sábado, 7 de janeiro de 2017

Oh, sempre que estabeleço o começo
logo de fim me entretenho
chegando a não fazer
sequer ser.

E na pressa de querer e querer
me estorvo tanto
que canso maneira de ser
deixando de o saber.

Quero encontrar oxigénio que me mame a vida
perdida.
Tento-a a encontrar
- perdido que estou sem meu próprio amado lar.

A minha cabecinha,
oh, a minha cabecinha está maluquinha...

Quero saber de novidades do mundo,
cair-me ao chão da realidade pura e crua
e olhar, de olhos abertos, vida nova!

Oh, que pena que tenho de saber
que sou assim,
obsessivo e ressentido,
escravo do comboio rápido
que me leva sempre a nenhum lado:
tudo!

Saí ontem,
oh, saí certamente!
Bebi bem e conversei loucuras
e conversaram-me a mim também.

Noite de loucos serena,
com alegria e alguma fantasia,
descobrimos entendimento e
relativamente feliz fui para a cama.

Mas tendo de acordar cedo
para estar na roda dentada desta economia deficiente
tive uma ressaca de infernos,
culpabilidades e estranhas coisas do passado
que ainda remoinham minha cabecinha.

Porque, meu amigo,
se eu não estou a fazer algo efectivamente
então minha mente me mata em prol de sua ânsia de criação.

E querem que arranje melhor trabalho,
melhor ofício para o futuro
mas eu, de momento,
meu querido amigo,
vejo tão pouco esse futuro...

Quero e quero
mas sem disciplina
amanso em lodo de preguiça
sem crença,
sem ânsia.

À porrada vive a minha mente.
E se não uso essa porrada para a arte
- disciplina da loucura -
a porrada me vem a mim,
concreta e tão certamente a mim,
no âmago de mim,
na profundeza do meu coração
de criança homem
que chora o saber demais
para poder ser apenas
e feliz.

Minha voz,
meus olhos e minha crença
são e devem ser honras a um tal deus
que não sei mas sinto ou senti.

De momento,
perdido,
encontro sofrimento
e como ele se mantém sempre que dele tento fugir,
decido ficar nele.

Qual a solução?

Estou sempre tão cheio de morte dentro
que a única solução é gritar violentamente vida.

Mas a violência fugiu-me meu amigo.

E sem violência não fala
a doce alma neste mundo.

Porque a doce alma só pode existir e persistir
naquele que de violência fez defesa metafísica
para o espiritual.

Porque é o espírito que é.

E se se perde ele ou isso
o que é de nós?

Espantalhos que recebem e gastam dinheiro,
fogem ao que têm medo e adiam a verdadeira sua voz.

Cansado de tudo isto,
cansado afinal de tanto me ter de dar
para me sentir, enfim, feliz aqui.

E quando me cansam
eu me canso
e o cansaço
todos sabemos
não levar a nenhum lado.

Prezo a violência porque é
a única que rebenta com as fraquezas
que nascem de ser meramente sensível.

Minha mãe fez-me assim.
Meu pai orgulha-se de mim.
Mas não estando eu orgulhoso
desprezo tudo isto e mais aquele todo:
afectos e carinhos.

Estou venenoso.

E sei que assim sou
quando não satisfeito comigo,
quando não perspicaz e rápido,
insensível às fraquezas de me dar todo ao mundo.

Eu quero a comunicação pah!

Eu quero perceber-te
e contactar com a alegria de saber
que o momento que se vive Agora
nunca mais vai ser.

Eu procuro saber
mesmo que tu estejas
na desgraça de viver uma vida excessivamente material.

É que eu sou espiritual
e só assim me prezo.

Quando entra a desgraça do mundo actual em mim
e quebra as sintonias nítidas e lindas de minha cabecinha
eu fico louco pah,
louco caralho!

Porque o que é o mundo
a tudo o que eu já inventei,
soube, sei?

Fiz e faço de minha existência
plataforma de inteligência universal
de vivos e mortos,
música e ciência,
cultura e religião,
família e amigos e desconhecidos familiares:
raça humana!

Porque sei sermos todos um!

Sei ser esta coisa de minha cabeça idiota
uma mentira instintiva para eu não continuar
meu caminho diabólico de nos conhecer a todos
Agora!

Sabias que vais morrer?

Entendes isso?

Hoje, amanhã ou depois
tu vais morrer.

É curioso...

Tive absolutamente consciente disso
durante bastante tempo ainda
mas depois caí-me em orgulhos e egos
e perdi-me.

Perdido meu irmão.

Quero amor mas não o consigo deixar sentir ou vir.

Estou venenoso,
já o disse...

Admiro todo o ser humano que vive com habilidade,
medos e ansiedades.

Quero ser como vós
mas estou perdido num cansaço antigo
que talvez hereditário e tal
mas é meu,
agora também.

O quanto gosto de ser
- quando consigo -
como vós!

O quanto admiro todo o ser humano que vejo mover-se
e, não sabendo, estar a ser (para mim).

Como um grande palco a vida se me evidencia
e isto que vejo e sinto e escrevo e sou
não quero perder
- não posso perder.

Daí a minha ânsia de querer estar por aí
vivendo cada momento até ao ínfimo detalhe.

E o resto?
E o resto...

O resto é o resto.

Minha vida é sagrada
e toda a vida o é.

Não querer perder essa crença na vida
é como gloriosamente se pode e deve ser.

Até amanhã.

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