Andar a suspeito do passado
chamo futuro à ordem grande
que me chama feito pedestal de destino
meu.
Logo tropeço em passo meu
e caio no lodo do desdém,
esquecer o presente ser aqui
a todo o momento
e o prezar a Única real profissão
que tenho e prezo.
Olho a janela e só me vem
diurna insatisfação de correr e correr
e não ver andar a coisa de me chamar
e eu só ouvir a canção de mim a me ser
e guiar pelas ruelas do futuro.
Falo à pedra e me não ouve,
falo à ave e nem a vejo,
falo a mim e não sou.
Porque só me encontro no apocalipse?
Porque só sou feliz quando não tenho nada
e nada tenho a ser?
Porque não posso estar com noção de ter lugar?
Guardo as pedras do caminho,
(todas!)
e elas me pesam.
Tenho de mandar à cara dos que passam por mim,
os que são deveras inutilidades impessoais.
Sou espírito,
não me canso de dizer!
- fala o velho meu
de bengala e cachimbo na boca
e mão.
Minha criança,
onde está nosso amor?
Quero te ver solta de pressupostos
e ver-te correr louca minha vida
gozando com ela a toda a força
fazendo de mim um idiota adulto que sorri.
É que é na loucura que encontro minha vontade,
certeza e alegria.
É na loucura que vejo meu caminho aparecer
por meio de física quântica cerebral
que tão prezo mais que o demais real.
É na loucura minha - e não dos outros -
que sinto poder existir em pleno,
sem nada a empatar, sem nada a parecer
só ser.
A calma cansa-me,
o conforto mata-me.
Tenho tudo
mas sinto que esse tudo me pesa.
E pesa porquê?
Porque sou assim,
me habituei assim a ser,
idiota que gosta de se queimar
e só assim gozar seu sofrimento em alegoria de viver!
Imaginar-me morto
correndo física a vida
e ver os outros - julgando-se vivos -
com suas preocupações tão banais
à morte.
Pois morte junta,
junta tudo e aceita,
aceita tudo.
A morte é o meu amor.
Como a noite,
não gera sombra
- te deixa como és, sombra e luz interior,
tudo, tudo interior!
E o que sai é consequência,
é desinibição, é palermice,
é bebedeira e cegueira da vida e dia
serem demais para tanta imaginária fantasia
de sentir.
A vida ser simples e quotidiana
é uma canseira.
Preciso duma faca no peito
para me pôr a mexer,
a sofrer,
para criar e dar
e pouco receber.
Mas do pouco faço caminho!
Elaboro destino.
O pouco sempre foi muito para mim.
Sempre dele inventei metástases
que se tornam símbolos e depois
estrelas-guia de meu trilho.
Quero um pouco de nada,
poder estar no nada,
não sentir nada,
nem ser nada.
Só um pouco.
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