Sigo acreditando na humanidade
embora a veja despedaçada por aí,
pagando para viver.
Fora a desgraça filosófica
e a carga ancestral desta raça,
já que a ela pareço pertencer
quero a toda a força fazer-me pertencer
a ela,
fazer ela merecer existir comigo
e eu com ela.
Humanidade, ser humano,
ser que vive com inteligência,
vivendo dela se matar em angústia
e frustracção e distracção
porque a energia vital da vida está distorcida.
Corro eu a ela, vida minha, vida dos homens
que pisavam o chão e caçavam o que comiam,
homens e mulheres que viviam longe de vigilância
e tanta podridão atenta aos actos da vida séria.
Nasceste para morrer e tudo o que te passa pelo caminho
é intruso à vida absoluta que sentes bem dentro.
Oh, ignorância plena desta vida que me frustra,
ignorância de não conseguir gritar - a plenos pulmões -
pó caralho tudo o que é intruso à minha visão!
Direito a ser louco num mundo de loucos,
direito a manifestar absoluta ausência de lar
quando tanto de meu mundo não reconhece humanidade
onde pisa agora.
Quero andar pela rua como vagabundo,
conhecer em cada sorriso mudo um mundo,
em cada olhar uma certeza de um lugar de esperança,
crença, aceitação e raça
que além de descriminar afirma pertença
a algo maior e mais belo
do que o que por aí vejo se rastejar
com autoridade perversa.
Ovelhas mansas que se vestem em peles de lobo,
eu sou lobo guardando-me nu no quentinho da lã de ovelha.
Sabem lá os gritos que já uivei só,
nas montanhas de ninguém,
consciência límpida de ver o céu
como alguém há milénios o viu
como mistério e certeza de algo maior que o "eu"!
Essa consciência é o que mantém o espírito
a se coincidir com o humano,
sem o espírito o humano é bem pior
que o animal,
acredita.
Vejo-os por aí, sem rumo
- sendo eu um, mais que um hoje em dia...
Mas ainda, ainda
mantenho uma certa loucura
que me permite saber que estou perdido,
que estou não seguindo meu ritmo,
minha dança, meu império,
minha solidão e meu amor.
Resta-me sempre essa loucura,
essa vontade de perder tudo que antes ganhei.
Porque sei, sei que sei algo bem maior
do que o que pode ser identificado como meu.
Sei aquilo que não existe,
sei aquilo que existe só e absolutamente em mim.
E por tão absolutamente isto ser
sei "isto" existir em todos nós.
Oiço Canto da Meditação
de mais uma iluminada deste mundo
e por isso e nisto
persisto em querer acreditar
nesta espécie a que afinal pertenço:
humano, humanidade, ser humano.
Tanto do que falta a esta espécie hoje em dia...
(Não há artista que dê sua vida pelo ideal de existir
essa raça em força neste mundo novamente...
alegria,
há outro dia!
nasce da morte a vida nova)
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