quarta-feira, 8 de março de 2017

Encontrado numa dança amena
a pena de minha escrita não inventa,
nem cria,
é apenas peso.

Pesa-me toda esta ousadia de saber e imaginar
e não o poder fazer por ter que decidir seja o que for
neste insuportável mundo real e físico.

Eu sou do outro ó gente!

Sei que é absurdo e incompreensível
mas eu vivo de um outro mundo só meu.

Mundo de plenitude e harmonia,
onde tudo é possível e encorajado.

Onde a ordem do dia é fazer o impossível
e viver cada momento como se o universo nos devesse toda a vida.

Então, quando assim estou,
frustrado, fechado
(porque demais exposto ao mundo)
complicado de tudo
mas a cima de tudo negro
- absolutamente negro -
de todo o movimento eterno
estar impaciente com minha demora:
esta demora de me decidir.

Que dor de cabeça me é viver...

E as coisas que invento para sofrer!

Uma parte de mim ri-se disto
mas chega a um ponto em que tudo se deixa de rir
e dentro apenas um imenso pântano onde sombras vagueiam.

Porque sempre fiz a vida à porrada e em plena velocidade!

O que é preciso é IR!

Se não por aqui, por ali,
se não por ali por acolá,
o que é preciso é IR!

Tudo à pancada cá dentro
com pressa de vida porque
tanta a tem dentro que precisa
de a filtrar pela experiência real,
para dar lugar a Algo.

Um algo que se torna o mundo,
meu mundo,
universo perfeito e seguro
onde em colunas rectas
eu assumo o meu trono,
governo sem pestanejar
a ordem que me fez por aqui andar.

Imune, ileso, impenetrável
é esse meu mundo
quando perfeito o reino
e ninguém o sabe se não eu.

Assim, quando este mundo rui,
rui tudo, nem vale a pena tentar
aguentar a era de decadência deste reino
- foi-se.

Mas lá vem outro com o sofrimento...

Vive então uma civilização dentro de mim.

Eu vivo de a formar à perfeição
de elegância suprema e arte sublime
de a ser aqui na terra sem que ninguém veja nunca
o que só eu imagino e crio para ser uno e único.

Ora, já fiquei assim antes...

Mas antes era mais novo,
e a genica da adolescência
mete em ordem esta incoerência
com mais velocidade,
isto é, fuga.

Crescendo a fuga se torna mais difícil
porque há comprometimento
e vai-se ganhando umas escamas velhas
de contemporaneidade horrenda,
enfim, um certo conforto que se vai desejando...

É o amor, ou tão somente eu me partilhar com
uma mulher que aprecio e gosto de ter ao pé
- para aprender, para me ser e tudo o mais.

Ela vai entrando com o seu mundo
enquanto eu sacrifico o meu,
esqueço ele pela sedução dela.

Claro que isto tem sempre data de validade
desde o começo,
eu o sei e sinto antes mesmo de começar
a cair.

Mas queria sempre persistir,
conseguir vingar neste (meu) mundo
e erguê-lo aí na terra para que todos o vissem
e apreciassem e ela feliz a ver tudo isto
a meu lado e dentro desse, deste mundo.

Mas tudo isto dói e exige muito mais forças
que as forças que herdei e consegui até hoje.

Sei ser rei de mim e meu reino
mas quem consegue ser rei de uma mulher?

...ela é rainha.

Difícil ser rei e manter o reino
com uma rainha que o não sabe pormenores,
detalhes e delicadezas necessárias
a um Homem sentir-se rei de tudo o que antes Criou.

Assim a mulher, para mim, é para renovar o reino,
mudar a história, escrever uma tempestade,
um tsunami, um brutal terramoto.

Rápida é a passagem dela pela minha vida
mas os danos e aprendizagens ficam para sempre
- ou quase...

Até uma outra.

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