segunda-feira, 26 de junho de 2017

Há um dado momento onde existir pesa.
E pesa quando disso se tem noção e lucidez
suficiente para esmagar a sensação.
Então, a saída está sempre na reconstrução.
Seja reconstrução do eu ou do ambiente,
situação ou companhia.
Há que manter a lucidez longe desta vida
pois demais lucidez esmaga a vida.
E lúcido que sou, tudo me angustia um pouco
se me estou centrado na origem das coisas.
Para me alegrar tenho de me enganar constantemente,
tenho de usar uma máscara que sei não ser
e ver reacções alheias que lembram,
efectivamente, o que se guarda em mim
e em todos nós por detrás da máscara.
Sem máscara a vida ou é divina
ou absolutamente angustiante.
Alguma lucidez faz falta,
pois sem lucidez não se faz caminho próprio
afinal.
Mas tremenda lucidez que me veio de criança,
nascimento, família também,
essa tem de estar longe,
fugir dela diariamente
é, em parte, o meu objectivo de vida.
Sempre vi a vida como uma seta,
como um tiro lançado no escuro
que me guia sempre em frente,
ileso de problemas reais
e superficiais a esta grande visão minha.
Viver à porrada em frente tem sido
o que me guarda tranquilo cá dentro,
sempre imaginando o futuro
com realizações do passado.
Vida essa que se quer conseguida
vem de muito pensamento, tempo e espaço,
tranquilidade para contigo mesmo.
Se não vives em paz contigo
estás fudido.
E se é um espaço, um ambiente,
uma circunstância que te assim mantém
então disso te tens de largar
e buscar novo espaço onde te ser
apenas tu, só e vazio.
Vivo o meu dia-a-dia como uma repetição,
não estou aberto à novidade nem a nenhum
boémio serão.
Tento mas não consigo.
Quando me farto de um sítio
e o que ele desperta em mim
a única solução é sair,
fugir para um novo sítio conhecer
e me ensinar a ser novo ser.
A arte de viver é ser nómada de pensamento,
nómada de saber ir ao passado e passear
por lá, pelas viagens, amigos, amores,
tristezas, alegrias e dissabores.
Se estás sedentário tanto de espaço físico
como de espaço mental
então és uma bomba sempre prestes a explodir.
Não há saída a isto senão a minha saída
de jogo deste sítio.
Sei disto há bastante tempo...
Tenho sido fantasma,
sei que no futuro não vou lembrar esta fase,
vai estar toda ela dentro de uma nuvem de
ausência minha.
E eu não gosto de estar ausente desta minha vida...
Se estou a sofrer mas a criar, a partir disso, saída,
muito bem
mas se sofro e não crio, nem recebo, nem aprendo,
nem ensino, nem partilho,
oh que se foda a vida e este repetido jogo de pagar para existir!
Acho que a vida me deve algo,
me deve minha existência cristalina ao lado dela,
dentro dela.
Mas sei perfeitamente que estar quieto à espera disto
é ridículo e idiota e inconsequente.
Sei que tenho de ir, buscar a descoberta de meu sentir.
Sentir algo novo a cada momento
e com isto reagrupar meus pensamentos de passado
para gerar futuro em condições, coerente.
Por agora vou ficando,
preso às burocracias e ao dinheiro
e aos potenciais ajudantes de um futuro
material mais capaz.
No entanto, sei que não sou de momento nada,
até me surpreende as pessoas me verem
e responderem.
Fantasma.
Assim sou quando me canso de viver...
(mas morrer não vale a pena pois sempre sei
existir muita vida além de mim e de tudo isto que aqui
sinto). 

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