Preciso andar por aí perdido à noite.
Preciso mostrar a mim que a noite é amiga
e guarda segredos que o dia não conhece
nem reconhece.
Preciso andar aí, sozinho e perdido,
feito vagabundo moderno.
Preciso conhecer a vida
e deixar-me levá-la por onde meus pés
caminham.
Preciso conhecer a vida no seu elemento material.
Eu sou todo febre de chatices e dor de viver.
A única coisa que me descansa é saber
que amanhã há mais uma noite,
mais uma caminhada,
mais uma descoberta de ir
sem esperar nada.
Como posso eu ser como os outros
com suas vidas simples e calmas?
Se não tenho chatices reais na vida
as invento.
A impossibilidade de estar satisfeito
e me deixar estar,
acreditando em mim agora
e não me tendo sempre de refazer e reinventar.
A arte me guarda existência, não há dúvida.
Ela quer-me normal mas sabe lá
o que se passa no sobrenatural de minha mente!
Tenho um menino cá dentro que pensa saber da vida.
Tá-me sempre a dizer coisas
e não compreende o trabalho nem a frustração.
Meu papel por aqui parece ser
vê-lo por aí,
andar, correr e se mexer
enquanto quem não o vê
anda infeliz e pesado.
Alquimia da vida.
Tão brilhante é ela por vezes
que pareço ter de inventar a magia negra
de tudo ser uma mitologia grande.
Há vida e morte.
Calma com tudo o resto
que passa...
Deus é grande
e tu pequeno.
Acorda-te a isso e deixa-te levar.
O norte não é uma teoria
nem a morte uma ideia.
Teu corpo se revelará ossos
e tu espírito
um dia.
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