segunda-feira, 18 de agosto de 2014

A Pessoa Objecto

Por vezes - e não raras - sinto uma tremenda antipatia e desprezo pelas pessoas que vejo na rua.
Se calhar sou eu que, demais vivendo na cabeça, não sei - nem me muito interesso - por essas coisas 
da tecnologia, dos smartphones, dos smartwatches, dos tablets e afins todos iguais entre si.
Parece-me que se perde tanto ao mergulhar nessas coisas de cabeça...
Menos espaço à contemplação e ao encontro gratuito de viver em sociedade e possível comunhão.
De bicicleta passo por muita pessoa que, enquanto corre, tem um aparelho no braço a contar
as calorias perdidas, o tempo decorrido, a temperatura do corpo, a pulsação, e sei lá mais o quê.
Será que é preciso aquilo para correr? Não será mais agradável, e "saudável", não usar aquela coisa
no braço (que conta e conta, tudo em números)?
Tentar correr apenas, sem saber o que se perdeu e ganhou mas sentindo só depois o que se fez.
É que sinto uma tremenda falta de respeito pelo corpo humano e a magia do organismo
e o orgânico disso.
Parece que se perde aquele espaço dentro da mente, de sentir em silêncio o que se sente
individualmente.
Tem de tudo ser contabilizado para se "Saber" - o que se ganhou ou perdeu, ficou ou foi embora.
Tem de tudo ser partilhado e mostrado ao outro para que o outro "Saiba" o que o outro fez e,
efectivamente, ganhou, perdeu, ficou ou foi embora.
Talvez seja eu... Talvez resista à mudança, à mudança que não me atrai antes me assusta - para
ser sincero.
Há qualquer coisa nesta febre da tecnologia, nesta "gratuidade" de oferta, relativamente barata,
de internet sem fim e "para sempre" numa coisa que está Sempre com quem a comprou.
Parece que substitui algo...
Algo mais intrínseco a cada um de nós.
Algo que não precisa ser comprado.
Mas este algo, que não precisa ser comprado, precisa de algo em troca.
E creio ser essa troca que se pode estar a perder.
Mas talvez seja eu...    

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