sábado, 25 de fevereiro de 2017

Por dentro de cada palavra há um ser que inova a alma.

Escrever para espantar medos
pois o maior medo é aquele irracional
de estar sempre a caminhar para e sobretudo a morte.

Sendo assim - sabendo disto - que se caminhe com alguma alegria,
percebendo os prós e contras de sermos quem somos
e além disso, ambicionar mais e querer aprender e ser mais.

Na honra do capacete preto
da aurora criança que fui
espero-me fazer um homem digno
de respirar o ar que a vida me dá.

Viver agradecido pelo pouco que se tem e dá
ser o mundo nosso
e com este viver em paz.

Encontro a donzela de meu sonho
a dançar quase que nua
com um pano nas mãos esticadas para cima.

Ela sorri para mim
e desvia o olhar maroto.

Eu escrevo-lhe a alma
coisa que para ela é natural
e para mim metafísico.

Porquê?

Porque lembra essa Mãe-Natureza
a quem busco consolação de meus infortúnios humanos
e de civilização.

Mas Mulher essa que me chama a atenção
e me desvia caminho da tensão necessária
à criação do próprio destino
é para ter cuidado...

Suas pernas são violoncelos
e sua anca um contra-baixo,
toda a sua maneira de estar é poesia
e mais que grande elegância de ar.

Gosto de te olhar sem falar
e saberes tu meus pensamentos de te desejar.

Ficas feliz com isso...

Quero redescobrir a honra antiga de meu sobretudo
que me escondia ao mundo.

Fantasma aceso de vida antiga e ancestral
reconhecida apenas por um fantástico Eu
reinventado por tamanha sabedoria que me deu ela,
a vida.

Fui hoje a Sintra, ou tangente a ela,
Malveira da Serra.

Tasca essa antiga que me andava nos pensamentos
encontrei-a hoje e bebi-a uma Sagres em comemoração
de tempos passados em que eu era apenas e completamente
escrita, isto é, invenção minha.

No passado de chegar ao futuro
e não ver presente assente,
todo o meu corpo treme de vida
mas não lhe encontro veículo ou via
que não esteja já gasto de vida passada.

Pois a única vida que existe perfeita
é a do presente.

Se tua rua não te deixa ser absolutamente o que sentes
então tens de mudar de rua, não é verdade?

Ou muda de pele,
sê outro para surpresa do mesmo.

Quem te conhece
se tu mesmo és maresia de teus pensamentos
densos?

Inventas aflições só porque,
na verdade, ó poeta,
tens medo de viver e ser fisicamente feliz!

Ela dá-te a mão
te leva a ir com ela
mas não sabe ela
que eu sou mais que o que ela vê
e sente...

Sem pretensiosismos
sou uma máquina de consciência
em perpétua criação.

Se qualquer engrenagem pára
pára este mundo meu
e fico desconhecido a tudo
e nisto perdido por sempre ser,
mais que tudo, lúcido.

As nuances e curvaturas de minhas ideias
só encontram paralelo nesse universo
que ninguém vê.

Amaldiçoado,
vivo de me encontrar fugindo.

E quando me encontro há alegria
e logo depois perfeita morte
para mais novo conhecer
e inventar.

Não há fim à imaginação
e por aí redescubro sempre o mesmo
viver.

E viver,
a vida natural de ser
e ver o mundo a existir
e as pessoas a falar
e as conversas de café
e o carro a passar:
isso é
o resto invento,
sou eu!
 

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