Quem dizer ter quando se já não tem
nem se quer?
Por vezes uma solidão trespassa-me
a alma e, em pânico calmo, reconheço
a morte.
Distraído que quase sempre estou
num qualquer umbigo que não sei ao certo,
e não me larga por nada, desde que para aqui vim.
Penso ser mas adio viver como uma tartaruga
que sonha correr.
Então quando me lembro que nada do que penso
é real vem-me esta absoluta dor.
Nem dor mas ausência, uma absoluta ausência
de não ter caminho e tudo nascer-me da solidão
que não quero mas assisto e mantenho.
Porquê?
Estar integrado é coisa agradável
e orienta este estado de não ter estado
só pensamento, como que real.
É uma pena.
Estes dias de ressaca em que se lembra o feliz fugaz
da noite que ontem percorri.
Estes dias que acordam a meio
e sentem em cheio esse vazio
de estar e ser sozinho como impossível ser.
É aquilo de estar a deixar passar a coisa
e vê-la ir no sorriso de outra, outro, outros...
Quero morrer por alguém,
agradar esse alguém no mais simples
e desocupado acto.
Agir dentro da linha desse alguém.
Admirar, respeitar. Amar? Sim, pode ser.
Ah, não sei.
Falta-me ocupação, é só.
Sofrer pode ser
mas só se der o que fazer.
Criar é amar com o intelecto
junto ao coração
e nascer do sexo a obra pronta
a ser vista, tocada e apreciada.
Viver para os outros
criando assim algo do encontro.
Escrever é bonito...
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