sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Quando de pequeno se reconhece o grande
e se sai à rua descobrindo - nu - toda a coisa que aqueça
não o corpo mas a alma.

Quando é o frio que não chateia mas o demais quente
que cansa a vontade de liberdade que nasce do desconforto
tão certo de apenas, pura e simplesmente, ter nascido.

Quando se teima em não estar bem com a vida
porque afinal se está tão bem.

Quando de ter tudo querer ter nada
para poder sofrer sozinho e sem razão
a desgraça de saber da felicidade máxima
ser encontrada ali, deitado no chão.

Quando se vive a correr para não distrair o ser
que pensa por nós
coisas lindas e distantes
nunca alcançáveis mas quase,
quase caralho!

Quando se vive tanta merda na cabeça
que a única coisa que apetece é dar um tiro
neste orgão idiota que só imagina e imagina
e fantasia coisas que não existem
mas se sentem e mentem mais que tudo no mundo.

Quando se quer ir para a cama,
por cansado estar,
mas o ideal de não ter lugar
e ter de o sempre, a cada momento, construir
nos faz adiar e adiar,
depois de muito cigarro e cerveja.

Quando se escreve tudo isto
e mais aquilo e nada, absolutamente nada
satisfaz esta alma que quer destruir tudo
para renovar, criar e sorrir ao mundo novo.

Quando tudo o que quero é aquilo que não procuro,
aquilo que não pode ser procurado
porque na verdade não existe
- necessita minha percepção, interpretação e realização.

Quando se é criador de si mesmo
e tudo o que há de riqueza primeira
é o passado, o sonho e o desejo.

Quando se vive nesta ânsia de a vida não chegar.



Precisa dar-se à morte o seu - pleno - lugar.
Lugar esse no centro da Vida.

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