segunda-feira, 16 de junho de 2014

Há dias que começam acabados,
um fim prolongado.
São dias que precisam de paciência
para além da melancolia ver noite e dia.
Há dias que cansam a própria existência
pesando-a como culpa de nenhum destino.
Dias que, por mais que belos, só mais demoram
a passar: são dias que não têm lugar.
O não conseguir dormir e assistir
ao sono da vida com preguiça.
Não tenho ao raio coordenadas
mas mantenho-me a vê-lo, quase.
São pedras que me regem
e eu feito água - ou sangue -
contorno-as.
Falta-me a desistência para ser cínico
e inventar concordância.
Neste real caminho de ausência
o que consigo é o presente.
Tratar os outros com o devido respeito
é tratar-me a mim onde já não consigo.
(coçar a ferida para quê, se infecta?)
Névoa fez hoje de manhã;
é como se o dia me saudasse simpatia.
Não mais perfeita decisão ou coordenação.
Sei apenas que por aí sobrevivo
e em brechas de distraído sinto e vivo.

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