segunda-feira, 17 de abril de 2017

Enquanto permaneço ausente de ofício paradoxal de me observar vivendo
escutando o vento como mais que um, outro e nisto perfeita sintonia em saber
o que a vida me quer dizer, eu persisto em me redescobrir Essência.
Pois de um ao limite vai-se ao zero do ser apenas sentidos
e emoções do passado que realmente criaram este "estado"
que aqui vive, se cansa e alegra com e tudo da vida.
A lucidez que se atinge é vertiginosa e destrói razão à vida vivida,
persistindo apenas uma perplexidade com o suposto social, cultural,
da vida em si, como que, mundial.
Pertencer a uma cultura, país, é coisa inevitável se numa, num se fica...
Ora, minha consciência nem em humano se identifica,
é tudo imagens, sensações e emoções
mas basicamente intuição.
É sempre um Algo
que me mantém de pé,
a saber o que devo ou não fazer
e quando o posso ou não fazer.
Uma espécie de ordem maior que sigo
mas não faço a menor ideia do que é realmente.
Tem-me levado por caminhos sempre interessantes
e tem feito de mim um ser que afinal aprecio e admiro:
eu.
É a minha religião por assim dizer...
Ora, eu na verdade não acredito em nada
e vivo de me destruir absolutamente
para encontrar, além ego, uma voz
que perfeitamente vive em sintonia com o em redor.
É a "verdade", é a intuição.
Cheguei lá por vias de muita e muita solidão,
eremita caminhando por aí apenas procurando "isto".
Porque sempre me cansei com o mundo.
O mundo actual não me é nada
ou é ainda afinal o que me recuso aceitar
como a norma.
Nem é preciso mudar de tempo
basta de país ou cultura,
latitude
e tudo é diferente
e assim podes ser isso também
simultaneamente.
Mas isto apenas se e só se
estiveres apenas focado em ti,
queimando tudo e todo o resto
como limalhas de tua obra final:
tu mesmo descoberto por ti.
Uma espécie de círculo que te protege do resto
que não és tu.
Uma espécie de aura que inventas intelectualmente
para te protegeres do mundo e nisto
viveres livre, tão livre quanto é possível ser
dentro de ti:
consciência, respeito próprio
e disciplina individual.
Quando este mundo está perfeito,
fechado
(nunca o está realmente porque este eu é infinito)
 começa então o desafio de desbravar o mundo (exterior) sem medo,
perfeitamente seguro de enredo
porque as precauções são inertes à tua formação cerebral.
A vontade de amor,
a vontade de dar e dar tudo o que tens para dar
- porque tanto recebes desta máquina que criaste -
é das coisas mais impressionantes que pode haver na vida.
A solidão está lá,
absolutamente,
mas como "protegido"
a entrega é também absoluta
porque não há quem possa conseguir entrar
num círculo que tu mesmo criaste e sabes fechar completamente.
Mas quando o amor pára numa bela menina
que apetece abraçar, falar e outras coisas mais interessantes na cama
e sofá,
a "coisa" abre-se,
e tu queres que se abra,
tu queres porque já não tens medo
e acreditas "nisto" que agora vives.
Mas o curioso é que essa aura que criaste
vive de tua completa devoção e disciplina
que a mantém intacta e certa
em prol de viveres em ti e no mundo
absolutamente entregue e sem medo.
Mais tarde ou mais cedo o vácuo é maior
que a criação e começa a queda até às profundezas
dos teus maiores medos:
vulnerabilidade total.
Angústia, frustracção, depressão,
neuroses e infinitos diabinhos que antes gostavas,
porque estavas afinal em perfeito controlo de ti,
vêem te reclamar criança destruída por este mundo
e dizer-te que não passas de uma grande mentira,
uma grande falsidade de medos substituídos por evoluções
e contradições que tu próprio instruíste a te esconder deste mundo.
Porque no fundo, dentro, bem dentro de cada um de nós
há as grandes tristezas do puto que cresceu sem o auxílio,
ajuda ou força que merecia.
Há a questão de sermos todos uma consequência
de faltas imensas que houveram e foram passadas a ferro
pelo mundo, por si, pelo tempo, como se nada fossem,
mas agora somos "nós":
Eu.
Ora, eu gosto de ser responsável pela minha vida,
não tolero ser consequência de algo que eu mesmo não quis.
Daí a arte ser a minha máquina de resolução cognitiva
que me ajuda a tolerar esta vida
que me irrita e me enoja
mas quando equilibrado é
simplesmente perfeita e linda:
divina certamente.
Há que tratar do Eu.
Perdermo-nos em ordens de outros,
questões sociais, morais e mais é simplesmente inadmissível;
então, há que recuar para resolver e poder andar
afirmativamente para a frente novamente
sendo apenas Eu.
É preciso desafiar o mundo com esta possibilidade.
É preciso resistir à tentação de aceitar e não pensar.
É preciso viver a vida como se, sem esforço, a "verdade" fosse dita
e vivida.
Verdade essa que é apenas do "eu",
não de todos ou de outro também,
cada um com o seu.
Claro que esta verdade quando atingida com sinceridade
é praticamente universal;
quem não quer ser ele próprio?
Assim, com isto,
ganha-se uma responsabilidade enorme,
uma energia que deixa de ser só do eu
mas passa a ser do mundo,
porque o mundo,
universo e a vida
São.

Sejamos então.

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