Demasiados eus tenho eu
neste espelho de me observar sentindo
o que sou a dado momento.
De universo alado
- assim de fantasia -
descubro tanto cá dentro
que o de fora se perde em maresia.
E volta o encontro a ele
e esbarro distraído
que estava no meu.
De se não mexer
mexe sempre algo
porque a vida teima
em não parar.
Necessidade de saber,
é preciso estratificar,
organizar.
Mas se mexe um dedo
a coisa muda
e já nada faz sentido
do que se fez sê-lo
naquele momento.
E viver, mais do que isto
que escrevo,
é deveras arriscar
por planetas amigos e desconhecidos.
Já por dentro descobri o centro
daí não ser sábio ter medo de me descentrar
por aí, por lá,
não é?
Na verdade
esqueço a cada instante a vida
para estar aberto à sua graça,
ao seu ínfimo detalhe.
Mas isto só preza a contemplação,
a escrita e a compreensão.
Rios de meus pais,
infância e história pessoal.
E o oceano?
Há lá a desaguar?
Pois que assim seja
se algum meteorito me rebentar a coerência.
Adio-o mas sei que vem
e, "por trás", é bem vindo.
Sou menino ainda
nestas vestes de homem moderno
e cínico.
Insensível àqueles que ontem
andaram à pancada no Intendente,
enquanto parte da gente do grupo que vinha comigo
foi lá, foi lá falar - parar o distúrbio.
Mas qual distúrbio não vi
pois não me era a mim nada.
Que justiça me compete de tal pancada
quando quem começou ela foi o que depois estava no chão
a levar - aquele que eles, os meus compatriotas, julgavam a vítima...
Assim, muitas vezes, agir fora de ti
é não perceber a responsabilidade prenhe de cada um.
Deixai,
deixai o distúrbio acontecer até ao fim
- assim digo e creio.
A coisa no fim dá sempre em compreensão,
em resolução, em descontracção.
Qualquer coisa que sempre tem
continuação.
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