terça-feira, 30 de dezembro de 2014

A flora bruma preta agora
que do nervosismo nasce
centenas de mosquitos hirtos,
mendigando medos que não têm dedos
mas só olhos que vêem,
vêem e nada dizem.

Que na antecipação
sofre o anterior à máscara
e de máscara não mascára mais sua máscara:
vê-se perdido de estar afinal tão certo,
tão certo de estar a viver.

Viver não é certeza ó animal!

Que animal é o que és tu
e sê-lo em cortesia civilizacional
é de uma elegância tal
que todo o mundo jubila
de tua alienação.

Ri de quem te ria
pois assistem a tua mágoa
- de não saber -
quando o que eles queriam era ser,
ser assim,
assim como tu te estás a não ver.

Qual de medos avançados
não dança loura e crua a verdade
de sem saber descobrir o que há de ser.

Pois sendo se não repara
e só a hora do embate, partida despedida,
logra a cara dessa alma
vivida.

Mas ter está para ser
como É afinal.
E o que É,
de tão raro ser,
fica para ser por esquecer
e perder - lembrar a perda com orgulho
e segredo de individualidade bruta
mas não acariciada por vida outra.

(Falo em metástases para o "outro" entender.)

Fica escuro quando a luz nova está por perto a vir
e recorre o vendaval da vida ser absolutamente imprevisível.

Deixa o medo ser quem é
que o tempo mostra à vida
o que nele se esconde demais.

Só brisa...

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Olhando pela janela
vejo o horizonte
- ele maior que eu.

Como desde pequeno
queria ser grande
resolvi um dia
tentar lá fora
deixando a imaginação
dentro de casa.

O frio e calor maiores
mas, cedida a tentação,
sentir o vento acaba por sê-lo
afinal.

Vi que o horizonte
não era longe mas perto.
Perto de por onde caminhava
ao encontro dele.

Vi que o horizonte
que antes achava grande
não era assim,
tinha o tamanho devido à caminhada.

Cada passo o mostrava,
não mais nem menos
mas diferente
- sempre.

Compreendi finalmente
que não há grande nem pequeno
mas somente aqui e ali.

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Se estás sempre a evitar problemas
acabas por te tornar um.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Tido de tudo para não ter
e parecendo
o calmo me assiste em ser.

Dormindo vivo o encontro que queria
e acordado me desvio dele encontrando antes o que cria
só.

Falo sorrisos e palhaçadas
e tudo me retribui atenção e festa
mas não sabem não que meu serão
é calmo, sóbrio e sobretudo silencioso.

É estranho...
Não era assim.
Não era assim com ela,
por exemplo.
Mas onde está ela?
Não sei.
Há outra?
Talvez.

Bem, num domingo estranho,
de encanto misterioso,
morro um pouco de inteligência
pois minha saúde vê-se naufragada
por arrepios e entupimentos nasais
e coisas do género.

São coisas que duram
e são coisas que acontecem
quando demais há a lidar
- enfraquece este sistema "solar"
chamado eu.

De que falo?..
Não tenho do que falar,
é isso.

Mudança a vida
e o não parar.
Inconstância perdida neste lar
de mudar de lar.

Mais caro e mais longe
mas mais quente e sossegado,
mais "bem passado"?

Pode ser.
 

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

The minute I fall I think so not
cause the hurt flows to knowledge if you let.
Bind the eyes with the wind
and fly must
for the heavy land is not to trust more.
Looking back through past and future
present unbalanced by total freedom,
no life can manage reason.
So the calm of your spirit it's all
that can bear life within you.
All eyes and imagination,
all prospects of entertainment
disconnected from responsibility and webs.
Full ignited heart but no head to show
and aim target.
No one knows
but it grows in everyone.
Together we are in this solitude
being that the new light to be shed in the world of our feet.

Behold sadness to blow forgiveness.

  

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Quando pelo lado ando,
e não tenho onde pousar meu voo,
a rua é o meu chão, serão e tela.

É onde esboço minha solidão e convívio
como se de ninho fosse o mundo.

Quando cansado,
lá durmo na cama paga
mas não é ela a do repouso da alma.

A alma sempre lá fora!

Oh noite,
toda tu,
não interessa o dia da semana,
para mim és sempre sexta-feira!

O dia tem demais atenção
e essa não deixa entrar a inspiração.

É com cuidado
que lembramos o que vem do passado
para o futuro.

E é de manhã que dança a chama do voo
- ainda mais quando dormindo.

Não, não é domingo
mas quase;
é segunda
o que é estranho
pois não houve uma primeira.

Gosto de me esconder.

É uma chatice,
é uma espécie de viver.

Vêm de lá,
lá do longe,
pessoas com notícias e outras
mas eu só sei daqui.

Sou de hábito,
resisto a toda a mudança
mas logo que ela em mim dança
amanso-a em água terna.

Do baixo colho o alto
e quando no alto
o baixo parece-me o maior dos céus.

Vou devagar para a cama.
Queria a rua mas não a há
quem comigo a der.

Que o sono me guarde sonhos
para o que der e vier.
I want the sun to shine on me
like a crazy misfit of technology.
esses olhos de horizonte espalhando-me por aí...

domingo, 14 de dezembro de 2014

Qual de vontade absoluta me loucura a imaginação em domingo de ressaca
meio que bruta.
E no tropeçar mesquinho de não ter onde ir,
nem quem escutar,
caírem-me na mesa da esplanada
personagens dúbias de minha estada
neste dia, nessa noite.
São aquelas personagens
que o álcool me conhece
e, ainda antes do pensamento,
o fenomenal convívio e a abertura ao desconhecido.
Cova da Moura é onde ele vive
(vivia em Oeiras quando o conheci)
- e com certeza o amigo que vinha com ele.
Conhecemo-nos no comboio,
linha de Cascais,
quando ainda vivia eu por lados silenciosos
e demais espaçosos.
"Tavas com o telemóvel a tocar som
enquanto dormias ferrado
e fui eu que te acordei à quarta tentativa
avisando-te de libertina conduta
e vulnerabilidade ao furto alheio".
Não me disse assim claramente
mas estou inspirado de mente,
ao que me deixo procriar absurda linguagem
e interpretação.
Boa gente certamente.
Mas interrompeu-me o serão de solidão,
o copo de cerveja e a leitura
- possível futura escrita ou desenho.
Senti-lhe a tensão
e um misto de conforto e desconforto
entre o seu sentar à minha frente
e a minha continuada leitura do que afinal me interessava ali.
Sou de sociabilidade
mas há-lhe momentos e ocasiões.
De resto gosto
- e gosto muito -
de me desaparecer por aí sozinho,
sentar ou andar sem destino
senão o talvez me perder em pensamento
outro, fora do da minha realidade "certa".

Mas o que queria dizer é que com aquela tensão,
aquela interrupção,
a inspiração se foi
e assim invés de escrever o que da mente vi
escrevo-te a ti.

(Nada se perde tudo se transforma.) 
 
"O menino é o pai do homem."

Machado de Assis

(li numa entrevista esta belíssima frase mencionada)

sábado, 13 de dezembro de 2014

Curioso como é o que se não quer
que nos faz, distraídamente, tropeçar no
que se realmente quer.

Curioso como tudo o que conheço
desconheço de livre vontade
por, simplesmente, não me querer apegar.

Curioso como assim que me sei
logo desapareço reinventado por alguém,
situação ou acontecimento.

O amanhã guarda supresas
e o ontem mais ainda
- viver de refazê-las é o segredo
para um futuro completo:
amigo da vida,
companheiro da morte.

Como uma puta virgem,
como um mendigo milionário.

Conseguir o absurdo impossível
pela gentileza e elegância da inteligência.

Dou a mão só porque quero ver o que além está
e o que esse além fará de mim é filho
e é assim.

Saber a vida é não viver.

Saber viver a vida é saber não saber.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Qual a Luz a brilhar há mais Tempo?


Viver com cinco pessoas num apartamento é duro.
Sendo uma um paneleiro que não se cala de manhã à noite
e a única rapariga ter voz de desenho animado.
Depois há um alemão, que também vive em Berlim,
que passa despercebido, um trintão espanhol professor de universidade
- também paneleiro, creio; e um outro que nunca vejo.

Fico surpreendido com a capacidade de falar desta espécie.
Falam sucessivamente catorze horas por dia ou mais.
(principalmente o paneleiro e a do desenho animado)
Será que têm espaço na mente para a contemplação?

Detesto ficar com desprezo à humanidade
- esse já me foi ninho e hoje tenho asas para voar
para longe de sítios "fechados".

Mas se meu quarto não dá para a rua
mas para um paralelepípedo de janelas
e um céu de uns míseros metros quadrados de azul,
fico prostrado a ouvir seres não reconhecidos no meu universo delicado.

Há que mudar de quarto portanto,
mais uma vez...

domingo, 7 de dezembro de 2014

Por mais dentro que piso a vida
mais humilde fico.

A simpatia toca-me mais
mas mais serenamente que antes
- antes chegava a doer -
hoje mesmo que doa um pouco
é sempre um prazer.

Caminho as ruas como um astronauta
medieval, somando e subtraindo contas
que não têm qualquer razão mas sorriem-me
na mente.

Meio pequeno imagino o grande
- aquele que deixa até de ter dimensão -
e tudo que olho e me olha é presente,
continuação.

Quanto mais deixo esta vida me torcer
e mexer, cá dentro, mais me sinto um sucinto
estudante dela.

Há que ser um velho
para trazer a criança
a correr cá para a rua da vida
única.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Não sei que noite dentro me lembra aquela
mas dia corre e sou dela,
novamente.

Vem de frente, comigo a ir de costas,
e não colhe quem pudesse, colho eu sem querer.

Quem olha sempre sorri
e espantalho aceso que colhi
não ri por mim
- rio por dentro.

Não de mais ser cristalino, puro.
O tempo é quem manda
e quem sou é ele que dita.

Veio um erro ter comigo.

Não o soube,
julguei fantasmas meus
mas eram e são reais.

Sou de mente que mente tanto
que o perigo não acciona demais o racional.

(Ou não.)

Colhe a flor do jardim
para a morrer na calçada,
enquanto anda e olha,
enquanto vive a vida com distância.

Tudo é maresia,
tudo parece mentira
quando o certo estava
tão certo...

Mas os dias passam,
as noites pesam ou voam
e os outros continuam sua jornada.

Vem comigo
ou vai contigo
e levemo-nos junto
o que sabemos.

São mistérios dos demónios sorridentes
e "malandrecos".

Oiço a tosse.
Tosse essa não minha
mas de quem deixou de colher
e se colheu a si mesmo a morte.

Oh, sair daqui.

Pois bem,
que seja ali.

Seja o que deus quiser.

(esse deus que faz de mim
uma ratoeira que já chateia). 
Fogo ao chão,
meu cão de sombra lembra uma noite escura e fria.

E tu, no longe,
és quem eu acredito.

Acredito nunca mais ver
- e por isso creio bem...

Foi ali,
ali ao pé
que me torci o pé.

Morri cedo e acordei,
sem chão onde temer,
sem vista que assistisse vertigens.

É tudo um lago.

E quando o lago seca
vem a chuva
ou há quem abra riacho de um rio.

Tornar-se rio então.

E quando esse for
(e ele vai)
encontrar o mar,
o oceano;
Ser do azul sereno entre terra e o céu
- o lado que colhe tudo afinal.