quarta-feira, 12 de abril de 2017

Gostava de saber o que me guia...

Não é o coração
porque se agora o ouvisse
matava-me.

Não é o cérebro em si
porque perdido está de efectivo sentido
a esta vida e direcção.

Não é a pila, sexualidade,
porque assexuado fico
depois de por algum tempo
conviver com uma mulher.

O que me guia então?

Creio que é a escrita,
a possibilidade da escrita
e da invenção;
a reinvenção de mim mesmo
pelo largar a caligrafia
em ordem rítmica,
caderno e alma a dentro
e descobrir SEMPRE
alguma esperança, brilho,
concordância e serenidade. 

Sei, desde cedo, que não fui feito para viver.

Vivo por teimosia
mas a minha alegria advém da escrita e criação.

A arte me dá olhos outros,
sensibilidades que me não são minhas
mas se tornam minhas por observação alheia.

Portanto,
é como se eu não fosse eu
mas um outro que aparece e desaparece e reaparece
pela arte e ofício de escrever a existência ao prazer
de tolerar a vida a algo que valha a pena viver.

Porque para ser mais um contemporâneo,
consumista e alma perdida deste mundo materialista
preferia me deixar ir, por vias da morte, para outro sítio.

É algo que Sinto.

E para o sentir
preciso escrever
e para escrever preciso sentir.

Máquina auto-criadora de si mesma sou.

Se sou humano
sou-o em parte,
a outra parte é qualquer coisa de além.

E que se foda a vida do corpo,
eu conheço a vida além dele
e faço dele carapaça de descoberta
à guerra acesa que é esta minha intuição.

Acorda a vida à visão do espírito
e esquece a confusão de viver
enclausurado num sistema
que vive de matar o humano que dele vive.
 

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