quarta-feira, 29 de março de 2017

No acontecer de vida passar
e a alma exacerbar o sofrimento
mais que o reconhecimento do presente.

É uma pena diz a parte de mim que tem de andar sempre para a frente...

Eu aguento tudo,
fui de aguentar a morte a cada dia,
sou de saber ir além do sofrimento e ver
com olhos de vazio o tudo que me guarda reconhecimento.

Mas de momento meu pai,
estou mais que demais estranho a isto.

Creio que estou há mais tempo
do que devia num só sítio...

E quando um cai
vêm todos do longe
para perto ajudar
a alma que só quer-se libertar de tudo
e todos
para afinal se auto-criar
nova.

Uma dor no peito gigante
de viver num sítio
que só lembra passado
e me não oferece nada
senão referências a nenhum lado.

Qual futuro,
eu assisto-me resistindo a tudo
tentando o passo em frente apenas
sem cambalear ou dar azo de que sou,
estou fraco.

Como uma coisa tão linda como a partilha do amor
pode, por estar aberto, dar entrada a tanta merda
só porque se não soube como lidar com a coisa
no seu devido tempo?

Sei que sou sensível portanto me guardo dentro
e fora, giro a velocidades inimagináveis
para desviar tudo o que me fustiga e censura
existência - sentida - como divina.

Mas o passado vai contigo para todo o lado
e eu, infelizmente, solto por onde estou
todas as minhas desgraças
na esperança de largar sítio esse do passado
e fugir para o futuro
onde sinta eu,
mais uma vez,
certamente,
perfeito presente e silêncio do tempo
- onde só existo e me sei igual a deus.

Tenho pena de ter caído em tal pântano
que sei não real.

Mas o coração dói
e esse órgão não esquece...

Tenho de me reencontrar comigo mesmo urgentemente!

Tenho de voltar à serra,
à montanha, ao mar
e ver-me além humano,
ser. 

Pois eu,
ó Eu,
se soubessem o que de belo e medonho
já passou por esta consciência!

Vi o mundo antes do humano e depois,
soube das palavras que a mãe-natureza
sussurrava ao índio da amazónia!

Fui-me ao ínfimo da existência
na crença de que tudo, Tudo
é e deve ser real e contemplado.

Agora um índio perdido sem lado,
ausente de sua intuição
por ter sido queimada
por um golpe baixo
de um qualquer mesquinho humano.

Se sozinho, na altura,
minha consciência roubava tudo de energia
e favorecia a plena acção curadora de ordem
para que a ordem que me guia continuasse imune.

Mas pensava nela,
pensei nela,
aquela que me guardava em afecto e amor
e assim me dei a ela e esqueci-me de mim.

Puro erro que demoras mais que tempo a corrigir...

Sabias disso já na altura,
pois a tua intuição vivia o passado, presente e futuro
em sintonia.

Mas deixaste-te levar...

Um erro meu filho.

O conflito tem de ser lidado no momento
senão torna-se monstro e destrói o teu eu.

E depois vêem as desculpas e os desprezos
e os medos que sem culpa
te culpabilizas.

Doença pura.

Por alguma coisa vivias e vives sempre em guerra,
não é?

Pensaste-te forte o suficiente
para aguentar quem te tão lento imagina
e quer...

Mas tu odeias o lento,
a passiva idade e tudo o que não descobre
a cada seu momento a alegria de viver.

Tu nasceste do ideal
de saber a vida eterna dos índios
e vivê-la como guerreiro uno
em civilização:
transpondo todas as ordens possíveis
ao inimaginável de tua crença.

E o fizeste.

O fizeste e conseguiste.

Mas com amor,
afecto e quem te quer para ela
mais...

Aí a coerência dos deuses deixa de existir...

Agora choras a ida deles
não dela.

Agora vives em neurose
de tentar ser novamente coerente
e perfeito de teu pensamento.

Vives a neurose de não conseguir
domar o monstro que não soubeste em tempo
destruir.

Qual a solução?

Nem eu sei meu irmão!

Coisa que com uma palavra,
um murro, um tiro se resolvia
fica a servir de melancolia e frustracção
para um resto da vida.

Eras o maior assassino de tudo o que te censurava,
domava ou arreliava!

Não o foste uma só vez
e tua absoluta necessidade de perfeição,
honra e disciplina
colapsaram como um castelo de areia na praia.

Pobre de ti...
Antes eras capaz de erguer e sustentar uma civilização
e com ela levar este mundo perdido
agora perdeste neste mundo
com todas as suas perversidades
sendo tuas
mais que dele.

É porque sentes muito filho da puta!

O sábio é o maior louco
e vice-versa.

Sei-te o maior dos decifradores deste mundo
mas agora não passas de um emplastro.

Foges do que amas,
ausentaste das pessoas que sabes querer
e que te querem.

Isto porque te julgas sujo,
sujo do pensamento de fraqueza
e cobardice do qual
nem tem razão de ser
- e o sabes tão racional mente...

Os eternos jogos da mente e do coração e da pila!

Pó caralho pa vocês todos!

Eu que tanto tenho de saber disto de mim
e, mesmo assim,
tenho de aturar discordâncias das sombras que me olham?

Eu inventei onde me vês agora, porra!

Sou ordem ausente deste mundo em decadência!

Fui ao chão da terra do campo
buscar forças para querer viver ainda.

Largo por onde ando
noção da divindade que pisamos todos
e mesmo assim tenho de sofrer como um doido?

Pó caralho para isto tudo!

Fugir desta merda.

Porque quando estou fora disto,
do passado,
eu estou em paz,
volto novamente ao que sei ser:
EU.

Por isso sempre viajei e fugi donde me sentia
já não eu.

Por isso preciso de velocidade
para aguentar a vossa tremenda ingenuidade do mundo e vida.

A física quântica de minha consciência
vê-vos como nem sequer esqueleto
mas átomos.

Onde eu já estive nesse real mundo da consciência!

E agora vivo perdido
só porque me dei ao luxo de amar
aqui neste mundo de turistas,
capital fundido em estrutura Lisboeta
mais que demais espiritual outrora para mim.

Meu espírito vive em qualquer sítio
apenas necessita de minha escrita.

Por isso, além todo o sofrimento
e perversidade de meu pobre cérebro e coração
sei perfeitamente ainda e sempre ser São.

Porque a única coisa em que eu creio
é num mundo que foi absolutamente
destruído por este em que vivo.

Utopia então:
viver como que do sonho,
da morte antiga,
da vida plena de outrora.

Aí me sei e curo.

Durmo e lá me vejo feliz vivendo.

Aqui apenas deambulo.

Morte ao chão dos meus pés
vida ao sonho do céu que piso
e, espero novamente, honrar.

Adeus Olá. 

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