É tarde ao cheio, carregar folhas de meu enleio
que singularmente são leves e desprovidas de importância
mas já que as guardo todas pesam como uma baleia azul.
A brisa passa-me ao lado e pouco a sinto,
a morte me está impedida por estar meio
que revoltado comigo e com a vida.
A coisa não passa, o tempo fica cheio,
conversa me não abre só descansa momentaneamente.
Oh, desgraça!
Que gosto de ser roda do tempo
brincando as seriedades da vida como uma criança
que não teme, não teme sua própria existência.
Falei ao avô de ontem a avó estar a morrer
e nisto me ele sorriu e disse que ia ter com ele.
Ok, isto de ser católico tem os seus prós:
quando morrer vais para o céu e lá te encontras com os teus.
Eu não, eu nem baptizado fui
e orgulhoso disso vivo minha vida querendo-a morrer
para tão demais a perfeitamente viver;
vibrando este acto como sobrenaturalidade divina e honrada.
Sei que o que me falta é escrever e acender
esta fogueira que me sempre tratou de todos
os mal-tratos nesta vida.
Ser sincero comigo aqui escrevendo
e me depois sendo,
relatando e imaginando vida ou morte
e sentindo-a perdida por aí
sem ter quem a compreenda
e nisto me sentir finalmente livre
- como ser alado -
porque por demais que me dê,
e me pensem conhecer por aí,
me muito mais conheço eu,
por becos, travessas, escadarias,
ruas e ruelas de meu ser.
Percebes?
Preciso que não me conheçam.
Ou melhor, preciso de me conhecer melhor
do que o que me dou a conhecer.
Quando me fico demais exposto por aí
parece que o outro me intercepta
e toca na ferida
de eu ser a cima de tudo um livro aberto,
uma alma em corpo,
uma idiotice física e pensada,
bem pensada.
Portanto deixai-me viver o norte,
a morte, o medo e a frustracção
pois estas as únicas coisas que guardam
deveras a real razão.
Afectos e amores são muito bons
mas se meu canto obscuro
não está sob controlo meu
são só chatices que querem entrar
e me acalmar
não acalmando
antes me fazendo fugir para mais longe
dentro de mim,
até me mais não conseguir chegar
e assim nunca disto me livrar.
Parece que sei do que falo, não é?
É que escrevo desde que me soube interior,
mente que fala recto e sem pudor,
inocente e ingénua também.
Quero as ordens maiores a cima
das dos outros e do mundo,
quero me sentir regente disto tudo
e depois - só depois - me deixar levar.
É que a vida é coisa que não me atinge
se eu não estou equilibrado aqui dentro.
Sei de quem morreu na vida e se levanta
e vai trabalhar ainda.
Sei que é muita gente
e que as próprias coisas de agora -
tecnologia, televisões, smart phones -
querem-te vidrado neles e não em ti.
Mas eu não quero ser assim...
É a minha única luta na vida, na verdade:
não me deixar levar por essas coisas que me impingem
e que desde pequeno sinto serem mentira, abstracção, perda de tempo.
Daí criei meu mundo e lá sou feliz.
Mas a ele não chego agora e isso me deixa perdido.
Perdido tenho de ir ao encontro
do encontrado que há em mim.
Dar-lhe a mão, ver-lhe a face
e sê-lo novamente
em honra de ser maior.
Em honra de ser apenas,
na verdade.
A vida e o mundo perturbam
esta e outras visões
mas são elas que nos mostram o caminho
à plena - insatisfeita - satisfação.
Porque o que eu procuro é a guerra,
a guerra de me sentir a viver.
Agora me sinto perdido
porque de demais conforto
pareço não ter de ser ou provar nada a mim
ou ao mundo.
Não se queira a calmaria.
Só a guerra guarda a paz da vida.
Só a tua, e só tua guerra.
(Larga os cães danados e deixa-os fazer merda,
não tenhas medo deles nem do que eles fazem,
eles te levarão a ti.)
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