quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Demasiados eus tenho eu
neste espelho de me observar sentindo
o que sou a dado momento.

De universo alado
- assim de fantasia -
descubro tanto cá dentro
que o de fora se perde em maresia.

E volta o encontro a ele
e esbarro distraído
que estava no meu.

De se não mexer
mexe sempre algo
porque a vida teima
em não parar.

Necessidade de saber,
é preciso estratificar,
organizar.

Mas se mexe um dedo
a coisa muda
e já nada faz sentido
do que se fez sê-lo
naquele momento.

E viver, mais do que isto
que escrevo,
é deveras arriscar
por planetas amigos e desconhecidos.

Já por dentro descobri o centro
daí não ser sábio ter medo de me descentrar
por aí, por lá,
não é?

Na verdade
esqueço a cada instante a vida
para estar aberto à sua graça,
ao seu ínfimo detalhe.

Mas isto só preza a contemplação,
a escrita e a compreensão.

Rios de meus pais,
infância e história pessoal.

E o oceano?

Há lá a desaguar?

Pois que assim seja
se algum meteorito me rebentar a coerência.

Adio-o mas sei que vem
e, "por trás", é bem vindo.

Sou menino ainda
nestas vestes de homem moderno
e cínico.

Insensível àqueles que ontem
andaram à pancada no Intendente,
enquanto parte da gente do grupo que vinha comigo
foi lá, foi lá falar - parar o distúrbio. 

Mas qual distúrbio não vi
pois não me era a mim nada.

Que justiça me compete de tal pancada
quando quem começou ela foi o que depois estava no chão
a levar - aquele que eles, os meus compatriotas, julgavam a vítima...

Assim, muitas vezes, agir fora de ti
é não perceber a responsabilidade prenhe de cada um.

Deixai,
deixai o distúrbio acontecer até ao fim
- assim digo e creio.

A coisa no fim dá sempre em compreensão,
em resolução, em descontracção.

Qualquer coisa que sempre tem
continuação.

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