Eu como que não consigo!
Tento prestar auxílio ao meu destino
mas com grande entre-parêntesis está.
Queria matar alguém,
fazer um absurdo,
perder tão completamente
que a única coisa que tinha
era me levantar e Começar a andar.
Eu sou maluco de longe
mas de perto sou a coisa mais pura
que não tem tantas forças para resistir
à coisa automática de hoje.
Se me pressionam nascem-me demónios do passado
feitos caras deste tempo
e - amplificando -
me destroem toda a coerência que tanto,
tanto prezo.
Quero me matar ou dar alguém o meu lugar.
Quero descobrir que além de mim
existe um outro por onde descobrir vazio
o tudo que nada mais amo neste mundo.
Dar a alguém a minha cabecinha
para poderem saber o que é sofrer
- sofrer sem razão as coisas mais irracionais
de outro mundo que torcem a naturalidade à maior perversidade.
Estou maluco,
estou maluco,
porque não dizê-lo?
Se tivesse duas vidas!
Se eu soubesse que haveria outra
- só mais uma, para tentar Aquilo que procuro!
Uma vivia eremita, longe do mundo,
sozinho, calado e profundo.
A outra vivia contigo Mulher,
sem sombra de dúvida,
rebentava com toda esta ânsia de querer saber por mim
Tudo - sacrificando-me pleno a ti.
Mas não sei.
Vivo múltiplas sempre vidas de nunca
para desbravar a alegria de tê-las todas
sendo que nunca, se calhar, tive nenhuma
efectivamente.
É que o dom de escrever
é um dom mágico
que me faz fazer do perder
um ganhar, como que, "tântricamente"
Espiritual.
Tentei ser sóbrio e coloquial
- naturalmente coloquial, devo acrescentar -
mas logo algo neste mundo desagradável
me ficou no ouvido, como um zumbido,
a me flagelar coração, ideias, sentimentos,
imaginação, destino e intuição.
Assim, quero perder tudo novamente
para saber Apenas o meu espaço.
Espaço esse que sei Fazer digno da vida.
É curioso como sou escravo deste cérebro
que me imagina e soletra pensamentos
que demais imperfeitos são, de uma estranha forma, certos.
(Ou fá-los certos também o coração.
- esse que tão adora sofrer!)
Barda-merda a isto tudo!
A única coisa que aprecio verdadeiramente
neste mundo é a coerência do espírito,
a alegria dos pensamentos gritantemente reais
que se só manifestam em mim perfeitos
- longe do mundo dos outros e assim.
Mas é preciso continuar,
enquanto o corpo anda
é preciso sofrer por aí
e trabalhar.
Mesmo e especialmente quando se nada tem de razão nisso.
Coisa estranha...
Se eu fosse para o campo agora ficava bom,
é simples.
Um pouco de tempo só
e sozinho,
os pássaros e o silêncio,
a alma e o vento:
ficava bom.
Mas há que trabalhar e férias
não as existe na precariedade doentia dos mundos actuais...
Normalmente vivo de férias na cabecinha
mas esta agora está doentinha e
assim queria era mesmo sair daqui.
Mas não dá.
Nos fascículos da vida
se morre e nasce
muitas vezes
se o sentimento e o momento
querem-se absolutamente reais
- isto é, eternos, infinitos e toda essa coisa.
Eu vivo até ao limite,
até me queimar
e depois uma chatice acontece
e sei que vai durar
o sofrimento e a dualidade
do prazer e sofrer serem faces da mesma moeda.
Mas assim é a vida
e dessa eu creio me entender.
Devia, talvez, entender menos
que era para me não demorar nestas instâncias
de pensamento e sofrimento.
Mas, como já diz o famoso português:
"não se pode ter tudo".
E, como o sou, digo o mesmo
(embora parte de mim abomine esta raça!)
Sou inglês, chinês e venezuelano,
sou macaco até
ou rato mas é.
Aliás eu nem sei sequer se sou humano,
vê lá tu a minha questão!
Porque sei que nasci de um sentimento de perda
de um ganho que adiei ao infinito.
Sendo a minha vida mortal
um testamento somente a esse facto,
de alguma forma, irreal.
A vida do corpo é uma
mas a do espírito,
meu amigo,
essa é outra toda vida...
Concorrer a tudo isto ao mesmo tempo.
Saber de loucura e sobriedade
com a calmaria de um velho na montanha
e coração de uma pequena e vulnerável criança.
Ai deus, porque me fazes ser isto?
Criar é destino
e inventar
cortesias de pensamentos cobardes ou obscenos.
Porque há que ser como a vida quer,
há que tentar ser digno dela a todo o doer.
Dói o corazon e a alma
mas de uma maneira quase ridícula
mantenho a calma.
Não sei.
"São cenas" como já dizia o meu irmão.
Cenas, apenas cenas que são agora
e depois serão direcção
(esperemos).
Já não tenho as forças de puto para me revoltar
com tudo isto e com a vida.
Agora, ausculto com perseverança tudo aquilo que não entendo.
Já tive a raiva em mim
e tenho-a aqui.
Dar-lhe voz agora não consigo.
É outra coisa que preciso...
Esquecer-me e lembrar-me simultaneamente
e assim sucessivamente
até não mais ter a ser
que estar e ficar
hirto mas sereno de meu próprio
único lugar.
Ser tu mesmo é a coisa mais difícil
e por isso há que ser apenas essa coisa.
(que é uma "coisa")
Sem comentários:
Enviar um comentário