que não é visto por ter.
Ser.
Ás vezes não sei onde estou
se perdido na terra ou céu,
acreditando na lua sendo o mar,
olhando o sol.
E descoberta
serem festas de amargura,
espera incerta que dura
mais que a pressa de tê-la.
Ás vezes por mais saudade se encontra a novidade.
Estou a adormecer enquanto voo.
Enquanto por cima das nuvens sonho acordado, sentado.

Modernidade.

quinta-feira, 13 de março de 2014

Ontem à noite fui à lagoa do Rio de Janeiro, e que lagoa essa! Gigante, a dar para todo o lado, cercada por morros altíssimos e o cristo lá sempre, de braços esticados para o horizonte. Dá para ver Ipanema de trás, o morro à frente de Copacabana, Leblon lá no fundo, a Rocinha, o Vidigal, Jardim Botânico e o Humaitá. Tanto bairro e urbanização aqui no Rio, tanta, tanta gente! De fora, não se pode crer na grandeza desta cidade e da incrível fusão entre a metrópole civilizacional e a fenomenal e brilhante Natureza que a cerca. Há capivaras no Rio de Janeiro, capivaras! O maior roedor do mundo. Pensava que só as havia lá para a Amazónia, Minas Gerais etc. A lagoa é mágica. Quanto mais passeio por esta cidade menos a compreendo. Creio que é coisa exuberante demais para um europeu. Cada bairro com o seu estilo mas a Natureza presente faz do barulho e constante movimento uma coisa alienígena, sempre. Não dá para habituar tanta diferença e realidade. Assim há o excesso, os excessos da humanidade em tal choque de beleza contraída pela tensão civilizacional. Os primeiros a verem esta baía... Que sensação. Não falo dos índios que já cá viviam mas dos barbudos que os vieram sacanear. Agora o índio está em manifestações com o mesmo homem que um dia os abusou. Está em anúncios de cerveja na televisão... Está aí, como um de nós. Gira a oferta e demanda do mundo global e quem sofre não tem cor nem religião. É o pobre, é aquele que precisa de sair para beber e comer, lutar enfim.
A seguir há show "Quinta dos Infernos" no bar Bambina, aqui perto. Show organizado pelo Fernando e onde ele toca teclado, largado. Por hoje fico-me por aqui pois demais nada tenho a dizer que acrescente.   

quarta-feira, 12 de março de 2014




 Ipanema, Copacabana lembram coisas dos anos cinquenta/sessenta, Bossa Nova, Vinicius, Nara Leão. A ascensão da cidade para um nível de ícone sem igual. A cidade maravilhosa por excelência - seja ainda mais excelente o Leblon ou a Barra da Tijuca, que meu amigo diz se comparar mais a Cascais - sendo Copacabana e Ipanema comparáveis ao Estoril Português. Hoje concentramo-nos em Copacabana, praia e musica - fim de tarde a andar com calma. Ontem foi Ipanema, onde fomos às rochas antes do Forte que divide as duas praias de forma autoritária - isto é, só dando a volta por trás dele se pode fazer a ligação natural entre as duas. Calor e turismo mas nada excessivo. Bom gosto sim, sem dúvida, ali a cidade é. Se afirma sem pretensão e com natural sedução: a cidade maravilhosa.






Mas nada mais de cidade maravilhosa. Pois nos morros crescem colmeias de gente: trabalhadores, assaltantes e mendigos - como na parte de baixo afinal. Ali onde tudo vive em R/C, onde o prédio - se o houver - é ilegal, a cidade é outra e a dor e a alegria são uma só nota dessa cultura artística, de lidar com as incoerências enérgicas desta cidade de tom ocidental, gritando alegorias tropicais e distantes. Calor acorda tanto a paixão como a violência, tanto a vontade de viver como a de enlouquecer, morrer. Seja. Não, aqui não dorme a possibilidade de morrer que em  Lisboa é o tom de vida - melancolia enternecida pela conversa diária da família... Oh, aqui, por mais que a haja, o ritmo da cidade grita mais alto. "Se não tem dinheiro a vida é foda!" E é, porque aqui ter dinheiro é estar na rua, ser com os outros e parecer certo, contínuo amanhã. Continuar é a coisa, pois a possibilidade de vingar é de longe, crença. É dura a vida no Rio. Mais dura ainda pela necessidade de tanto sorrir para que as incoerências não cresçam em cima de ti. Palavras e algum dramatismo português, admito-o por excelência mas assim o sinto. Pressão e sorrisos.  






Jantamos a ver televisão, primeiro os Simpsons, depois "A Hora da Aventura"... Não do meu agrado mas do agrado dele e dele que gosto, gosto também disto que vejo. Depois rua, uma cerveja antes do ensaio da banda. Duas horas ensaiaram e eu sozinho vi o que pensava e ouvi as musicas desse telemóvel moderno, actual que guarda memórias do passado, meu ancestral físico - demais não é bom mas um pouco situa o coração. Duas horas dizia eu. Sim, duas horas a beber cerveja por conta própria, sendo olhado sem poder olhar de volta. A solidão é o desporto do qual sou olímpico! Muito movimento - mental - requer a solidão. E por mais que a queira fugir nos dias de hoje, é ela que me guarda em conforto de ser eu e ser por mim um fim, afinal. Depois das duas horas fui ao estúdio mas, de porta fechada e campaínha apertada, me não abriram espaço. Voltei então para casa, sozinho, pelas ruas vazias de um Rio de Janeiro triste e trabalhador, pobre, sem dúvida. Mete medo andar por aí, sem aqueles sorrisos e conversa fáceis tão característicos... Não é cidade que ame a solidão como a minha amada Lisboa.  





Em casa já, mãe dele à frente do computador, a falar que o professor, já velho, também não sabe como mandar os ficheiros por correio electrónico. Tentei ajudar mas me pareceu que sabe tanto como eu. Fui lá para baixo então - sendo que o computador dela jaz onde este corpo tem dormido. Escrevo então na sala de família - que indicado! Escrevo isto que escrevo sem qualquer intuito artístico - graças a deus! Escrevo por escrever e porque é o vício primordial que me escolheu. Escrevo por hábito da companhia serem letras e do pensamento fluir livre de outras perspectivas alienadas ao meu.
Chegou ele. Chegou e foi um bom ensaio. Sexta-feira é show no Belo Horizonte. Vão de avião, passagem paga, cem reais para cada... Não dá para viver mas dá para manter. Assim vai a vida no Brasil. Não só no Brasil mas para todo o mundo que vive no querer e fazer. A subsistência acaba por ser a arte do prazer.  Não querer muito mas fazer muito e receber o pouco que nos faz manter a crer. Ser.




segunda-feira, 10 de março de 2014



Hoje acordei com o Fernando a bater-me à porta do quarto com toda a força a gritar "Fomos assaltados, assaltaram a casa!". Praticamente a dormir eu desci as escadas com ele e vi a casa completamente normal, igual, arrumada. Mas os sinais eram claros, desapareceu o telemóvel do Fernando e o notebook dele. Mais tarde vimos a descobrir que também o computador da Catarina, irmã do Fernando,  também tinha sido roubado - computador esse com quatro anos de estudos e organização imprescindíveis. Bom, a mim não me roubaram nada... Que sorte, sorte maravilhosa. Sorte também não termos acordado, nem eu nem ele, e tido um conflito possivelmente violento com os assaltantes. Nem consigo bem posicionar a minha cabeça e reacção a tal violação de espaço e último refúgio nesta sociedade apressada. Se nem em casa se pode estar sossegado, então a vida é simplesmente um controlo absoluto de prevenção e não entrega. Bom, não pensemos mais nisso que deveras se se torna assunto de pensamento a vida é absolutamente impossível. Fomos roubados, arrombaram a porta, agora só há que voltar ao normal, preservando a ténue linha que nos liga a tudo isto. Não estou preocupado, não sei se devia... a vida corre na mesma.

Ontem a noite foi bastante boa, quatro fanfarras em concerto, uma espécie de Carnaval privado de bom gosto pessoal. Muito boa gente e meninas que encantam a mente. Ainda nenhuma me encantou daí além mas sei que mais tarde ou mais cedo "caio" numa delas - não convém cair muito pois vivemos em tempos em que o amor se paga bem caro e com tempo.

Hoje dei a minha primeira volta a pé sozinho pela cidade - uns quinhentos metros: ir entregar uns DVD's alugados pela mãe do Fernando e voltar para casa. Nada de especial, é certo e logo depois de ter sido assaltada a casa chega a ser irónico. É que a tensão do Rio de Janeiro não se compara com a de Lisboa - também sou estrangeiro aqui enquanto que lá sou nativo. Talvez só essa a verdadeira diferença. Ainda me estou a habituar. América do Sul e Europa são diferentes. Como um senhor Belga, com quem falei ontem, que nasceu na Republica do Congo, trabalhou no Porto e depois decidiu enveredar pelo Rio de Janeiro dizia: "Isto aqui é tudo surrealista. O Brasil é um país Surrealista!" A vida dele também, diria eu. Olhava para mim com um enorme afecto (sim afecto) a dizer que adorava Portugal, tudo certinho e pacato mas sabendo viver. "A Bélgica é igual: as pessoas gostam de festejar mas depois voltam à sua vida pacata." Sempre a insistir que a vida aqui - no Rio - era muito difícil devido ao medo de ser assaltado e da desgovernação generalizada. Bom, falou muito o homem.

Escrevo como diário, tentado descobrir uma nova forma de escrever que não tanto invente mas compreenda o que é inventado e processado pela vida em si. Relatar e observar, viver tanto em vida como em escrita,
sem demais devaneio ou alienação. Esses dois foram (e são) a base da minha criatividade passada (e ainda actual). Mudar é bom mas requer uma paciência e tolerância imperiais e guerreiras.

Um dia de cada vez.



sábado, 8 de março de 2014



Casa. Boa ou má é o que nos sustenta planos e sonhos. Mudá-la é difícil e não a ter mais ainda.
Casa é a dos pais. Bons ou maus deles viemos e deles partimos para o frio que aquece e arrefece
da e com a vida. Solitário é ser sozinho e aguardar o colo menino numa menina que ainda não se
conhece. É aguardar, ter que esperar, que a loucura dos medos é temporária e é só dentro da
cabeça. Cabeça que é amiga às vezes e tão inimiga outras... Resistir à mudança como se "antes"
- seguro - o ideal. Um dia é de cada vez e só há que escutar com calma o tempo outro e dos outros.
Tão absolutamente me sinto sozinho por vezes... É duro mas é a vida e é crescer com ela. Ter
poder, se tiver, sê-lo. Mas até lá a luta da incerteza e da aleatoriedade. Certezas tem quem se não
mete à prova ou retém caminho por promessa de destino. Chove finalmente em cidade tropical
e eu hoje, cansado, resolvi ficar por casa e ir dormir cedo. Parar a inércia da viagem não é o ideal
mas se tiver pé, alcanço a corda novamente. Vamos com calma, serenos e tolerantes. Afinal estamos
todos juntos nisto (de estar sozinhos).

sexta-feira, 7 de março de 2014

Na cidade maravilhosa o respiro é em conjunto e a fala, poder de argumentação, segura a parada
de ser tudo demais, intenso e largado pela coisa de tudo fluir feito rio pronto de amanhã ser hoje e
nunca alcançar também. Muito sorriso e muita beleza, um respeito no ar por tudo e no entanto uma
pobreza de caras baixas e tristes do trabalhador. Tudo corre feito um rio e a fala segura como uma
rocha, pedras por onde a energia é descompensada em entendimento mútuo. Belo. Muita mistura
e o além de caminhos encontrados de origem outra fazem de qualquer momento uma coisa exótica.
De Lisboa ao Rio a  conversa é outra e meu português pausado parece parar a dança desse brasileiro
falado e por mim escutado com atenção. A cidade é muito maior que pensei antes. Como Lisboa,
Portugal cada bairro guarda uma identidade própria, bem nítida e assim ainda maior fica tudo.
Ricos e pobres e a pressão do mundo empresarial e económico a desbastar as poucas colunas
que sustentam tamanha maravilhosa incoerência. "Não vai ter copa" é o que mais oiço, no meio
de tremenda alegria e dança. "Muito caro" é outra, tá tudo muito caro. Para quem visita é, e sempre
será, a cidade maravilhosa mas para quem é de cá, é apenas cidade, casa - mais maravilhoso que
os olhos podem ver e a boca falar. Manter, estou a receber.

Jorge Ben Jor - País Tropical

quarta-feira, 5 de março de 2014


 the ship


 getting up



 sunset sitting on a plane while flying


 islands





Escrevo aqui meio esquecido mas agradecido de esquecimento porque me lembra a mim.
Segunda noite no Rio de Janeiro, Carnaval em êxtase e eu com ele por arrasto, talvez. Mas
nem tanto, visto que além do prazer um medo a não temer. Coisa de multidões serem milhões
e o incomum de ser só mais eu, mais uma vez. Só que desta vez, deste lado do oceano.
O Brasil imenso e suas contradições maiores fazem-me, por agora, tolerar ambiente tão vivo,
tão gratuito seja de felicidade como de agressividade. Oiço gemidos de quem é fecundado pelo
meu amigo visitado, que visito e de momento acompanho em tão tropical e festiva serenata Carnavalesca.
"Orquestra voadora, tens de ver, tens de vir!" Disse-me o Fernando, o meu amigo que do lado de
lá da parede fecunda uma Dinamarquesa. Foi bom, assaltaram-me o tabaco, fotocópia de passaporte
e 42 reais (que estavam dentro do tabaco de enrolar) mas o samba continuou como tem que ser.
Glória à descoberta que por mais que se queira um sitio seu, esse se tem de construir, lembrando
o esquecimento de o futuro não existir e só o momento em frente ser. Tá calor, estou de tronco nu
a escrever no parapeito da janela/varanda. Tá bom, tá certo, neste lado do oceano descubro-me o
mesmo, com os mesmos medos e desejos. Nada vai e fica pois de nós se renova a partida. É lindo,
é feio, não creio, ainda recebi uns beijos... Abro então o blogue do mundo com uma incerteza
segura das coisas não serem como se querem mas como são. Lidar com isso então a real tesão.

Foram dez horas de voo e pela noite viajei, meio dormindo, por aí com ele: meu grande amigo e
companheiro que não via há 5 anos. Hoje Carnaval e antes da marcha começar o que queria mesmo
era descansar, ver o tempo cair para me levar ao caminho donde surgi. Mas não, sei que não.
Caminho não há mas se inventa e na serena complacência que tenho para com, vou dormir só.

Mundo.