sábado, 26 de novembro de 2016

Quando acordar verei o que tenho a dar.
Quando serenar saberei o que disto absorvi
e não soube ter mas sei sorver aos poucos pela arte
e escrita, vida e pensamento, imaginação.
Tudo movimento, tudo vai e vem.
Quando acordar eu saberei o que sofri
e se sofri bem.
Quando acordar recordarei o sofrimento
de agora com alegria e conhecimento.
Quando acordar eu me direi desperto
e feliz de enleio este me desdobrarei
em novas rotas de descobrimento.
Porque "assim" sempre sou nau à deriva,
não sabendo o porquê e me deixando levar
- às últimas consequências já desconfortáveis.
Quando acordar eu serei outro
e serei sim, finalmente, o que não reconheço ser agora.
Quando acordar,
quando acordar.
Acordarei?
É sempre esse o meu medo!
Acordar é preciso e saber o que se é.
Isso ou viver intensamente sem interrogação além,
só o imediato estar e parecer.
Mas há sempre algo que fica na cabeça a remoer.
O meu demónio não aprecia incoerência
e se a deixo estar, mesmo que sofrendo o remoer,
é só uma questão de tempo até ele, o demónio, me ganhar.
A arte não ama os covardes, dizia já Vinicius.
E é tão verdade...
E vivo a cima de tudo para a arte,
esse mistério absoluto que sabe além de tudo
e goza a vida mortal como um deus imortal,
infernal.
Saber os limites da vida,
os limites físicos da vida
- que afinal são os únicos limites da vida.
Na mente não há limites mas barreiras
e degraus.
No conhecimento existe o universo
e esse reconhece o incógnito com a tranquilidade
de o saber poder criar.
É bom que se tenha estrutura para tal conhecimento...
Normalmente, diria ser necessário um bom coração.
Pois é a intuição dele que faz o cérebro compreender a
razão e ditá-la em arte aos outros.
Só digo disparates...
Vou para a cama seguir um sonho
que tarda a chegar.
Acorda, acorda meu filho
que a vida vem a nascer,
cada dia, a cada noite.
Elabora-te nisso,
ciclo eterno e infinito
e esquece teu pesar.
Afinal, o que é a vida se não uma invenção?

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