terça-feira, 14 de março de 2017

Há qualquer coisa estranha na vida,
na minha vida.

Uma absoluta vontade de recriar o que vejo,
o que sinto e vivo.

Cada dia não pode ser igual ao anterior.

Cada dia tem que haver a novidade actual.

O presente sempre,
uma arte de viver em infinito
esta vida mortal.

Então minhas forças nunca estão
compreensíveis aos outros,
os meus sofrimentos são ridículos
e irracionais.

A solidão me persegue
e a imaginação a acende em chamas
de iluminação ou absoluta escuridão.

Tenho pena que assim seja
mas me nasci assim
e minhas sensibilidades
guardam deveras suas verdades...

Quem me dera ser simples, coloquial
e racional
mas minhas forças tão todas dobradas
ao sobrenatural.

O que amo é o além e o mistério de saber decifrar
o que para os outros - por acreditarem no que têm -
parece impossível.

Eu nunca acredito no que tenho,
vivo da descoberta
e meu único consolo
é algo novo descobrir.

Rápido morre tudo o que sei,
rápido pesa fétido tudo o que antes alegre inventei.

Para mim nunca haverá calma nesta vida
porque nasci de uma invenção e sou pleno de lucidez
que rasga qualquer outra razão.

Sei dar a volta à vida
e ver-lhe em sangue de olhos
mentira.

Sei de tudo e não esqueço nada,
não acredito em perdoar
ou despressões longínquas
pois aquilo que sempre sinto
me fica e está no peito.

Quem me fez nascer assim?

Sou uma alma antiga
que de si
descobriu a Humanidade
e vive a vida à porrada
de a afirmar, ainda,
depois de tanta Tecnologia,
VIVA!

Afirmação de vida selvagem,
afirmação da incompreensão do espírito
querer viver em tão tamanha descrente e perversa
civilização.

Como um leão em vestes de menino,
como tempestade num dia lindo,
sou o que de maneira nenhuma é compreensível
aos demais.

Sofro infernais invenções pessoais
pela teimosia de achar que isso leva a algum novo lugar.

Vivo as maiores loucuras de conhecer e ver Espírito
quando todos andam por aí sempre a morrer.

Sou o maior grito de tudo o que sei e conheci
e estudei,
mas isto no maior silêncio que só a galáxia mais distante
pode conhecer.

A doença de ter de viver com isto...

A coisa de viver o cérebro como vida
e a vida como dor.

Se houvesse-me dinheiro iria viajar
e inventar nova vida
mas eu sou trabalhador.
Aquele que de baixo nível
faz da noite,
da vida da noite,
o seu maior esplendor!

Não sei dessas "coisas" dos outros...

Tentei, eu tentei
mas, por algum motivo, Sinto
mais do que vivo.

Fodasse para toda a humanidade consumista
e pobre de espírito
(isto porque tive de ir ao centro comercial colombo hoje).

Eu nasci para dar honra a este corpo de merda
que deambula em tão mera sobrevivência económica.

Olhei os pardais, os pombos, as gaivotas
e os patos hoje antes de almoçar
(ali ao pé do Marquês de Pombal).
Todos de um lado para o outro
acompanhados por suas esposas e amigos
e rivais.
Olhei tudo isto com o maior carinho e respeito
porque sei eles maiores que qualquer ser humano
com que partilhei esplanada...

Não pagam impostos,
não pagam a vida,
vivem de comer, cagar e foder
com a maior das alegrias.

Vivem de pertencer à única lei
alguma vez estabelecida por deus:
nascer e morrer.

Nascer e morrer apenas.

Poetas...

A Natureza gera poetas
e a civilização actual
gera consumistas.

Que pobreza vejo em seus sorrisos...

Ainda mais agora que a minha amada Lisboa
se tornou igual a todas as outras cidades:
uma puta turística.

Vejo os patos e são felizes,
a abanar os rabos
e a fazerem aquele barulho que fazem com a boca ou bico,
engraçado.

Preciso de férias ó deus maior!

Preciso de ir além desta neurose de trabalhador!

Preciso conhecer novamente
que a água que bebo
e o ar que respiro
são, deveras, as únicas Identidades
que superam todo este sofrimento humano actual.

Na febre de pertencer a tudo isto
ao menos, de noite,
me dê a calma o conhecimento,
o passado e a consciência disso.

Mas lá não chego!

Preciso de IR!

IR onde?

IR!
 

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