Gostava de saber o que me guia...
Não é o coração
porque se agora o ouvisse
matava-me.
Não é o cérebro em si
porque perdido está de efectivo sentido
a esta vida e direcção.
Não é a pila, sexualidade,
porque assexuado fico
depois de por algum tempo
conviver com uma mulher.
O que me guia então?
Creio que é a escrita,
a possibilidade da escrita
e da invenção;
a reinvenção de mim mesmo
pelo largar a caligrafia
em ordem rítmica,
caderno e alma a dentro
e descobrir SEMPRE
alguma esperança, brilho,
concordância e serenidade.
Sei, desde cedo, que não fui feito para viver.
Vivo por teimosia
mas a minha alegria advém da escrita e criação.
A arte me dá olhos outros,
sensibilidades que me não são minhas
mas se tornam minhas por observação alheia.
Portanto,
é como se eu não fosse eu
mas um outro que aparece e desaparece e reaparece
pela arte e ofício de escrever a existência ao prazer
de tolerar a vida a algo que valha a pena viver.
Porque para ser mais um contemporâneo,
consumista e alma perdida deste mundo materialista
preferia me deixar ir, por vias da morte, para outro sítio.
É algo que Sinto.
E para o sentir
preciso escrever
e para escrever preciso sentir.
Máquina auto-criadora de si mesma sou.
Se sou humano
sou-o em parte,
a outra parte é qualquer coisa de além.
E que se foda a vida do corpo,
eu conheço a vida além dele
e faço dele carapaça de descoberta
à guerra acesa que é esta minha intuição.
Acorda a vida à visão do espírito
e esquece a confusão de viver
enclausurado num sistema
que vive de matar o humano que dele vive.
Sem comentários:
Enviar um comentário