Cerveja.
Cerveja é o rio dos deuses
do império do além
que sempre está perto
se te abrires a isso
bebendo-a.
Cerveja
é fluidez de leveza,
é caminho para a incerteza
com a elegância de ser fresca
sempre.
Cerveja ajuda-me a viver,
saúde-me à alegria e sofrimento
com os astros atentos;
fugir do estado louco da sobriedade
que me tão cansa
e para a qual não nasci.
Cerveja,
desde novo te tomo
e nunca senti que me quisesses mal,
algo que o cigarro que te acompanha
não possa, deveras, dizer o mesmo...
Cerveja,
li que os egípcios te bebiam logo
pelo pequeno-almoço
para dar azo a um bom dia de trabalho
nas temperaturas altas do Nilo.
Cerveja, existis desde antes de cristo,
ensinaste possivelmente ele também
a encontrar leveza na existência.
Cerveja,
não há melhor amigo
que aquilo que despertas em mim:
leveza, compreensão e uma leve intoxicação
saudável a meu ver e a meu ser.
Cerveja,
nasci vazio e me encheram de coisas.
Tu ajudas-me a encontrar a utopia
e vazio que preciso para me ser
novo, novamente, a cada momento.
Cerveja, tu compreendes-me
e fazes de meu cansaço
poesia e maneira outra de estar,
ouvir, olhar, até cheirar.
Cerveja, agradeço tua existência
por estares próxima da pobreza
- não há bebida mais barata -
e ofereceres a maior das riquezas:
um leve e elegante universo
paralelo de alienação.
Cerveja, contigo se pode viver
e falar, amar, inventar maneiras de ser.
Cerveja,
não és como o vinho que interioriza,
nem como outras bebidas mais fortes
que brutalmente alteram o estado de espírito.
Não, tu és elegante, barata e ancestral.
Cerveja, mistura-te eternamente
com meu sangue para o libertares
de peso emocional,
passado e dor de futuro.
Cerveja, conheço-te há tanto
e tanto de mim
é consequência de ti:
o que despertas em mim!
Cerveja, uma infinita noite
e um último golo
que vou para a cama
contigo pelos meus sonhos.
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