Andei hoje por Lisboa a pé!
E não uma qualquer Lisboa
mas a Pombalina Baixa, o Charmoso Chiado, o ecléctico Martim Moniz
e o Boémio - mais que demais turístico, hoje em dia - Bairro Alto.
Digo "andei hoje" porque deveras tenho mais andado de motocicleta
e esqueço que minha mente e alma vive a cidade de Lisboa acimamente quando a pé.
E não é coisa fácil para mim de dia andar esta Lisboa
pois tanta beleza e misticismo se perdem no frenesim do trabalho e turistas.
É muita coisa!
De noite sim, de noite esta cidade renova-se à arte de ser,
apesar de tudo e principalmente, humilde e terrena.
Tão terrena que se torna astral,
aldeia voadora de minha poesia.
Fui ver se encontrava uma caveira
para meter ao pulso
- lembrar-me que a morte próxima,
aqui mesmo, faz da vida uma coisa mais intensa
e deveras até simples.
Não encontrei.
Fui a três, quatro sítios
mas ou fechados ou não do jeito que procuro.
Não interessa.
Ficou o caminho percorrido.
Vi a cidade de meu encanto novamente
como peão que sou,
com todo o anonimato que aprecio.
Claro que vi e me viram
caras conhecidas
mas de resto mantive o pensamento
em meditação com ela,
a minha Lisboa
que me ensina e é
- eu discípulo dela.
Por vezes,
para curar a solidão e este meu cansado pensamento,
basta andar estas ruas
perdido e encontrado nisso.
Falar ao do lado
e ser como quem não quer a coisa.
O Rossio cheio de gente,
os eléctricos, muitos, parados na rua do Loreto
e na rua Vítor Cordon condicionavam o natural trânsito
mas mesmo assim os turistas se empoleiravam no veículo
e tiravam fotos com amigos e família.
Cansado deles,
dos turistas.
Quando ando por aí
é bom que me saiam da frente
e não estorvem.
Espero que esta bela Lisboa
não se torne uma Barcelona.
Que chegue lá perto eventualmente mas
mantenha a soberania de ser autêntica, natural
e como que simples na sua imensa complexidade.
Que se mantenha uma cidade de poetas e loucos.
A minha sanidade mental equilibra-se com esta cidade.
Então, renova-te de praças, ruas, avenidas e prédios
mas mantém-te igual.
És linda Lisboa.
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