sábado, 12 de julho de 2014

Quem dizer ter quando se já não tem
nem se quer?

Por vezes uma solidão trespassa-me
a alma e, em pânico calmo, reconheço
a morte.

Distraído que quase sempre estou
num qualquer umbigo que não sei ao certo,
e não me larga por nada, desde que para aqui vim.

Penso ser mas adio viver como uma tartaruga
que sonha correr.

Então quando me lembro que nada do que penso
é real vem-me esta absoluta dor.
Nem dor mas ausência, uma absoluta ausência
de não ter caminho e tudo nascer-me da solidão
que não quero mas assisto e mantenho.

Porquê?

Estar integrado é coisa agradável
e orienta este estado de não ter estado
só pensamento, como que real.

É uma pena.

Estes dias de ressaca em que se lembra o feliz fugaz
da noite que ontem percorri.
Estes dias que acordam a meio
e sentem em cheio esse vazio
de estar e ser sozinho como impossível ser.

É aquilo de estar a deixar passar a coisa
e vê-la ir no sorriso de outra, outro, outros...

Quero morrer por alguém,
agradar esse alguém no mais simples
e desocupado acto.

Agir dentro da linha desse alguém.

Admirar, respeitar. Amar? Sim, pode ser.

Ah, não sei.

Falta-me ocupação, é só.

Sofrer pode ser
mas só se der o que fazer.

Criar é amar com o intelecto
junto ao coração
e nascer do sexo a obra pronta
a ser vista, tocada e apreciada.

Viver para os outros
criando assim algo do encontro.

Escrever é bonito...

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