Não costumo relatar assuntos mundanos da vida profissional aqui
mas a questão é tão curiosa e absurda e, a cima de tudo, comum neste país
que sinto que quero deixar um recado aqui porque sim.
Bom, fui hoje a uma entrevista de uma empresa bem grandita
em que o recrutamento consistia em dizer que o trabalho era um Inferno,
muito difícil, muito exaustivo do ponto de vista físico e tal.
Bom, e para o começar é preciso formação, sendo a formação paga pelo,
ainda não, trabalhador da empresa.
O contracto é de seis meses apenas, sendo que a formação está incluída
neste período e, como já disse, não é remunerada, antes tem de se pagar
para ser formado no trabalho que se só vai ter passado um mês, visto que a
famosa formação tem a bastante útil duração de um mês.
Depois do contracto de seis meses, disse a oradora de recursos humanos da
empresa, o mais provável é irmos para a rua,
pois o trabalho, como é "sazonal", diminui bastante.
É isto, tem de se pagar e, com certeza, obviamente, ter dinheiro durante
um mês para sobreviver à formação paga pelo formando para um trabalho
que se só vai começar passado um mês.
Isto tudo, pois ainda não disse a coisa mais famosa,
aqui vem...: para um Part-Time!
E, quem estava interessado numa sala com quase 25 indivíduos?
Creio que todos, menos um ou outro que tinha alguma outra saída
deste absurdo.
Viva Portugal e a precariedade absoluta,
viva o mundo globalizado em que o pobre tem de pagar para trabalhar
e as grandes empresas não se dão ao luxo de formar seus trabalhadores
com o seu dinheirinho...que, obviamente, não é pouco.
Viva o rico que vive no alto de seu conforto e não compreende porque é que se queixam as massas.
(queixam-se? A questão é essa: é que já nem sequer se queixam! Isso é que é preocupante.)
Viva o turismo que impede o português de viver dignamente numa casa, apartamento,
inflacionando os preços imobiliários de uma forma exorbitante e por todo o lado.
Viva os turistas que andam por aí felizes da vida a dizerem que é tão bonito e barato aqui em Portugal
enquanto o trabalhador português passa por eles de cabisbaixo e como que com vergonha
de sua vida não estar a correr como sente que devia, podia.
Viva toda esta hipocrisia de não se entender porque é que a extrema direita
e a extrema esquerda e todas as extremas do liberalismo e de tudo mais estarem a crescer.
Não se fala disto, nem do povo, nem do assalariado básico,
nem da vida normal e comum de qualquer ser humano normal e comum.
Fala-se de tudo menos disto!
A normalidade hoje é a perversidade de tudo.
Decadente decadência de todo o mundo fugir do óbvio
que é o absurdo em que vive e vivemos todos.
Viva a idiotice do mundo em que tenho de viver!
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