quarta-feira, 23 de novembro de 2016

A escuridão guarda a luz.
Guardando-a vai mostrando
o caminho a quem caminha cá fora.
Sejas tu como que um anjo da morte
olhando a vida brilhante pois contrasta
com a escuridão que aprecias e sentes.
Escuridão é o meu amor,
o meu centro, o meu calor.
Na escuridão encontro eu conforto
e compreensão, ausência de pressa
e pressão.
É como um pai, uma figura de autoridade
que me lembra o meu tamanho e faz de mim
um veículo mais que um ser parado.
Inventei-me como veículo de descoberta
há muitos anos.
A vida mais não é que a plataforma
desta minha compreensão da escuridão.
Como se nem tivesse vivo
obedeço à ordem que sonho e sinto
neste meu cantinho.
Sou pensamento.
Pensamentos que me chegam
neste meu canto.
Deixai-me o canto escuro
que dele conheço e faço vida.
Porque tudo o que se faz com arte
tem de se fazer despreocupadamente
e como que distraidamente.
Se não encontras alegria nesta vida
então distrai-te dela e nem penses nela
mas nesse tal cantinho; aí, no encontro entre os dois
aparece-te a vida, sinais do que deves ou não fazer
e do que és e não és.
Esse diálogo com a vida, a realidade,
o mundo e os outros é uma coisa divina.
Atento ao movimento da vida,
sendo que tudo o que se vê e sente é
representação dela.
Alegria!
Mas uma alegria calma e serena
que nasce da disciplina de nos bastarmos
a tal profecia.
E assim dançar a vida com a calma
dos deuses e a tenacidade do diabo.
Sério sinto ser sabedoria a serenar
este lago denso que se chama Eu.
Preservar a ordem que o mantém intacto
e só.
Bastar-te.
Ser apenas isto e assim tudo e nada.
Serenidade atenta à alma.
Com calma.

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