domingo, 1 de janeiro de 2017

O amor sempre destrói uma identidade.

Não se pode amar e dar a companhia,
vida e tolerância individual
sem ser posta esta em causa.

Aí a dificuldade do amor para muitos...

O que se perde.
O que se ganha.

O que, a cima de tudo, se não compreende.

Troca-se de vestes.

Ela um pouco mais forte, determinada e "acentuada"
e tu mais dengoso, tranquilo e afectuoso.

A arte do amor está em manter alguma distância
dentro dessa absoluta partilha.

Mas não há coerência alguma
em partilhar a vida, cama e pensamentos
com outra querida que te abre a mão à vida.

E o mundo que temos leva tudo
se não tivermos as defesas e precauções devidas.

Eu, eu deixo-me levar,
deixo ela me levar por onde não sei
e ainda não tenho lar
- quero conhecer
essa impossibilidade!

Sou tão preciso e destemido
no meu pequeno ninho
que o mundo sempre responde
às minhas previsões.

Ora, no amor, meu amor,
tudo isso se esvai
e entras na correria da vida
se tornar imensamente nítida.

Para o bem
e, se correr mal algo,
para o mal também.

Ser forte é coisa antiga
mas coisa que gosto manter nova.

Mas ser forte e forte durante muito tempo
cansa a fragilidade poética de todos nós
- ou de mim só.

Sempre fiz com que a vida fosse uma consequência
de minha arte, escrita, poesia
- isto é, de meu feito destino intuitivo e crente.

Quando, por alguma razão, isso não se sucede,
entro numa espiral que só vai acabar em fim
- e o sei logo que acontece.

Fim de tudo: da relação e até de mim.

Vontade de morrer e essas coisas trágicas
de uma mente que sente sempre obrigação
de prosseguir conquistando batalhas pequenas
que na sua pequenez individual são maiores.

O amor é perder e ganhar identidade.

Queria-te e peco por não ter conseguido te manter
mas a verdade é que tão feliz sou em me simplesmente
ser e ver-me ser e ver os outros a ser com tranquilidade.

Ainda agora, numa esta noite de feriado e domingo
(que não sinto como domingo)
fui-me à rua buscar um vinho verde
para aclarar ideias.
Fui passear pela rua lisboeta
mas na verdade fiquei sentado ali,
olhando o Martim Moniz e o Castelo
enquanto pensava meus pensamentos
em tom de meditação.

Disse um poema a mim mesmo
- daqueles que não ficando escritos
para a eternidade são mais eternos
porque os leva somente o vento.

E senti-me bem,
soube quem sou e essa coisa toda de viver a mente
como perfeito universo crente.

De momento, frustrado e perdido
de ter sentido perder o que me custava a ter,
cansado de um trabalho que me não leva a ser,
tento o próximo,
tento a próxima,
tento manter a vida em subsistência,
magoando-me ligeiramente
para não magoar os demais.

Sou um pouco idiota nestas questões do sofrimento,
um pouco cristão e tal.

Porque quando magoado, cansado e frustrado
não peço ajuda
mas antes fico envenenado com isto tudo
e venenoso para os outros me queridos
se puxarem a corda que já no limite está.

Eu quero é falar pa!

Quero estar contigo e contigo
e não ter este zumbido no ouvido da mente
dizendo que falhei e que sou um falhado cobarde
e assim.

Se me entra um pouco de sofrimento
pelo antro de meu palácio criativo
eu me farei sofrer até ao umbigo da questão
sem qualquer prazer mas tentando alcançar alguma razão.

Mas não há razão,
meu filho.
Eu sei meu pai
mas deste-me este cérebro maluco
que quer saber e perceber tudo...

Se soubessem o quão difícil é ser eu
talvez me deixassem em paz.

Mas a vida e o mundo são mesmo assim.

As pessoas queridas, o amor e a alegria totais
podem e, normalmente, geram também as maiores
loucuras de sofrimento e angústia.

Porque na verdade se está completamente aberto
nesses momentos.

De resto a vida se faz a ferro,
a correntes de escravidão
para que o coração não ande aí
a dizer das suas e a sofrer.

Trabalha diz a disciplina.

Trabalha filho da puta
e mete toda essa desgraça emocional
em papel ou no papel digital deste blog.

Se és mais que os outros
prova-o trabalhando e não sofrendo
como um patético cristão que afinal és.

E o judeu de ti também:
usa-o para inventar o que de sofrimento
é antes ar e arte
de tua vida,
sendo mortal,
ser tão mais afinal espiritualmente vivente.

Faz disto que sentes
uma ode ao crescimento dos demais
que te hão de ler quando morreres ou antes disso.

Que escreve ele?

Já está com as megalomanias...

Opa, arranjo um amigo com quem falar,
bebe umas cervejas
e olha quem de olhos é teu futuro:
mulher de filhos, mamas, rabo e tudo!

Faz de mim teu discípulo mulher
que eu farei de tentar ser teu homem
nesta pequena e infinita vida de alegorias minhas.

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