A passear pelas ruas de Botafogo eu me sinto quase já em casa; quase conhecendo o leme
de conforto ténue entre eu e este mundo estranho e diferente. A sociabilidade aqui é
diferente da que estou habituado; e por mais que me pense versátil já o não sou tanto
e me creio velho, bem mais velho do que o que sou, como se tivesse chegado a um fim.
Mas este fim guarda, afinal, um principio - como todo o fim aliás - e nisto eu aguardo
me habituar a este novo estado. Não sou de esforçar um lado, principalmente o meu lado.
Sou de deixar fluir sendo com tudo o que me limita e habita, florescendo então assim - meio
que torto mas sempre indo, subindo (espero eu). Sou deveras cobarde em muita coisa
que não esforço, que não tomo iniciativa, que não deixo me seduzir cá dentro - onde tudo é certo.
Enfim, escrevo porque sim, escrevo, (porque me muito também questiono sobre este estranho
ofício), para lembrar e esquecer a vida outra e esta, e quem sabe das duas fazer uma boa.
Queria só uma e deixar a imaginação para outro, para a arte, para o tanto que já escrevi no
passado. Gostaria de largar esta toda alegoria de pensamento e vida - coisa distante à física.
O gato aqui, a meu lado, não mia, nem quer vestinhas mas gosta de companhia. Em parte,
sou como ele, ou melhor ela, porque é uma ela, uma gata. Entretém-se sozinha e se esforçam
carinho ela arranha. Chama-se Névoa e é um bom nome porque a evidencia como misteriosa.
Coisa que ela é não o sabendo. Que dádiva! Para quê saber-se o que se é? E que pretensão
tremenda pensar-se já ser antes de uma nova oportunidade a ser: presente. Oh mas falo demais.
Pior, escrevo demais! Ainda que falasse... Porque falar a maior arte. Conversar, o maior encontro.
Mas devo admitir que estamos numa era em que a comunicação, por ser em demasia e por ter
como base o capitalismo e a economia, é pobre, pobrinha e cansa mais do que descansa a alma.
Ser simpático aqui não compensa. A simpatia é a moeda de Portugal. Creio que aqui, no Brasil,
é, claramente, a mulher e a sexualidade que ela sempre desperta ao homem, a moeda cultural.
Não é uma má moeda, até porque há belezas aqui que não existem em qualquer outro lado.
O brasileiro falado por uma bela brasileira é sexo auditivo, é sensualidade e sexualidade ao vivo.
Tenho demais dúvidas quanto a vida a tomar. Espero. Mas não sei se devia. Minha vida é, em
grande parte, uma espera. Já vivi muito fora dela mas a espera é-me concubina astral. Tento dela
fugir mas sempre a ela volto. Até uma outra me resgatar deste estado...
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