domingo, 31 de maio de 2015

Parece que não passa o tempo
e, no entanto, envelheço a cada momento.

Tenho aquela coisa da "vergonha de existir"
- texto que escrevi há anos.

"Com licença que eu vou passar."
Como se tivesse de pedir desculpa por ocupar espaço,
espaço esse que parece imenso e na verdade só mais um é.

É a sensibilidade que carrego e não fujo.
Já fugi.
Talvez devesse fugir um pouquinho outra vez.
Talvez.

Está quase lua cheia.

(Ontem devia ter ido ao bailarico
invés de ali sentado a falar estar.)

Ainda de ressaca luto alguma vida
mas estou pesado e estranho.

Amanhã trabalho novamente.

Queria mudar de sítio,
quarto, trabalho, aspecto e ter.

Inércia, deixo-me levar.
Como se não tivesse a decidir o destino de meu ser.

Há qualquer coisa que tem de mudar aqui.

Sempre me escrevi para existir em pleno,
própria criação de minha imaginação.

Hoje sou perfeitamente real e espontâneo
mas isso é como que monótono e pouco divertido.

Qual a graça de andar no chão quando já se inventou o céu?

Era invenção, era invenção...

Foi.
Agora é outra história.

Mais um dia meu velho.
Caminha o sol da esperança em sombra de luta próxima.

Ser pela primeira vez
outra vez.

Lua: mais longe, mais antiga, mais presente, sempre.


ou


sexta-feira, 29 de maio de 2015

Dormir e sonhar é a nossa segunda
e infinita vida.

Não deve, de maneira nenhuma,
ser menosprezado.

É um retorno diário às origens e ao essencial.


Deixai-vos dormir
para, quando acordados,
poder presenciar deveras a realidade
que a vida nos oferece
também.


quinta-feira, 21 de maio de 2015

a Rainha


Concretas luzes de soslaio na janela
lembram infância madura de outrora.

Quando do sonho nascia a vida e o mundo
e tudo era e seria novo, por descobrir,
chorar, sorrir.

Qual do passado ser quem sou agora.

Me lembro pouco do ontem
embora o esclareça sempre
em cada e qualquer passo em frente
mas isto sem qualquer directo consciente.

Atravessam-me raios de intuição
e sempre os fui e sou.

A coisa de viver é secundária
pois o que aprecio mesmo é sentir
os raios me interceptar e assim
me direccionar numa outra ou mesma direcção.

Vem o calor obrigar ao suor e a sorrisos fáceis,
movimentos despreocupados nesta tão preocupada manta de pessoa
que sou eu.

Estou esquisito.

Deve ser da lua,
foi nova há dias e agora cresce.

Espero crescer com ela.

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Por desacreditar tentação se inaugura o Homem.
Coisa feia de força bruta e além pensamento, acção proscrita e actuada em perfeita sintonia com.
Nadar com algo em mente em simetria de coisas altas
e enviesadas que conhecem por duvidar o óbvio e mexer na alegria
como criança infinita!
Vomito o ódio e despreso,
por aqui tudo é qualquer coisa.
Caminho o tempo de não tempo
e maravilha que sempre encontro
- seja em vida seja em morte
(sim, porque eu sei morrer).
Aldrabices que me dizes e eu sinto
e o romantismo de ver quem lhe não é,
aos passos minguantes anda por aí
chorando a pena que escreve e ousada inventa
e fascina quem não a lê
(como se não ainda está escrita?).
Apetece-me cair pelas escadas,
dar o braço a sofrer e deixar ir as mágoas
à certeza de as sentir - deixar ver ao outro o que me vai na alma.
Ser português?
Palavras que não digo e o de ficar por aqui.
São preguiças do antigo,
são almas que me pesam no corpo e mente
como se toda esta cidade fosse esotérica
e eu sua manifestação pessoal e física.
Que diz ele de mim?
Escrevo o imediato que me quer sair...
Cansado de trabalhar e da folga estar tão longe,
noutro lugar.
Quero ir ao campo,
dormir os passarinhos e ser as ondas que embatem nas rochas
e oiço.
Adoro o imperfeito.
Aquilo que resta,
as reticências e as dúvidas,
as hesitações.
Sabes que dizem muito de ti?
Ainda hoje não me acreditavam idade real!
Eu que sorrio como um parvo disponível
e por dentro guardo o fardo da vida Ser
- só por si, em mim.
Que diz ele novamente?
Oh, velhices minha querida,
velhices!
É o vinho que ele bebe,
e agora aprecia,
para domar caminho ao dócil receio do destino.
Sirenes ao fundo,
a cidade vive e excita quem por ela anda nocturno.
Eu sou diurno.
Não porque queira mas porque assim é agora a minha vida.
(dou-me tão bem com os anjos e diabinhos da noite...
Sou de lá.
Agora, aqui na agitação da luz do dia, me sinto tão sem chão.
...devo precisar do subsolo do escuro e do embriagado que fico nisso.)
A vida é local e circunstância,
é também saber estar com quem está
e recorrer à mudança se os frutos nascem mortos
ou apodrecem rápida e frequentemente.
Ainda assim não é,
pois não?
Não.
Então, continuemos relativo feliz serão e festividade
pois daqui nada é Junho e já se avista o Santo António pelas ruas!

(Lisboa, quis fugir de ti mas não deixaste.
Maldita sejas
mas obrigado
- ou não.)

sábado, 16 de maio de 2015

Por cima daquilo que me chateia
está o céu limpo,
a claridade e a simpatia alheia.

Há também a disciplina de ver nisto
continuação e outro dia a vir
que pareça mais certo e perfeito.

Não que o haja nem tenha de haver
mas sinto apenas que há demais pressa em avançar
por inércia e não por pleno prazer e entrega.

Sou teimoso e silencioso.
Meço os meus passos como um relógio
pois sinto ter de ir a algum lugar
que meus passos estão (desde que me descobri)
e hão de descobrir.

Portanto digo-te até amanhã
que hoje me guardo em solitário serão
ainda que seja sábado e a alegria logre nas ruas.

Amanhã será sempre dia...

terça-feira, 12 de maio de 2015

Filósofos à Janela





Não gosto assim tanto que me conheçam,
me chamem para sair ou jantar.

Não sei se por receio mesquinho meu
mas aprendi a me respeitar a cima de tudo
- este canto escuro que brilha quando não se o pergunta.

Demoro a chegar à vida
e é ela que me acolhe sempre
neste leito de me sentir sempre sem lugar.

Posso sorrir e parecer feliz
mas preciso mais de poder me sentir infeliz
- não me perguntes porquê.

A Lua e o Sol.

A Lua e o Sol vivem em mim
e vivem em qualquer um
- creio -
que se encontra em si
a desbastar as camadas de terra
para chegar ao ar:
alma?

Pode ser...

Não sei o porquê de minha resistência à vida.

As asas são extensas e voam para o infinito,
fortes, quando sem lugar logram a imaginação
- pensar, sentir, imaginar.

(No campo ou na cidade
a sede de querer lugar.)

Pegar na rede e desaparecer.
Colher tudo o que houver pelo viajar
sem tecto nem direcção.

Destino da vida me quis preso ao que sou.
Eu que mesmo digo que nunca se É nada
mas o momento e circunstância que se vivencia,
"habita".

O passado demais perto para o futuro
ser solto fluído pelo presente.

Não sei o que digo
mas sinto.

Um quão de desconfortável
de ser tão sociável e disponível...

Mas não.

É uma experiência.
Um cheiro ao olfacto.
Só mais um cheiro a ele
e à vida, non?

Peregrinação.

Se calhar é só solidão...



(havias de me ver de dia)

domingo, 10 de maio de 2015

Tens escrito?

Perguntam-me.

Sim, respondo eu.

Escrever é a arte que não sai nem entra
fica e prolifera pelo universo silencioso mas infinito do cérebro
que alcança alma.

De manhã, resigno-me ao trabalho
e acordo meio que contrariado.

Mas lá o dia avança e tudo cai na realidade
de ter sorte e alegria, bonança financeira e afectos tão gratuitos
quanto simpáticos.

Vida nocturna se afasta de mim
e eu quero-a ainda mas não posso
que agora diurno faço o tempo
crer futuro.

Poeta do cansaço,
quero a energia que não encontro
e aguardo.


quarta-feira, 6 de maio de 2015

...não querendo dramatizar mas sempre que quero "avançar" nesta vida
ela me cedo avisa que peço demais.
(Eu que só peço o razoável...)
Irritado com esta coisa do olá/adeus tão rápido, a uma coisa que quero,
se anuncia imediata nuvem de trovoada, negra e carregada.
Parece que o tropeçar é inevitável.
Porque não continuar como estava; "estavas tão bem"
- parece-me dizer, sempre que avanço e falha, a vida.
Andar a pé é um segredo dos diabos e duma liberdade ancestral.
Mas andar de moto também tem "o que se lhe diga"
pois há barulho, velocidade e aquela tranquilidade da liberdade.

Bom, escrevo isto porque falhou a moto
no segundo dia de posse própria dela.

Apetece-me mandar tudo pelos ares
e vendê-la imediatamente a outro que a queira.


Vou pô-la a arranjar...

Se for caro
ou se de novo me falhar
mando-a de um precipício
e ando a pé para o resto da vida.