quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Eu como que não consigo!

Tento prestar auxílio ao meu destino
mas com grande entre-parêntesis está.

Queria matar alguém,
fazer um absurdo,
perder tão completamente
que a única coisa que tinha
era me levantar e Começar a andar.

Eu sou maluco de longe
mas de perto sou a coisa mais pura
que não tem tantas forças para resistir
à coisa automática de hoje.

Se me pressionam nascem-me demónios do passado
feitos caras deste tempo
e - amplificando  -
me destroem toda a coerência que tanto,
tanto prezo.

Quero me matar ou dar alguém o meu lugar.

Quero descobrir que além de mim
existe um outro por onde descobrir vazio
o tudo que nada mais amo neste mundo.

Dar a alguém a minha cabecinha
para poderem saber o que é sofrer
- sofrer sem razão as coisas mais irracionais
de outro mundo que torcem a naturalidade à maior perversidade.

Estou maluco,
estou maluco,
porque não dizê-lo?

Se tivesse duas vidas!

Se eu soubesse que haveria outra
- só mais uma, para tentar Aquilo que procuro!

Uma vivia eremita, longe do mundo,
sozinho, calado e profundo.

A outra vivia contigo Mulher,
sem sombra de dúvida,
rebentava com toda esta ânsia de querer saber por mim
Tudo - sacrificando-me pleno a ti.

Mas não sei.

Vivo múltiplas sempre vidas de nunca
para desbravar a alegria de tê-las todas
sendo que nunca, se calhar, tive nenhuma
efectivamente.

É que o dom de escrever
é um dom mágico
que me faz fazer do perder
um ganhar, como que, "tântricamente"
Espiritual.

Tentei ser sóbrio e coloquial
- naturalmente coloquial, devo acrescentar -
mas logo algo neste mundo desagradável
me ficou no ouvido, como um zumbido,
a me flagelar coração, ideias, sentimentos,
imaginação, destino e intuição.

Assim, quero perder tudo novamente
para saber Apenas o meu espaço.

Espaço esse que sei Fazer digno da vida.

É curioso como sou escravo deste cérebro
que me imagina e soletra pensamentos
que demais imperfeitos são, de uma estranha forma, certos.

(Ou fá-los certos também o coração.
- esse que tão adora sofrer!)

Barda-merda a isto tudo!

A única coisa que aprecio verdadeiramente
neste mundo é a coerência do espírito,
a alegria dos pensamentos gritantemente reais
que se só manifestam em mim perfeitos
- longe do mundo dos outros e assim.

Mas é preciso continuar,
enquanto o corpo anda
é preciso sofrer por aí
e trabalhar.

Mesmo e especialmente quando se nada tem de razão nisso.

Coisa estranha...

Se eu fosse para o campo agora ficava bom,
é simples.

Um pouco de tempo só
e sozinho,
os pássaros e o silêncio,
a alma e o vento:
ficava bom.

Mas há que trabalhar e férias
não as existe na precariedade doentia dos mundos actuais...

Normalmente vivo de férias na cabecinha
mas esta agora está doentinha e
assim queria era mesmo sair daqui.

Mas não dá.

Nos fascículos da vida
se morre e nasce
muitas vezes
se o sentimento e o momento
querem-se absolutamente reais
- isto é, eternos, infinitos e toda essa coisa.

Eu vivo até ao limite,
até me queimar
e depois uma chatice acontece
e sei que vai durar
o sofrimento e a dualidade
do prazer e sofrer serem faces da mesma moeda.

Mas assim é a vida
e dessa eu creio me entender.

Devia, talvez, entender menos
que era para me não demorar nestas instâncias
de pensamento e sofrimento.

Mas, como já diz o famoso português:
"não se pode ter tudo".

E, como o sou, digo o mesmo
(embora parte de mim abomine esta raça!)

Sou inglês, chinês e venezuelano,
sou macaco até
ou rato mas é.

Aliás eu nem sei sequer se sou humano,
vê lá tu a minha questão!

Porque sei que nasci de um sentimento de perda
de um ganho que adiei ao infinito.

Sendo a minha vida mortal
um testamento somente a esse facto,
de alguma forma, irreal.

A vida do corpo é uma
mas a do espírito,
meu amigo,
essa é outra toda vida...

Concorrer a tudo isto ao mesmo tempo.

Saber de loucura e sobriedade
com a calmaria de um velho na montanha
e coração de uma pequena e vulnerável criança.

Ai deus, porque me fazes ser isto?

Criar é destino
e inventar
cortesias de pensamentos cobardes ou obscenos.

Porque há que ser como a vida quer,
há que tentar ser digno dela a todo o doer.

Dói o corazon e a alma
mas de uma maneira quase ridícula
mantenho a calma.

Não sei.

"São cenas" como já dizia o meu irmão.

Cenas, apenas cenas que são agora
e depois serão direcção
(esperemos).

Já não tenho as forças de puto para me revoltar
com tudo isto e com a vida.

Agora, ausculto com perseverança tudo aquilo que não entendo.

Já tive a raiva em mim
e tenho-a aqui.

Dar-lhe voz agora não consigo.

É outra coisa que preciso...

Esquecer-me e lembrar-me simultaneamente
e assim sucessivamente
até não mais ter a ser
que estar e ficar
hirto mas sereno de meu próprio
único lugar.

Ser tu mesmo é a coisa mais difícil
e por isso há que ser apenas essa coisa.

(que é uma "coisa")
 

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