Há qualquer coisa estranha na vida,
na minha vida.
Uma absoluta vontade de recriar o que vejo,
o que sinto e vivo.
Cada dia não pode ser igual ao anterior.
Cada dia tem que haver a novidade actual.
O presente sempre,
uma arte de viver em infinito
esta vida mortal.
Então minhas forças nunca estão
compreensíveis aos outros,
os meus sofrimentos são ridículos
e irracionais.
A solidão me persegue
e a imaginação a acende em chamas
de iluminação ou absoluta escuridão.
Tenho pena que assim seja
mas me nasci assim
e minhas sensibilidades
guardam deveras suas verdades...
Quem me dera ser simples, coloquial
e racional
mas minhas forças tão todas dobradas
ao sobrenatural.
O que amo é o além e o mistério de saber decifrar
o que para os outros - por acreditarem no que têm -
parece impossível.
Eu nunca acredito no que tenho,
vivo da descoberta
e meu único consolo
é algo novo descobrir.
Rápido morre tudo o que sei,
rápido pesa fétido tudo o que antes alegre inventei.
Para mim nunca haverá calma nesta vida
porque nasci de uma invenção e sou pleno de lucidez
que rasga qualquer outra razão.
Sei dar a volta à vida
e ver-lhe em sangue de olhos
mentira.
Sei de tudo e não esqueço nada,
não acredito em perdoar
ou despressões longínquas
pois aquilo que sempre sinto
me fica e está no peito.
Quem me fez nascer assim?
Sou uma alma antiga
que de si
descobriu a Humanidade
e vive a vida à porrada
de a afirmar, ainda,
depois de tanta Tecnologia,
VIVA!
Afirmação de vida selvagem,
afirmação da incompreensão do espírito
querer viver em tão tamanha descrente e perversa
civilização.
Como um leão em vestes de menino,
como tempestade num dia lindo,
sou o que de maneira nenhuma é compreensível
aos demais.
Sofro infernais invenções pessoais
pela teimosia de achar que isso leva a algum novo lugar.
Vivo as maiores loucuras de conhecer e ver Espírito
quando todos andam por aí sempre a morrer.
Sou o maior grito de tudo o que sei e conheci
e estudei,
mas isto no maior silêncio que só a galáxia mais distante
pode conhecer.
A doença de ter de viver com isto...
A coisa de viver o cérebro como vida
e a vida como dor.
Se houvesse-me dinheiro iria viajar
e inventar nova vida
mas eu sou trabalhador.
Aquele que de baixo nível
faz da noite,
da vida da noite,
o seu maior esplendor!
Não sei dessas "coisas" dos outros...
Tentei, eu tentei
mas, por algum motivo, Sinto
mais do que vivo.
Fodasse para toda a humanidade consumista
e pobre de espírito
(isto porque tive de ir ao centro comercial colombo hoje).
Eu nasci para dar honra a este corpo de merda
que deambula em tão mera sobrevivência económica.
Olhei os pardais, os pombos, as gaivotas
e os patos hoje antes de almoçar
(ali ao pé do Marquês de Pombal).
Todos de um lado para o outro
acompanhados por suas esposas e amigos
e rivais.
Olhei tudo isto com o maior carinho e respeito
porque sei eles maiores que qualquer ser humano
com que partilhei esplanada...
Não pagam impostos,
não pagam a vida,
vivem de comer, cagar e foder
com a maior das alegrias.
Vivem de pertencer à única lei
alguma vez estabelecida por deus:
nascer e morrer.
Nascer e morrer apenas.
Poetas...
A Natureza gera poetas
e a civilização actual
gera consumistas.
Que pobreza vejo em seus sorrisos...
Ainda mais agora que a minha amada Lisboa
se tornou igual a todas as outras cidades:
uma puta turística.
Vejo os patos e são felizes,
a abanar os rabos
e a fazerem aquele barulho que fazem com a boca ou bico,
engraçado.
Preciso de férias ó deus maior!
Preciso de ir além desta neurose de trabalhador!
Preciso conhecer novamente
que a água que bebo
e o ar que respiro
são, deveras, as únicas Identidades
que superam todo este sofrimento humano actual.
Na febre de pertencer a tudo isto
ao menos, de noite,
me dê a calma o conhecimento,
o passado e a consciência disso.
Mas lá não chego!
Preciso de IR!
IR onde?
IR!
Sem comentários:
Enviar um comentário