sexta-feira, 17 de março de 2017

Algum silêncio, o mar a bater nas rochas,
o meu pensamento em todo o conhecimento adquirido
e tu no longe sempre.

A obrigação do extremo,
a necessidade de viver sempre a explodir
e se assim não for,
já sabemos...
implodir.

A vida não foi feita para todos...

Há quem sinta coisas demais
e há quem se não tolere falhas,
incoerências que só o Eu e deus sabem.

Vivo no limbo meu amigo,
vivo no limbo.

E de sofrer a vida a sabê-la
eu adio a partida
mas estou sofrido
sendo visto que onde sou
já fui
e isso gasta-me como se
vivesse inverso,
sempre ao contrário
do que a minha alma
e tenacidade espiritual ordenam.

Há quem fuja disto
mas eu prefiro não, pelos vistos.
Sinto bem aquilo que sofro
até não mais dar e ter que morrer ou ir.

O suicídio faz sentido para aquele que acha
que a vida é só "isto".

Ora eu nasci sabendo que a vida é só além,
tudo isto que testemunhamos é bastidores
do que é deveras a vida,
isto é, o sonho, o sub-consciente
ou a Consciência efectivamente.

Escrever a vida a cada momento
e quando largo a caneta
ver tudo tão nitidamente
que parece que existo para existir apenas.

Vida perfeita,
perfeitamente acontecendo
enquanto fumo um cigarro
com sorriso nos lábios,
incertezas lindas na minha cabeça
e a física quântica da consciência
a dar-me e a tirar-me ideias
como se vidas fossem infinitamente vividas
dentro de mim sem minha intervenção.

Perigoso estar fraco se se é poeta de criação
pois perde-se a mística - ao leitor -
do que é que faz este ser criar e sofrer e alegrar.

A responsabilidade de ter de estar no cume
embora que por aqui sentado,
feito emplastro humano
social e pagador de rendas e tal.

Não sei como será esta coisa de crescer
e deixar de ser jovem e crer.

Daí alguns se irem neste momento,
nesta mudança de hora na vida...

Mas eu sempre só acredito na minha criança
portanto creio que sempre serei
- porque não consigo ser de outra forma -
um cínico da contemporaneidade.

Isto porque sou teimoso daquilo que senti
e sei do passado,
esse tesouro que nos leva por todo o lado
- se cuidado.

É preciso ter cuidado para o não esquecer
com as sensualidades de uma donzela
que pensa que por tu seres incapaz de a tratar mal
ela te pode dizer por onde ir,
ir com ela para onde ela quer.

Embora elas saibam de muito e boa coisa
para quê ir se tu conheces o teu ir
e vais nele bem?

E é difícil ir com ela
quando o teu ir não coincide com o dela.

Mas para quê disto falar?

Só me apetece estar além...

Inventar razões para o meu sofrimento
quando sei que a única razão
é o de estar cansado de ser conhecido
e pensarem que me conhecem
e as rotinas e o quotidiano
me já não surpreenderem.

Sei lá.

Não estou situado em mim,
é só.

Se tivesse iria ou ficava efectivamente.

Assim só deambulação
com alguma esperança
que a coisa ganhe nova razão.

Pode ser que sim
mas acredito que não.

É um gozo meu tal sofrimento
se decifrar por linhas tão elegantes
e cordiais
quanto o que mais me apetecia era matar-me
ou matar alguém.

Talvez aí a graça de escrever...

Decifrar o sofrimento como prazer de compreender.

Sofrer é ridículo mas existe efectivamente quando se sofre,
é curioso.

Bastava, talvez, uma carga de pancada,
ou um acto terrorista alheio
- seja mau ou bom -
para rebentar esta bolha.

Mas por agora sofro,
parece que gosto,
herança de família e cultura.

Ser português, de vez em quando,
é uma bela merda...
   

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