terça-feira, 16 de maio de 2017

É um tamanho desperdício viver cá dentro
mas depois logo vejo que sem dentro o fora
é despersonalizado e nada conhece de ti.
E eu quero sempre ver o mundo como um reflexo
do eu que ambiciono sempre ver crescer e ser ele.
É então uma guerra acesa mas silenciosa que se vive aqui
dentro.
Fazer dele, eu e eu, um ele maior que eu.
Um jogo bipolar de arte, amor e conhecimento.
Um jogo esquizofrénico de tudo o que fiz até hoje
foi sempre a plena competição entre os meus eus.
Tentar ser maior que eu, e eu só, é o derradeiro propósito
desta minha pequeníssima vida.
E quando olho e me perco em distracções dos outros
ou do mundo, ou uma exigência social, material, etc
me logo canso de lógica e sobriedade e lucidez.
Porque vivo eu de plena perfeita compreensão
do sub-consciente e muito menos dessa maneira de estar
e compreender o teu lugar na vida como só mais um
pagador de impostos e de roupa e tal.
Vivo e sempre vivi além e quero me manter como tal
se o não consigo, começo nisto a me repetir
e a estorvar a arte e o leitor e o tempo
com esta conversa sem fruta e sem sabor...
Mas escrevo na mesma porque me propus a isso agora!
Minha visão turva tem saudades daqueles meus olhos de menino
que via tudo com uma curiosidade imensa e sincero amor pelo desconhecido
sempre sem medo ou preconceito.
Viver em paz com o mar, as gaivotas, o luar,
estar longe da cidade para a poder reorientar.
Saudades tuas meu filho.
Filho esse de quem nasci e de quem sou pai,
irmão e tantas outras coisas...
A aurora do singular individuo é saber
que em si existe o universo
e se algo entra nesse universo
que não lhe é de essência
põe em questão.
Pôr em questão é sempre bom
mas há limites quando a intuição
sabe e leva o próprio à alegoria
da consciência suprema
de poder morrer a qualquer momento
já que a vida sente-se como divina.
Há tanta beleza neste mundo
que não pode ser travada.
Há tanta beleza neste mundo
que deve ser escutada.
Há tanta beleza neste mundo
que se deve trazer para dentro
e só isso ouvir e viver.
Cai o mundo
- que o vejo cair -
mas não cai o sol,
nem o céu,
nem o mar,
nem os pássaros
que sabem do ar o seu lugar.
Eu jurei-me existência nessa plena consciência
mas por fruto de repetição, estupidez e distracção
me esqueci disto.
A única coisa que me conhece
e eu sei saber e amar,
é esse silêncio que verdadeiramente conheci
em olhar o horizonte,
com o mar e céu em sintonia azul,
continuar pleno
para sempre e infinitamente
em frente,
sendo o desconhecido
a única coisa a despertar
em mim
vontade de viver.
Nesses momentos de meditação
descobri ser,
além de eu,
a consciência de minha visão
e meu entender
do que a vida me queria dizer.
E ela me disse tanto....
Tanto que a qualquer momento
morrer seria uma espécie de dádiva
pela simples noção de gratidão e consciência
de que a vida se deu a mim.
Amar a vida
é poder fazer dela
uma dançarina que espanta a morte
e infortúnio e brinca o sofrimento
à noção de conhecimento e entendimento.
Assim o mendigo é mais ilustre
que qualquer rico.
Assim o rico é só mais um ser que morrerá
e nasceu.
Assim a questão da vida
não é o dinheiro mas o tempo.
Assim a vida é tão bonita
que por vezes - muitas -
apetece deixar ir,
morrer.
E ao deixar-te morrer por ela
te vês sempre e sempre
te rejuvenescer na graça dela,
na absoluta certeza de que estás vivo ainda
e completamente por causa dela.
Então sim, a vida é uma mulher,
e deus te olha dos céus
resignado a esta tua consciência
de que encontraste ela
sem precisar dele...
Filho da mãe
e o pai se verga a ti
como filho maior,
filho único.

Filho teu
e pai és dele agora.

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