sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Parece que nasci amaldiçoado pela incapacidade de partilhar o meu sofrimento.
Sempre me curioso ver sofrendo as loucuras da minha mente - feita neurose abstracta
e irracional que assola e alastra a todo meu racional e campo de visão - e os outros
me dizerem que estou com bom aspecto e tal.
Nasci maluco e incapaz de me relacionar directamente com o mundo real,
tem de ser tudo por dissimulação, imaginação, invenção de mim ao mundo.
Vivo num sei lá sítio, sem tempo e espaço, onde me alargo ao vento e sou ar.
Mais alto e denso - sem densidade, no entanto - olho os outros com a paz
de saber ser isto e não saber ser o que os outros me parecem tão bem saber ser.
Se minha arte e dom é ser abstracto, longe deste mundo embora que nele integrado,
porquê lutar contra isso?
Aliás, sempre que luto perco.
De uma ou de outra maneira perco...
Há qualquer força maior que me faz perder,
faz-me pensar no que tenho medo e me isolar do mundo que tanto demorei a povoar
com meus sonhos, danças, alegrias e simpatias.
Minha vida esquecida
me quero lembrar.
Lembra-te tu de mim por favor
pois ando tão esquecido de tudo isto
e de meu papel nisto de estar vivo.
Normalmente sou pensamento,
sei disso, mas em pensamento controlado
e consciencializado posso fazer da realidade
uma coisa maior e mais para mim e outros.
Mas agora parece que a realidade entrou em mim
em tom de pesadelo e eu, abstracto e transparente,
sou furtado de minha identidade a cada momento.
E o curioso é que só o mau entra...
Eu que via o mundo com a maior das alegrias...
Não sei deus meu.
Quero te ver novamente
pois a ordem que me reconhece vivo
está desistida de coerência e serenidade.
Meu peito não respira bem
e minha garganta presa
não quer amar ninguém
- aliás medo tem disso.
Bom, aguardo o momento
e tento abreviar sua chegada
pela calma de me deixar levar
e sentir para que tudo venha e vá
na instância da vida ser o que é.

(Porra, confuso com tudo isto!)

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