Mais vale beber até encontrar vida
do que viver morrendo sem beber,
sem encontrar vida, sem encontrar
o além daqui e esta chatice de estar vivo.
Não sei quem me fez assim, se a família,
se o mundo, se a minha cultura, se amigos,
amores passados
mas o que há de se fazer quando se vive
em sofrimento? É bom que se faça dele estrume,
cinzas para que algo novo e bonito possa crescer
calmamente em direcção à luz.
Nunca soube a razão desta minha luta impossível
e interior,
esta minha razão de viver torto,
ao contrário do que os meus olhos vêem por aí.
Eu sou do contra apenas porque desgosto deveras
do mundo que me viu nascer, que assisto em ver
e que afinal, de forma penosa, vivo.
Mas sempre que escrevo numa tasca de velhos
a olhar o mar, o rio, a coisa rola, a coisa se faz
com alguma alegria e infantilidade que me regozija
um pouco a alma caída.
Não sou de facto de estar aí a dar a minha luz a quem passa,
só o faço quando a tenho demais e me cansa ela a mim.
Normalmente sou sombra feita em ferro fundido por pensamento,
morte integrada, consciencializada em vida.
A ausência de luz da morte dá-me certezas, calma
e discernimentos que nunca conheci na luz,
pois a luz,
neste mundo,
evidencia demais a merda que anda por aí
e eu deveras me tomo demais em conta
para perder minhas atenções em distracções
improdutivas e deveras desconstrutivas.
Sou do além que só sei se criar.
Se me caio na realidade por um episódio qualquer
me logo odeio e desprezo,
vida tão física e desconcentrada
que nada pode vingar no além conhecimento
de, vivos e mortos, estarmos neste mundo sem o saber porquê.
Acontece que a cada dia que vivo
morro mais um pouco
e esse conhecimento,
por mais estranho que pareça,
me alegra um pouco.
É como se meu deus fosse deveras a morte e apenas.
Tudo que vá muito além dela
me cansa e distrai e me pica a autoridade brutal
de ter de ser real para com ela e não necessariamente
para com meus contemporâneos.
É preciso além quando não se consegue sentir o aqui.
É preciso ir além para descobrir
o novo destino dos pesadelos
virados sonhos em tom de quem sorri
de seu mesmo sofrimento.
Como posso eu alguma vez explicar minha vida a vós?
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