quinta-feira, 27 de julho de 2017

Tão perto, tão longe
o pássaro pia.
Caminha o céu a ele
e ela foge pelo pensamento.
Não há coisa que o governe senão a teia de aranha que o desenhou há tanto.
Cai na teia meu filho e és comida para a aranha que criaste.
Sai da teia meu filho, vai viajar, ser outro noutro lugar.
Há maneiras de estar tão estranhas, tão curiosas e interessantes lá fora.
Maligno, na teia, o pequenino é comido pela aranha.
A aranha sempre esteve, está e estará lá
mas é a melhor amiga quando se está ao nível dela,
em pé e hirto, forte e destemido.
Ora se se tropeça e cai
logo a aranha vem e come
quem antes inspirava a viver em guerra e sonho.
Sai da sala, vai à varanda, conhece o cheiro do mar.
É Verão e acontece que hoje se sente bem na cadeira
a fumar um charuto e a beber um whisky. 
À noite terá plateia por onde deambular sociedade sua
com arte e destreza como quem toca todo o singular instrumento
de uma qualquer orquestra.
Mas não, cai de pé ao chão e morre.
Vem brisa, leva a alma dele a descansar e viver
na terra do nunca que ele tanto sonhou em vida.
Há coisas que a vida não tem e cansa ter de acreditar que tem aos outros.
Quem são os "outros"?
Para quê existirem os "outros"?
Não gosto de me sentir preso.
Oh, não gosto que me pressiones e penses que sou um qualquer que pensas.
Seja que eu vivo de me reinventar,
tão pesado estar nasci com que se não viver com a morte,
a aranha, o escorpião, a violência, a noite, etc
canso-me infinitamente de ter de pisar esta terra sem
constantemente estar a brilhar a ela.
Protege-te meu filho, protege-te dos cães cobardes deste mundo.
A aurora sonha-o agora, deus de quem não é,
certeza larga de quem um dia reconheceu perder
e daí, tudo para a frente conquistou com serenidade e alegria.
Oh, que o filho cresceu e o pai morreu
mas vive o avô dele e o pai do pai.
E a Mãe?..
Coração de quem não quer nada que se possa dizer com a boca.
Coração de saber de coisas que só sente.
Coração de já ter visto o mundo antes da civilização moderna
e o depois dela.
Coração poderoso por sua sensibilidade nunca posta em causa.
Haja o juiz, o advogado, o médico e o banqueiro
mas o que é aí o coração meu bem?
Haja quem faça de ser humano a derradeira e única profissão neste pequena e singela vida.
Haja quem de comer não precisar tanto mas muito antes viver
como quem, sem limites, imaginá-se mais do que pisasse a terra com descaramento.
Tua consciência a deliberar tudo, a tocar tudo, a saber tudo e a não poder dizer nada.
Pois quem ama como quem vive não pode dizer o segredo que o mais atinge.
Inventa-se a vida para não ter que lidar com os factores freudianos da humanidade.
Oh, escreve meu filho, escreve.
Tão longe está essa vida que sabes teres de ter...
Não há quem te possa negar a existência suprema.
Mas sem disciplina, respeito, humildade, eficácia e esperteza
não se faz o sábio andar a vida a ganhar dinheiro e, eventualmente, ter mulher e filhos.
São dores de cabeça inimagináveis aquelas de quem Pensa, Cria.
E esta coisa de estar a ocupar espaço à vida com pena de si
e desgraça alheia faz-me ter um ódio a mim...
Eu que sempre vivi me amando tão naturalmente como nada neste mundo,
nem sequer a natureza, creio, chega a esse nível.
Pôr em questão a própria vida é coisa especial,
coisa que não é para toda a gente...
Ora, a vida há de aí andar,
há de andar por aí,
algures.
Viva, boa tarde, como está?
Está tudo bem, venho de casa para o trabalho e não sei o que faço mais,
se compre um carro ou um fogão novo para a minha mulher. 
Ora, estava pensando mesmíssimamente na mesma coisa, já viu você?
Cenas.
Explodir ou implodir,
algo que tenha de ir meu amor,
algo que tenha de Efectivamente IR!

(Não fui feito para viver esta vida)

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