quinta-feira, 23 de março de 2017

Nasceu vazio o filho
e o pai encheu-lhe de ideias
de grandeza, sacrifício, história
e vontade de descoberta.

A doença é a salvação.
Chamo-lhe doença porque cresce e cresce
como um cancro, ao lado, de quem cria
e se, por alguma razão, não se encontra mais criação
então a criatura presta-se a auto-flagelar-se durante
o bastante para ter que encontrar saída ao sofrimento,
saída essa que é perpétuamente inócua ao sentido racional.

Como uma ave
quer-se alto e ar,
céu e talvez mar.

Saber de encontrar, viver
e largar.

Ordem da vida.

Nada, nada que seja bom dura...

E você sabe fazer das coisas desta vida
coisas boas não é?

Como uma espécie de meteorito,
onde chega se propaga
e sem limites ama o que vê
e é deveras amado também reciprocamente
(porquê? porque quando encantado,
este individuo só vê o que lhe colhe
crescimento e o manda para cima,
cima no descobrimento).

Há uma urgência nesta vida
que só sente mesmo
quem se nunca identifica
com nada que lhe toca ou tocou.

Tudo na cabecinha...
Foi e volta
mas para isso há que andar para a frente
com os teus pézinhos - pra que volte.

Há uma guerra tão acesa
de se querer confirmar vida límpida
e sem medo.

E aqui o maior medo é o passado...

Portanto só o presente
feito futuro serenamente e sem pressa
ou demais ostentação ou presunção.

É uma coisa calma
mas só assim é
porque a calma
é resistência às imensas forças
que o constantemente fustigam
para andar para a frente
abruptamente em confrontação directa
com os olhos brilhantes dessa escura morte.

Quem de olhos vê universos
precisa de movimento e velocidade
para não tropeçar em mesquinhices terrenas.

Olha o alto,
abençoado pelo grande espírito
em que crendo
existe e o protege.

Sem ele,
ele, o pequeno humano,
nada é senão um jovenzito assustadito
com tudo isto.

Seu sonho é sua catedral,
sua guarnição, milícia,
templo e mundo.

Ora, o sonho,
se não protegido, guardado, seguido
esvai-se
e chorando (ou reprimindo tal coisa)
fica-se com o peso da mortandade
como sacrilégio à vida,
como culpabilidade irracional
de existir e saber tão mais que isso só ser.

Lucidez é o que faz esta loucura,
lucidez e "alguma" incapacidade em agir,
actuar quando isto é vital ao sonho,
à vida.

Precisa velocidade
pois o hábito, meu irmão,
faz do cérebro escravo
e andas como um zombie
a caminho da morte
que agora, mais que tudo, temes.

Viver à porrada com a morte,
talvez o segredo para a vida
dos loucos.

A depressão e frustracção
são apenas energia contida,
não expressa, guardada
e, infeliz por querer sair,
come-te o dentro como sanguessuga espiritual.

Primeiro de tudo
temos de nos entender,
não é verdade?

Não é admissível
viver a vida atrás de alguém
- ou à frente até -
não é de honra culpar outrem
pelos teus erros e incapacidades.

Há que ser só,
ser apenas bem dentro de ti
em paz.

E paz só vem com alguma guerra,
compreender o inimigo
- normalmente tu mesmo -
compreender o que falta fazer para evoluir
"ali", onde se quer, onde se precisa para "lá" chegar.

Antes de se ter ido a baixo
este pequeno homem,
estava num caminho
perfeitamente em sintonia com os astros,
em elegante seguimento para com deus, vida,
morte.

Todo o dia evoluía onde tinha de evoluir
porque apenas ouvia o espírito dentro dele.

e é tão bom isso...

A vida real é uma desorienta acção
para quem é perfeccionista do espírito,
para quem vive mais do coração do que do cérebro.

Sabe lá do cérebro esse intestino
que caga e come sangue!

Que órgão mais insuportável quando magoado
e mais que capaz de tudo, absolutamente tudo,
quando tratado exclusivamente bem.

Sem ele a vida é apenas o que os outros querem...

Portanto, quando magoado,
há que lhe dar tempo,
bastante tempo,
para ele se orientar.

Esse estranho intestino
é a chave para a vida feliz:
se ele bem tu bem.

Convém estar fechadinho...

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