segunda-feira, 10 de março de 2014



Hoje acordei com o Fernando a bater-me à porta do quarto com toda a força a gritar "Fomos assaltados, assaltaram a casa!". Praticamente a dormir eu desci as escadas com ele e vi a casa completamente normal, igual, arrumada. Mas os sinais eram claros, desapareceu o telemóvel do Fernando e o notebook dele. Mais tarde vimos a descobrir que também o computador da Catarina, irmã do Fernando,  também tinha sido roubado - computador esse com quatro anos de estudos e organização imprescindíveis. Bom, a mim não me roubaram nada... Que sorte, sorte maravilhosa. Sorte também não termos acordado, nem eu nem ele, e tido um conflito possivelmente violento com os assaltantes. Nem consigo bem posicionar a minha cabeça e reacção a tal violação de espaço e último refúgio nesta sociedade apressada. Se nem em casa se pode estar sossegado, então a vida é simplesmente um controlo absoluto de prevenção e não entrega. Bom, não pensemos mais nisso que deveras se se torna assunto de pensamento a vida é absolutamente impossível. Fomos roubados, arrombaram a porta, agora só há que voltar ao normal, preservando a ténue linha que nos liga a tudo isto. Não estou preocupado, não sei se devia... a vida corre na mesma.

Ontem a noite foi bastante boa, quatro fanfarras em concerto, uma espécie de Carnaval privado de bom gosto pessoal. Muito boa gente e meninas que encantam a mente. Ainda nenhuma me encantou daí além mas sei que mais tarde ou mais cedo "caio" numa delas - não convém cair muito pois vivemos em tempos em que o amor se paga bem caro e com tempo.

Hoje dei a minha primeira volta a pé sozinho pela cidade - uns quinhentos metros: ir entregar uns DVD's alugados pela mãe do Fernando e voltar para casa. Nada de especial, é certo e logo depois de ter sido assaltada a casa chega a ser irónico. É que a tensão do Rio de Janeiro não se compara com a de Lisboa - também sou estrangeiro aqui enquanto que lá sou nativo. Talvez só essa a verdadeira diferença. Ainda me estou a habituar. América do Sul e Europa são diferentes. Como um senhor Belga, com quem falei ontem, que nasceu na Republica do Congo, trabalhou no Porto e depois decidiu enveredar pelo Rio de Janeiro dizia: "Isto aqui é tudo surrealista. O Brasil é um país Surrealista!" A vida dele também, diria eu. Olhava para mim com um enorme afecto (sim afecto) a dizer que adorava Portugal, tudo certinho e pacato mas sabendo viver. "A Bélgica é igual: as pessoas gostam de festejar mas depois voltam à sua vida pacata." Sempre a insistir que a vida aqui - no Rio - era muito difícil devido ao medo de ser assaltado e da desgovernação generalizada. Bom, falou muito o homem.

Escrevo como diário, tentado descobrir uma nova forma de escrever que não tanto invente mas compreenda o que é inventado e processado pela vida em si. Relatar e observar, viver tanto em vida como em escrita,
sem demais devaneio ou alienação. Esses dois foram (e são) a base da minha criatividade passada (e ainda actual). Mudar é bom mas requer uma paciência e tolerância imperiais e guerreiras.

Um dia de cada vez.



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